TIRO LIVRE

E o Jô voltou... mas voltou mesmo?

A reintegração soa quase como mera formalidade. O retorno ao time atleticano, então, parece uma realidade ainda mais distante

postado em 24/10/2014 14:00

Kelen Cristina /Superesportes

A novela durou 12 dias. Começou com um sumiço de Jô da Cidade do Galo. Especulações sobre problemas com o casamento e daí para uma aparição furtiva na balada carioca foi um pulo. Não demorou muito e pipocaram as notícias de reclamações de vizinhos no condomínio onde o atacante mora, em BH, por causa do barulho causado pelas longas e animadas festas. Até o pai do atacante, Dario, entrou na jogada para mediar a confusão e tentar ajudar o filho a reencontrar o rumo.

Esse era exatamente o Jô que deixou o Internacional, em meados de 2012, afastado por indisciplina. Queimado no mercado, o atacante poderia ter visto sua vida desandar naquele momento. Mas ele encontrou abrigo no Atlético, amparado pelo presidente Alexandre Kalil e pelo técnico Cuca. O acolhimento no alvinegro, onde acabaria jogando ao lado de seu grande amigo Ronaldinho Gaúcho, foi determinante para a reviravolta na carreira. E Jô retribuiu a confiança da maneira que se espera de um jogador: em campo. Não apenas se tornou titular da equipe como foi o artilheiro da Copa Libertadores do ano passado, na vitoriosa campanha alvinegra. De quebra, sedimentou seu caminho de volta à Seleção Brasileira e, com boas atuações na Copa das Confederações, garantiu seu lugar no grupo que disputaria a Copa do Mundo no ano seguinte.

Jô sempre demonstrou gratidão com Kalil e Cuca. Ele reconhecia seu desvio de comportamento no Inter – atribuído a problemas no relacionamento com a mulher, Cláudia – e a participação do Galo no seu resgate. A lição estava aprendida, garantia.

A temporada de 2014, por tudo isso, começou promissora. Jô estava em alta. O lado rebelde parecia domado. Grávida, Cláudia aguardava o nascimento do primeiro filho do casal, Pedro. Mas o roteiro não saiu conforme o planejado. Como num efeito dominó, os gols no Atlético rarearam. O atacante passou batido durante o Mundial, com aparições apagadas na Seleção. O casamento entrou em mais uma crise. E a face festeira de Jô aflorou novamente.

No início de setembro, os primeiros indícios (públicos) de que a situação voltava a desandar. Jô faltou a treinos na Cidade do Galo, alegando problemas particulares. Foi multado e perdoado. Pouco mais de um mês depois, outro sumiço. Mais punição e mais perdão, ainda que aparente. Desta vez, no entanto, é diferente. A reintegração soa quase como mera formalidade. O retorno ao time atleticano, então, parece uma realidade ainda mais distante.

O Galo se virou muito bem sem Jô, conseguiu ascender no Campeonato Brasileiro e avançar na Copa do Brasil. Aquele atacante que tinha apurado faro de gol no ano passado faria, sim, muita falta à equipe – a qualquer equipe, na verdade. Mas mesmo com desfalques e suspensões, o técnico Levir Culpi acabou encontrando outras formas de suprir a ausência dele, até alterando o esquema e dando mais liberdade a Diego Tardelli. O Atlético continuou fazendo gols.

Jogador de área como ele, finalizador, virou artigo raro no futebol nacional, e, se fosse inteligente, Jô poderia usar isso a seu favor, para se valorizar ainda mais no meio. Porém, no Atlético, o atacante se tornou apenas mais uma lembrança dos tempos gloriosos da Libertadores.

Aos 27 anos, ele ainda tem muita estrada pela frente, está muito jovem para integrar o rol dos ex-jogadores em atividade. Com certeza, assim que encerrar sua caminhada no Galo, ele vai encontrar clube interessado em seu futebol, inclusive do exterior. Mas antes de pensar nisso, Jô precisa se reencontrar. Redescobrir que bom mesmo é festejar em campo, colocando a bola no fundo das redes. O que aliás, quando quer, ele faz bem.

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