Futebol Nacional

CAMPEONATO MINEIRO

Dupla prova de fogo

Depois de reinarem no Brasil, Cruzeiro e Atlético voltam a se enfrentar exatamente 102 dias após o último clássico com o desafio de confirmar que podem encantar o país de novo

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Cruzeiro e Atlético voltarão a medir forças no domingo, às 16h, no Mineirão, pela sexta rodada do Campeonato Mineiro, exatos 102 dias depois do último clássico. Se há pouco mais de três meses os tradicionais rivais chamavam a atenção de todo o mundo por serem os melhores times do Brasil, a situação agora é bastante diferente. Na época, o Galo fazia a festa pela conquista da Copa do Brasil, em 26 de novembro, enquanto a Raposa ainda saboreava o bicampeonato Brasileiro, conquistado três dias antes. Nesta temporada, porém, ambos buscam a afirmação, e não a confirmação, com equipes bastante mudadas e ainda sem demonstrar as belas exibições dos últimos dois anos.

A prova da perda de força são as campanhas da dupla nesta Copa Libertadores. Eles têm a pior performance da competição levando-se em conta apenas os clubes nacionais – Corinthians, São Paulo e Internacional – e também não marcaram gols.

Os motivos para a queda de rendimento são variados. Se mantiveram os técnicos, os rivais perderam alguns de seus principais jogadores. No Cruzeiro, saíram os dois artilheiros de 2014, o atacante Marcelo Moreno, cujo empréstimo ao Grêmio terminou, e o armador Ricardo Goulart, vendido ao Guangzhou Evergrande-CHI, que marcaram 24 gols cada um. Já o motor do meio-campo, Éverton Ribeiro, foi negociado com o Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos. O volante Lucas Silva, por sua vez, foi para o Real Madrid. Para completar, Júlio Baptista, que marcou 12 gols no ano passado, teve de se submeter a intervenção no joelho direito e também não está podendo ajudar a equipe, o mesmo ocorrendo com um dos pilares celestes, o zagueiro Dedé.

Para suprir essas ausências, a diretoria foi em busca de substitutos e contratou atletas para todos os setores. Chegaram, por exemplo, o zagueiro Paulo André, o volante Willians, o armador De Arrascaeta e o atacante Leandro Damião, entre outros.

É necessário, no entanto, que haja tempo para a nova formação ganhar corpo. “Ainda não temos um time entrosado, até porque ainda estamos estreando jogadores. Mas a produção e a evolução me dão uma confiança e uma perspectiva muito boa”, declara o técnico Marcelo Oliveira. Há contratados que nem estrearam, como o armador Gabriel Xavier, cuja entrada no time vem sendo preparada.

A exemplo do Cruzeiro, o Atlético perdeu seu principal jogador, Diego Tardelli, seduzido por proposta milionária do Shandong Luneng, time de Cuca na China, e o zagueiro e ex-capitão Réver foi negociado com o Internacional. Em contrapartida, o Galo trouxe o atacante argentino Lucas Pratto e o armador colombiano Cárdenas, além do volante Danilo Pires. Mas a equipe perdeu um pouco da dinâmica do ano passado, sobretudo devido às lesões dos titulares Marcos Rocha, Douglas Santos, Pratto e, por último, Leonardo Silva. Para piorar, reservas como Pedro Botelho e Jô também se machucaram.

A equipe que começou o ano goleando por 4 a 2 no amistoso contra o Shakhtar Donetsk, em janeiro, chegou a causar boa impressão, mas sobraram dificuldades nos jogos seguintes. O baque maior ocorreu na Libertadores, com derrotas para Colo Colo e Atlas (esta no Independência), o que praticamente obriga o alvinegro a vencer os compromissos seguintes para se garantir na próxima fase. Levir entende que o time precisa de ajustes naturais para recuperar a vibração e capacidade: “Estou indeciso com relação à formação da equipe. Tivemos três jogadores do sistema defensivo que não estavam em campo, sendo que dois deles jogam pelos lados. Nossa coordenação de jogo pelas laterais era muito legal no ano passado, o que pesa também neste momento. No ataque, começamos o ano com o Pratto como referência, mas ele se machucou e tivemos de mudar o sistema. Sofremos um desgaste natural e não achamos o ponto de equilíbrio. Por isso não estamos jogando bem”.

EXTRACAMPO As mudanças nos clubes não atingiram somente a esfera dos gramados, mas os bastidores. Ambos perderam o patrocínio master do Banco BMG, que rendia a cada um em torno de R$ 15 milhões anuais. O Galo fechou acordo com a MRV Engenharia com valores estimados em R$ 23 milhões por temporada e ainda incorporou outras três marcas no uniforme: Laticínios Cemil, Vilma Alimentos (ambos parceiros também do Cruzeiro) e Tenco Engenharia. Ainda em busca de seu principal patrocinador, os celestes negociam com a Caixa Econômica Federal, mas já buscam outra empresa para estampar a camisa caso o banco estatal não se disponha a pagar os cerca de R$ 20 milhões desejados.

No campo financeiro, o Atlético obteve recentemente uma conquista importante: a renegociação da dívida fiscal com a União e, consequentemente, o fim dos bloqueios financeiros. Com isso, solucionou o atraso nos salários dos jogadores e premiações.

No Cruzeiro, a venda do novo uniforme sem o principal patrocínio acabou trazendo dividendos. Já foram comercializadas cerca de 120 mil camisas, rendendo à Raposa R$ 4,5 milhões. Além disso, o programa de sócio-torcedor segue a todo vapor (68.756 integrantes até ontem), garantindo arrecadação permanente ao clube, independentemente do público que comparece ao estádio.

Por que Cruzeiro e Atlético ainda não engrenaram?

“Acho que está faltando entrosamento. São muitos jogadores que chegaram e isso pode estar atrapalhando o Cruzeiro. E mais um armador para ajudar o De Arrascaeta também faz falta”
Lucas Baeta, 27, advogado, cruzeirense

“O que está faltando é atitude para Marcelo Oliveira. Parece que o time precisa treinar mais. Acho que, se colocar os meninos da base (Judivan, Alisson), a equipe melhoraria muito”
Ezequiel Moreira, 49, vigilante, cruzeirense

“O que falta para o Cruzeiro engrenar é um substituto para Éverton Ribeiro. A falta de entrosamento também pode ser um ponto negativo. O De Arrascaeta está jogando sozinho no meio”
Jonas Sinfrônio, 58, aposentado, cruzeirense

“O Atlético tem bons jogadores, mas está faltando preparação física. Acho que o Cárdenas tem espaço no meio campo do time, mas a falta de ritmo também o atrapalha”
Mário Bastos, 54, administrador, atleticano

“Penso que a falta de entrosamento é o principal motivo pelo qual o Atlético não engrenou. Parece que está faltando também treinamento para a equipe”
Fernando Murta, 46, agente de viagens, atleticano

“O Levir Culpi é um bom treinador, mas está faltando um treino que corrija detalhes como entrosamento, conjunto. Tem que trazer o Ronaldinho e o Diego Tardelli de volta”
André Rossi, 48, agente de viagens, atleticano

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