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Entrevista: Mineiro Marcelo Melo ignora pressão por dupla fixa com conterrâneo Bruno Soares

Tenistas já pensam nos Jogos Olímpicos que serão do Rio de Janeiro em 2016

postado em 16/09/2014 10:43 / atualizado em 16/09/2014 10:55

Gazeta Press

Divulgação/VIPCOMM

Não é recente a boa fase do brasileiro Marcelo Melo no circuito mundial de tênis. Especialista em duplas, ele está entre os melhores da modalidade há algumas temporadas, mas em 2014 não deixou a lista dos sete melhores do ranking mundial, fato inédito em sua carreira.

Isso porque não pôde jogar toda a temporada ao lado de seu parceiro fixo, o croata Ivan Dodig, que também se dedica à carreira de simples e ficou três meses afastado do circuito por uma contusão nas costas. Neste período, Melo atuou ao lado do austríaco Julian Knowle e do israelense Jonathan Erlich. No início do ano, ainda formou parceria com o espanhol David Marrero, um de seus adversários na recente disputa da Copa Davis, para disputar o ATP 500 do Rio de Janeiro.

A facilidade de adaptação também explica como ele e o amigo Bruno Soares se tornaram uma das duplas mais temidas da Davis apesar de já não formarem parceria fixa no circuito. Na semana em que o Brasil voltou ao Grupo Mundial da competição, derrotando em casa a poderosa Espanha, Melo concedeu entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.net.

A parceria com Bruno Soares deve ser retomada em alguns torneios da próxima temporada, pensando já no desempenho da dupla nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, em que devem ser favoritos à briga por medalha. Os dois mineiros, no entanto, se conhecem tão bem que esperarão pelo menos mais um ano para decidir se voltarão a formar parceria fixa antes das Olimpíadas em casa, apesar da pressão feita pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Você acabou de chegar à semifinal do Aberto dos Estados Unidos, o que te levou à quinta colocação do ranking mundial, igualando sua melhor marca. Este é o melhor ano de sua carreira?


Marcelo Melo: Esse ano está sendo muito bom. Consegui me manter entre os dez melhores do mundo desde o começo da temporada e isso logicamente vem com meus resultados. Infelizmente houve um período de dois ou três meses em que não pude jogar com o Ivan porque ele estava machucado, mas consegui jogar bem com outros parceiros, fiz até quartas de final de Wimbledon. Normalmente o ano seguinte ao que você alcança alguma coisa é mais complicado, mas estou lidando bem com isso.

Seu desempenho neste ano rendeu 366 mil dólares de premiação, o que te fez chegar a 2 milhões na carreira. É uma meta que você perseguia?


Melo: Eu nem acompanho muito porque essa é uma premiação da minha carreira inteira, desde os 17 anos de idade. São 13 anos de carreira, se você for diluir com todas as despesas, acaba nem pensando tanto. Tem imposto. Muita gente acha que tenho esse dinheiro na conta, mas se você for ver os gastos...

Você citou que precisou jogar com parceiros diferentes durante o ano, já que o Ivan Dodig se contundiu. Quais foram as dificuldades nessas mudanças de jogadores ao seu lado?


Normalmente é melhor você estar com o mesmo parceiro. Mas eu já venho meio que acostumado com isso porque estou com o Ivan tem dois anos, esse é o terceiro. Sempre precisei fazer isso. Eu até que me dou bem. Entendo que, por mais que seja muito sério, às vezes entro para descontrair, me divertir, e acabo aprendendo com as outras várias opções. Jogo com cinco caras diferentes, vejo cinco coisas diferentes. Isso acaba somando para quando eu volto a jogar com o Ivan.

Mesmo assim, você e o Ivan Dodig estão na sétima colocação do ranking mundial de duplas no ano, dentro do grupo de classificação ao ATP Finals. A vaga se tornou uma meta para o restante da temporada?

Depois do vice-campeonato do Masters 1000 de Toronto começamos a pensar muito mais. Até lá estávamos com poucos torneios jogados. Mas fizemos final lá e agora com a semifinal do Aberto dos Estados Unidos isso voltou a ser nosso principal objetivo.

Vocês somam 2.910 pontos no ranking do ano. Quanto vocês acham que precisam alcançar para garantir a vaga? Quais os torneios mais importantes para isso?

Com uns 4 mil pontos fica com a vaga. São torneios grandes que vamos jogar agora na sequência: o Masters 1000 de Xangai, que a gente ganhou no ano passado, o de Paris, depois tem o ATP 500 da Basileia. Então são mais uns 4 mil pontos para serem disputados e a gente tem boas chances de se classificar caso continue jogando como está.

É provável haver duas duplas com tenistas brasileiros no ATP Finals uma vez mais. Mesmo com a boa fase duradoura da sua parceria com o Dodig e do Bruno Soares com o Alexander Peya, permanece a ideia de você e o Bruno voltarem a jogar juntos no circuito antes dos Jogos Olímpicos-2016?

