COLUNA DO JAECI

Pela organização do futebol brasileiro

'Se as contratações forem ruins e o clube não se acertar na competição, que se dane. Vai com aquele grupo até o fim da temporada e ponto. Que se planeje melhor para o ano seguinte'

postado em 28/02/2015 12:00 / atualizado em 27/02/2015 18:26

Vanessa Rodrigues/A Tribuna de Santos


A CBF receberá na segunda-feira, às 10h, em sua sede, na Barra da Tijuca, presidentes dos clubes para a realização do conselho técnico, com o objetivo de organizar entidades e dar a elas diretrizes fiscais, entre outras coisas. O Congresso Nacional aprovou o Refis para os clubes brasileiros, para que possam sanear suas dívidas com o fisco e recomeçar vida nova, o que é um avanço. O conselho técnico, criado no ano passado, é uma forma de as agremiações fazerem um Raio X de sua situação e se adequarem à nova realidade do futebol nacional. A maioria das entidades esportivas está quebrada, com dívidas impagáveis, contraídas ao longo do tempo, principalmente por gestões equivocadas ou fraudulentas. Já passou da hora de seus dirigentes assumirem responsabilidade fiscal pelos próprios atos. Houve a chance, nas décadas de 1990 e 2000, de transformar os clubes em empresas, mas o dinheiro posto em Corinthians, Flamengo, Inter, Grêmio e Cruzeiro, por exemplo, sumiu pelo ralo. Alguns por investimentos em jogadores que não deram retorno. Outros por roubo mesmo, caso do rubro-negro, no qual o ex-presidente Edmundo dos Santos Silva foi até preso por corrupção.

Há tempos o futebol no país vive um mundo irreal, de ilusão, com gastos exorbitantes, chegando ao cúmulo de repatriar jogadores por salários maiores do que na Europa. Treinadores ganham de R$ 600 mil a R$ 1 milhão por mês e por aí afora. Com a crise global, principalmente no nosso país, a realidade bate à porta das empresas mostrando que má gestão pode levá-las à falência. Caso de alguns clubes grandes, que estão virando pequenos por causa de gestões equivocadas, perdendo seu maior patrimônio, a torcida. O Botafogo é um. O clube não cresceu, perdeu torcedores e encolheu. Rebaixado no último Brasileiro, está fadado a sumir se algo não for feito.

Com o Refis para os clubes, os dirigentes assumirão o compromisso de não mais gastar acima do orçamento anual, o que lhes dará estabilidade e segurança. Não é mais possível uma agremiação arrecadar R$ 100 milhões anuais e gastar R$ 200 milhões. A conta não vai fechar. Daqui por diante, planeja-se a temporada, pega-se os recursos e investe-os no futebol. Se as contratações forem ruins e o clube não se acertar na competição, que se dane. Vai com aquele grupo até o fim da temporada e ponto. Que se planeje melhor para o ano seguinte. O que vemos hoje são clubes contratando a cada mês, na tentativa de buscar um título a qualquer preço. Normalmente entra num buraco sem fundo, endivida-se e não consegue pagar as contas. O Santos é um exemplo. Não teve dinheiro para honrar salários, alguns jogadores entraram na Justiça e ganharam o direito de trabalhar em outro local. Profissionalismo é isso.

Outra coisa que precisa ser definida é que um treinador só possa trabalhar em duas equipes por ano. Virou um samba do crioulo doido, com técnico dirigindo até quatro equipes por temporada, recebendo salários astronômicos de dada uma. Na Europa, por exemplo, um treinador demitido é obrigado a ficar parado na temporada, recebendo em dia seus salários. Isso é organização e profissionalismo.

Acho que, com o Refis fiscal para todos os clubes, o planejamento do orçamento anual de acordo com o tamanho de cada um e responsabilidade fiscal para os dirigentes, estará fechado o cerco e ninguém vai querer trocar os pés pelas mãos. Além disso, sugiro aos dirigentes compradores que invistam boa parte do orçamento na base. Ali está a matéria-prima, o talento a ser lapidado, para chegar aos profissionais e brilhar, dando retorno ao investimento. É sabido que os craques no Brasil acabaram e hoje, por exemplo, não temos nenhum em atividade no país. Caso a ser pensado. Vamos parar de repatriar ex-atletas em atividade só porque estão na Europa. Saibam que quando um clube libera algum por lá, é porque virou bagaço. Que esse conselho técnico seja o início de uma vida nova para os clubes brasileiros. Já passou da hora de se organizar o nosso futebol, para que tenhamos de volta os grandes espetáculos.

Tags: botafogorj atleticomg cruzeiroec jaeci coluna jaeci carvalho