Futebol Internacional

20 ANOS DE WENGER NO ARSENAL

Wenger completa 20 anos de Arsenal e contrasta com 93 técnicos em Atlético e Cruzeiro; relembre

Veja quem passou pelos grandes de Minas na 'era Arsène Wenger' no futebol inglês

postado em 01/10/2016 08:00 / atualizado em 30/09/2016 20:41

AFP / Glyn KIRK

Ficar por 20 anos em um cargo não é uma missão fácil. Permanecer por esse longo período em um dos maiores clubes de futebol do mundo, com alto nível de exigência por resultados e pressionado por torcedores, é tarefa raríssima. O técnico Arsène Wenger é um dos poucos que pode se gabar de tal feito: o francês celebra, neste sábado, exatas duas décadas no comando do Arsenal.

“Quero ganhar tudo, fazer o jogo perfeito em todos os jogos, esse é o meu sonho: que as pessoas gostem do que veem e os jogadores do que fazem”, disse Wenger nessa sexta ao ser homenageado pelo Arsenal pela marca.

O legado de Wenger vai do futebol vistoso a grandes títulos, fazendo, inclusive, com que ele seja considerado o favorito a assumir o comando da Seleção Inglesa. Mas o francês não é unanimidade nem mesmo entre os torcedores do Arsenal. Por causa da falta de títulos nos últimos anos, ele teve que lidar com a crítica dos fanáticos. Em abril deste ano, por exemplo, um grupo expressivo levou ao Emirates Stadium o protesto "Time for Change" (Hora da mudança), com vários cartazes e faixas.

AFP / PAUL ELLIS

Wenger, contudo, sobreviveu. Para se ter ideia do significado dessa proeza do treinador, basta observar as mudanças ocorridas no futebol mineiro. Desde outubro de 1996, quando o francês chegou a Highbury, Atlético e Cruzeiro sofreram diversas transformações, com direito a títulos e turbulências. Nesse período, a dupla da capital teve 93 comandantes (40 no time azul e 53 no alvinegro). A Raposa foi liderada por 26 treinadores diferentes e o Galo por 39. A conta também leva em consideração os técnicos tampões e auxiliares que assumiram os times em algum jogo.

Nomes curiosos aparecem na lista. Wantuil Rodrigues, por exemplo, conhecido dos clubes do interior do estado, dirigiu o Cruzeiro uma vez nesse período. Embora muitos torcedores não se lembrem, ele comandou a equipe como interino em goleada por 4 a 0 sofrida para o Palmeiras em agosto de 1997, pela primeira fase do Campeonato Brasileiro. O momento, todavia, era de festa. A Raposa acabara de festejar o título da Copa Libertadores de 1997. Depois da conquista, o técnico Paulo Autuori deixou o comando do clube. Nelsinho Baptista assumiu no jogo seguinte à derrota para o Verdão.

Pela Vila Olímpica, antigo centro de treinamentos do Galo, passaram treinadores desconhecidos da maioria dos torcedores alvinegros mais jovens. São poucos os que se lembrarão de Antônio Lacerda. Ele comandou a equipe em duas passagens: em 1981/1982 e 1996/1997. Nedo Xavier e Zé Maria Pena também engrossam a lista de ‘estranhos no ninho” no principal cargo do futebol do Atlético.

ATLETICO

CRUZEIRO


AFP / CHRIS RATCLIFFE

Wenger: conceitos e trajetória

No longo período à frente do Arsenal, Wenger recebeu muitos brasileiros. Um deles é o ex-auxiliar-técnico do Cruzeiro, Geraldo Delamore. O mineiro de Mariana tem longa trajetória no futebol. Ele é formado em Educação Física pela UFMG e ganhou grande visibilidade sendo o braço direito de Tite na montagem do Corinthians campeão mundial. Graças ao contato com Edu Gaspar, hoje coordenador técnico da Seleção Brasileira e ex-jogador do Arsenal, marcou uma visita ao clube londrino em 2013. O encontro com Wenger não estava programado, mas o treinador estava sedento por informações do atacante Bernard, um dos destaques do Atlético naquele ano. O Arsenal era um dos interessados no jogador.

Depois do papo sobre o ex-atleticano, que acabou se transferindo para o Shakhtar da Ucrânia, Delamore e Wenger conversaram longos minutos sobre futebol. “Eu me lembro de duas perguntas que fiz a ele. Uma exatamente a respeito dessa longevidade. Como ele conseguia motivar os jogadores. Ele me disse que a maior motivação que um jogador pode ter é saber que ele vai evoluir sob o seu comando como treinador. Isso é inspirador”, conta Delamore.

