Mais Esportes

PETECA

Criada em Minas, Peteca continua sendo muito praticada no estado

Porém, não conquista tanto os jovens como antigamente

postado em 21/05/2017 09:41 / atualizado em 21/05/2017 09:48

Ramon Lisboa/EM/DA PRESS
Da areia para a rua, daí para a grama, até chegar às quadras. A peteca como esporte tornou-se uma paixão em Minas Gerais na década de 1970. A ponto de tornar-se referência para a venda de imóveis. Um prédio para ter sucesso tinha que ter uma quadra de peteca em sua área de lazer.

O Iate Clube, antes da formação da Lagoa da Pampulha, foi o precursor em 1943. Depois veio o Minas. A partir daí, já nas décadas de 1960 e 1970, chegou a vários outros clubes de BH, entre eles Samarkan, Olympico, Ginástico, Recreativo e Mackenzie. O passo seguinte foi a expansão pelo interior mineiro. Surgiram também na capital mineira os primeiros torneios, com destaque para a Olimpíada Panda e Copa Itaú. Em 1987, o primeiro Campeonato Brasileiro foi disputado em BH e, a partir daí, o esporte sai do estado e cresce em todo o país.

Um mineiro em especial foi essencial para o crescimento desse esporte. Em 1973, Cícero Cerqueira Pereira Júnior, hoje com 76 anos, foi convidado para organizar um torneio de peteca no Iate. Para conseguir realizar uma competição, ele teve que criar as primeiras regras, já que não havia qualquer regulamentação quanto a isso.

“Jogava-se na quadra de vôlei, nas medidas desse esporte. Não havia uma regulamentação para os jogos, nem de tempo ou de sets. Resolvi então criar algumas normas, que acabaram se tornando as regras. As partidas eram de 20 pontos. O primeiro passo foi passá-las para três sets de 15 pontos. Isso deu uma lógica ao jogo”, conta Cícero.

Mas haviam outros problemas, como por exemplo, a base da peteca, redonda, de borracha ou ainda de couro, ser escura. A solução, segundo Cícero, foi bem simples: “Era preciso melhorar a visualização do objeto para o jogador. Coloquei, então, uma fita branca nessa base. Pronto. Ela já podia ser vista à noite”, explica.

As regras evoluíram. O jogo ganhou um tempo de 30 segundos para cada ponto. Hoje, são 20 segundos. Quando o tempo estoura, o time que recebeu o saque ganha o ponto. Essas mudanças são criticadas veementemente por Cícero.

“O jogo perdeu o sentido. Hoje, em 20 segundos, se prioriza a defesa. Não há mais a precisão do ataque. Isso é uma perda irreparável. O jogo de peteca é pra ser jogado e não apenas defendido” afirma.

De pai, e mãe, para filho


Está sendo disputado em BH o Aberto Mineiro de Peteca, que é para amadores e serve de aquecimento para a 22ª Liga Brasileira de Peteca, que será para profissionais, de 26 a 28 de maio. Os jogos estão sendo realizados no Minas Shopping em duplas masculinas, femininas e mistas. Um exemplo de que a paixão pela peteca está no sangue é a dupla formada por Valdete Taveiras, de 54 anos, e João Pedro Henrique Taveiras Souza, de 26. Mãe e filho, juntos, são donos de 12 títulos brasileiros. João é decacampeão e ela bicampeã.

“O João joga peteca por minha causa, desde a barriga. Eu estava grávida dele e jogava. Aliás, pratico o esporte há 30 anos”, conta Valdete, que brinca dizendo que o filho nasceu com uma peteca na mão. “Que ele seria um petequeiro, tinha sido programado”, brinca.

João começou a praticar aos 7 anos. Mas esta é a primeira vez que disputam um torneio juntos. “Minha mãe me chamou. Aliás, ela não chamou, apenas comunicou que a gente estava inscrito. Topei na hora.” O fato de não terem atuado juntos anteriormente, segundo ela, é por causa de uma regra da Federação Mineira de Peteca (FMP). “Nunca nos deixaram jogar por causa de nossos rankings. Mas, como o Aberto é um torneio que permite amadores, deixaram”, diz Valdete.

Outra prova de como a peteca é eclética e popular é a dupla formada pelo músico Alexandre Barros, de 43, ex-campeão brasileiro, e pelo consultor de vendas, Maurício Geraldo Tramm, de 46. Na reserva, integra a equipe o comerciante Eustáquio Queirós, de 52. Alexandre toca oboé, violino e órgão na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e começou a jogar em sua terra natal, Montes Claros.

“Vim pra BH e virei parceiro do Pimentinha e do Rodrigo Prates, esse meu parceiro no título brasileiro. Aqui é meu momento de lazer.” Do outro lado da quadra, os adversários Luiz Eduardo Maia, de 57, e Rogério Pinheiro Alves, de 40, o “Spider”, que jogam há menos de cinco anos. “A gente entrou pensando que era um torneio amador. Quando vimos, só tinha fera. Pra se ter uma ideia, perdemos na primeira rodada e já estamos eliminados. Mas esse jogo de hoje (quinta-feira) serve de aprendizado. Isso é o mais importante”, disse Luiz Eduardo.

QUEDA DE PRESTÍGIO


O presidente da Confederação Brasileira de Peteca (CBP), cuja sede é em BH, é o mineiro Márcio Pedroso, de 65. Segundo ele, a popularidade do esporte caiu entre os jovens. “Hoje, em Minas Gerais, o crescimento é maior no interior, especialmente em Uberlândia – principalmente por causa do Praia Clube –, em Montes Claros e Sete Lagoas. Na capital, a prática dos chamados ‘máster’ é muito maior que a de jovens”, conta Márcio. Ele diz que os clubes atestam a queda da frequência do jogo entre os jovens. Segundo Márcio, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio Grande do Sul cresceram muito tecnicamente e, por isso, os mineiros não podem mais ser apontados como favoritos nas diversas competições.