Ano que vem vamos jogar com certeza alguns torneios, não como uma parceria fixa, mas já pensando nos Jogos Olímpicos. Provavelmente faremos isso nos torneios menores, os ATPs 250.

O COB já manifestou que queria ver vocês juntos. Esse tipo de manifestação ou pressão incomoda?

 

Obviamente eles têm razão de querer que a gente jogue mais tempo, mas também tem o outro lado: nos conhecemos há muito tempo, jogamos juntos três anos, somos da mesma cidade e treinamos quando estamos lá. Às vezes tenho meu compromisso e o Bruno tem o dele, mas mesmo assim a gente consegue jogar a Copa Davis, as Olimpíadas e também alguns torneios. Quem sabe em 2016 joguemos todo o início do ano juntos. Mas não acho que iria melhorar tanto assim passarmos a próxima temporada inteira juntos.

O sucesso seu e do Bruno aumentou bastante a exposição do tênis de duplas no Brasil. Você acha que está em um nível satisfatório?


A gente pode melhorar ainda, mas já está bem melhor do que no passado. Muito mais jogos de duplas estão sendo transmitidos. Poderiam agora começar a passar alguns jogos de primeira rodada dos torneios grandes para depois passar aos menores. E com isso você vê o resultado dos meninos. Os juvenis ganharam Wimbledon, as Olimpíadas da Juventude, fizeram final do Aberto dos Estados Unidos. Mostra que é importante o trabalho que eu e o Bruno fazemos.

Como você disse, o Brasil foi vice-campeão da chave juvenil do Aberto dos Estados Unidos com o Rafael Matos e o João Menezes. O Orlando Luz e o Marcelo Zormann foram campeões em Wimbledon e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude. Qual a importância desses resultados e como é a relação deles com vocês em uma semana como da Copa Davis, em que esses jogadores integram a equipe?


Eles estão jogando muito bem e agora vieram os resultados. É bom para manter a motivação constante de querer sempre aprimorar. Por mais que seja juvenil, isso é importante. A gente tenta conversar sempre com eles porque daqui a pouco vão chegar à fase de transição, que é complicada. Vão começar a ter um pouco mais de problema, os adversários serão mais experientes.

A única parceria já classificada ao ATP Finals é a dos irmãos Mike e Bob Bryan. Recentemente eles venceram o Aberto dos Estados Unidos pela quinta vez e chegaram ao 100º título da parceria. Imaginou que um dia veria uma dupla chegar a esse número de conquistas?

 

No início da carreira, nem eles pensavam nisso. Muitas coisas vão acontecendo e você passa a pensar, como eles fizeram com essa meta de 100 títulos. Quando você começa a jogar duplas, nunca vai imaginar ficar tanto tempo com alguém e conseguir um objetivo incrível desses.

Você perdeu a final de Wimbledon do ano passado para eles, mas também já os derrotou, até em uma Copa Davis dentro dos Estados Unidos. Ter vencido os dois é o tipo de coisa que você guarda como sinal de uma carreira bem-sucedida?


São boas memórias sempre. Tanto ganhando, quanto perdendo. A gente tem que entender que esporte é assim. Poder enfrentar os Bryan já é uma grande oportunidade. Assim como quando joguei contra o Federer [ele e Dodig derrotaram a dupla do suíço e do chinês Ze Zhang por 2 a 1 no Masters 1000 de Xangai de 2013]. São coisas que a gente guarda para o futuro. Guardo os principais jogos para ver depois e quem sabe um dia contar para os filhos.

Para muitos atletas, as mídias sociais são importantes para a comunicação com os fãs. Antes mesmo disso, você já usava a internet para divulgar fotos e vídeos por meio de do seu blog.


É interessante estar conectado com todo o mundo, manter contato com o público que às vezes não tem condições de acompanhar a gente nos torneios ou entrar todo dia na internet. Sempre tem gente que vai falar coisa que não sabe, seja no blog, na TV, em qualquer lugar. Sei que preciso analisar os elogios e as críticas. Às vezes são construtivas.

Entre tenistas as mídias sociais são bastante populares porque muitas vezes ficam muito tempo em aeroportos e salas de jogadores esperando as chamadas para o jogo. Você é um desses que passam o dia com o tablet na mão?

Sempre procuro acessar. Gosto muito de ler as notícias na internet e manter as mídias sociais atualizadas. Quando tenho tempo, acompanho o que está acontecendo no Brasil, mas não fico tanto tempo assim. É mais para ler notícia.

Semana de Copa Davis em casa é uma das poucas do ano que você passa no Brasil. Quando está aqui, sobra mais tempo para relaxar e ficar perto da família ou compromissos com patrocinadores e imprensa acabam fazendo a rotina ficar mais corrida?

Devo ficar de 15 a 20 semanas aqui por ano, no máximo. No início é um pouco apertado, especialmente por ter ficado fora bastante tempo, mas depois acabo diluindo os compromissos porque é preciso voltar aos treinos e ficar focado para os próximos torneios.

 

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