“Do papo que tive com ele, incorporei ao meu trabalho a ideia de que temos que motivar o jogador para o treino no dia a dia. Isso vai resultar em um atleta mais preparado, capacitado e pronto para os desafios do jogo. No Brasil, a gente motiva muito para o jogo, na preleção, expondo matérias da imprensa, vídeos de torcedores, de familiares, tudo para aquele momento apenas. Wenger é consciente da importância de todo processo e é o que nós do Brasil temos que absorver”, completou o ex-cruzeirense.

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Se hoje é um dos mais renomados treinadores do mundo, Wenger chegou ao Arsenal cercado de desconfiança. Antes de acertar com os Gunners, o francês estava no Nagoya Grampus, do Japão. A suspeita era grande, mas foi quebrada com títulos e um surpreendente jogo sedutor dentro das quatro linhas. Logo na temporada 1997/98, conquistou o primeiro Campeonato Inglês. Uma geração já se formava, sendo capitaneada por Patrick Vieira e Dennis Bergkamp.

O Arsenal se consolidou como uma das potências do futebol inglês e, graças ao processo de globalização, se tornou um clube de alcance mundial, colecionando torcedores em todos os continentes. O título mais marcante de Wenger ocorreu na temporada 2003/04. O Arsenal levantou o caneco da Premier League de forma invicta, com 26 vitórias e 12 empates. A equipes tinha nomes como Vieira, Pires, Ljunberg, Berkgamp, Henry e Gilberto Silva.

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Estudioso, Wenger levou para a Inglaterra um estilo que valoriza a posse de bola, a troca de passes e o futebol vertical, apostando sempre em jogadores habilidosos e rápidos. A Inglaterra, então, era um terreno mais voltado ao jogo pragmático, de muita imposição física. Wenger ajudou a mudar esse panorama, sendo um dos responsáveis por fazer do campeonato local o mais atrativo do mundo. Como manager, comandou um processo de observação e de contratação de jovens jogadores, fazendo do Arsenal um dos principais centros de excelência em localização de talentos. Descobriu jogadores de nível internacional, como o espanhol Cesc Fàbregas e o holandês Robin van Persie.

Em entrevista ao Universidade do Futebol, Arsène discorreu sobre seu estilo. “Eu não sou um treinador para o curto prazo, mas um técnico para o longo prazo. Eu sempre acho que um treinador tem responsabilidade em três níveis diferentes. O primeiro nível é a maneira que você pensa em futebol e os resultados. O segundo nível é a influência na carreira de todos os jogadores individualmente. Existem técnicos que não podem ganhar troféus, porque eles trabalham em clubes pequenos ou medianos, mas eles ainda evoluem jogadores. Eles merecem muito respeito porque eles têm um bom impacto sobre a carreira individual do jogador. E, então, você tem o terceiro nível, ao qual, em minha opinião, muitos treinadores não participam o bastante: é a influência que você tem sobre a estrutura do clube”, contou Wenger, que deu um conselho a jovens treinadores.

“Sempre tentem ter uma linha de contato e sejam fieis a ela. Não desistam, mas, como um treinador, você tem que estar abertos a novas ideias, porque o futebol está em constante evolução. Vocês têm que ser mentalmente muito fortes. Estejam prontos para a luta da vida, porque é um emprego muito duro. É um emprego obsessivo e vocês têm que estar preparados para sofrer. Vocês têm que estar conscientes que os seus companheiros sofrem muito também. Eu sempre digo que esse é um emprego para uma pessoa sozinha, porque a sua família também sofre. Isso é uma coisa que você realmente tem que levar em conta quando você vai seguir a carreira”, concluiu Wenger.

AFP


Arsène Wenger
Nascimento: 22/10/1949 (66 anos)
Naturalidade: Estrasburgo, França
Formação: licenciatura em economia na Universidade de Estrasburgo
Clubes como jogador: Mulhouse, ASPV Strasbourg e RC Strasbourg
Clubes como treinador: Nancy, Mônaco, Nagoya Grampus e Arsenal
Títulos por outros clubes como treinador:
Campeonato Francês (1987-88);
Copa da França (1990-91);
Copa do Imperador (1996);
Supercopa Japonesa (1996)
Títulos pelo Arsenal:
Campeonato Inglês (1997-98, 2001-02, 2003-04);
Copa da Inglaterra (1997-98, 2001-02, 2002-03, 2004-05, 2013-14, 2014-15);
Supercopa da Inglaterra (1998, 1999, 2002, 2004, 2014, 2015)

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