COLUNA DO JAECI

Não à Olimpíada do Rio

Vivemos a maior crise de nossa história e ainda vamos fazer Olimpíada! Vamos tomar no lombo, apanhar ainda mais, somos sem vergonha

postado em 30/06/2016 12:00 / atualizado em 30/06/2016 08:40

AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA
É duro dizer, mas não aconselho nenhum turista a vir aos Jogos do Rio. Vivemos em estado de guerra civil, com 50 mil mortes por ano provenientes de tiro ou arma branca, taxistas bandidos na Cidade Maravilhosa, milícias e os piores delinquentes: políticos e empresários, que arrumam qualquer artifício para roubar o povo, até usando a Lei Rouanet. O casamento de Preta Gil, por exemplo, foi questionado nas redes sociais, lembram-se? E o pai, de quem já fui fã, foi ministro da Cultura de Lula. Pelo menos o pai, a mulher e o filho que fizeram festa de luxo em Santa Catarina com recursos dessa lei, estão no xilindró. Mas logo vão sair. Têm dinheiro para um bom advogado.

No Rio, uma atleta paralímpica australiana teve a bicicleta roubada e ficou sob a mira de revólver quando treinava no Aterro do Flamengo. Que vergonha! Ela retornou a seu país, mas garante que virá aos Jogos. As autoridades australianas estão contratando segurança privada para sua equipe.

Claro que o governo federal – o do Rio está quebrado, enquanto o ex-governador Sérgio Cabral, acusado de corrupção, se delicia nas maravilhosas praias de Angra dos Reis – vai pôr as Forças Armadas nas ruas, tanques, soldados com fuzis apontados para morros e na entrada da Ilha do Governador, para mostrar ao mundo que somos o “país mais seguro que já se viu”. Vão fazer acordos com traficantes, espécie de trégua em que podem vender drogas tranquilamente, desde que em troca não causem morte. “Os soldados do tráfico” serão instruídos a não assaltar, não fechar nem provocar tiroteio na Linha Vermelha. Tudo em nome do evento, que consumiu bilhões de dólares das nossas falidas contas públicas, conta que vai estourar ou já está estourando no nosso lombo.Não há verba para saúde, educação e segurança, mas há para os Jogos, que nada acrescentarão em nossa vida.

Recentemente ouvi de habitantes de Boston que a cidade disse “Não” aos Jogos de 2020, em nome de outras prioridades. Para quem não sabe, o Estado de Massachusetts tem 653 universidades, a maioria concentrada em Boston, onde Harvard é o símbolo maior da educação. E olhem que se trata de um município do país com a maior economia do mundo. Eles não querem Olimpíada porque sabem que a conta é alta e sempre estoura na população.

Já aqui, quando o Rio foi anunciado como sede, milhares pularam e cantaram em Copacabana, diante de um telão que Sérgio Cabral, então governador, instalou nas areias. Esses mesmos bobos que morrem em filas de hospitais públicos, dizimados por balas dos revólveres e fuzis de delinquentes sem educação nem segurança. Enquanto isso, Cabral se delicia com taças de Chateau Petrus, vinho cuja garrafa, dependendo da safra, custa até R$ 22 mil. Vivemos a maior crise de nossa história e ainda vamos fazer Olimpíada! Vamos tomar no lombo, apanhar ainda mais, somos sem vergonha. Não sabemos dar valor ao nosso suado dinheiro. Trabalhamos cinco meses do ano para pagar impostos absurdos e nada termos em troca.

Sugeri em coluna anterior que sei não ser possível, mas se tivéssemos um verdadeiro líder, um grande estadista, ele abriria mão da Olimpíada, sofrendo as sanções do COI, e cuidaria da população. Não importa se o país ficar fora de três, quatro ou cinco edições olímpicas, desde que seja reconstruído, a começar pela educação. Garanto que em pouco mais de 20 dias Austrália, China e Inglaterra estariam de braços abertos para receber o evento, que já sediaram em 2000, 2008 e 2012, respectivamente. Isso, claro, se a população disser sim. Nós não temos condições. Vamos maquiar o Rio, tirar os mendigos da rua, dar trégua na violência e vender imagem irreal.

Para fechar, uma pergunta às autoridades brasileiras: por que para evento dessa grandeza Exército, Marinha e Aeronáutica vão às ruas proteger estrangeiros, mas não fazem o mesmo para proteger nossa gente?

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