TIRO LIVRE

Santos de casa

"O zagueiro Jemerson e o armador Dodô (foto) são os grandes nomes do momento. Donos de técnica apurada, eles mostram que conhecem o caminho, mas precisam confirmar toda a expectativa que já criaram e justificar os elogios. Marion e Carlos correm por fora"

postado em 21/11/2014 08:00 / atualizado em 21/11/2014 02:54

Kelen Cristina /Superesportes

Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press
Desde a brilhante geração dos anos 1970/1980 formada em casa – de Reinaldo, João Leite, Cerezo, Paulo Isidoro, Marcelo Oliveira e cia. – que a torcida do Atlético espera por uma nova fornada de qualidade saindo de suas categorias de base. O hiato parece longo demais, soa até exagerado se você começar a puxar na memória alguns nomes que chegaram a acender no torcedor a esperança de ver um prata da casa que valesse ouro. O máximo que essa turma conseguiu, no entanto, foi ficar no status de prata mesmo. Ainda assim, eles são minoria na lista, dominada por aquilo que, no popular, denomina-se “foguete molhado”. Até faz um barulhinho no início, mas não explode.

Há muitas explicações para o fato de as divisões de base pararem de revelar talentos em profusão no Brasil. O mercantilismo que tomou conta do futebol pós- anos 1990 é um deles. Crias da casa demandam tempo e dinheiro, que, muitas vezes, os clubes preferem ignorar, voltando seus investimentos para atletas já formados e de qualidade duvidosa.

Nos clubes, circula o argumento de que o fato de os jogadores só poderem assinar seu primeiro contrato profissional aos 16 anos também se tornou um entrave. Não é raro as jovens promessas serem “roubadas” pela concorrência, já que não há vínculo. Foi o que ocorreu com o atacante Fred, levado para o Internacional no início de 2009, aos 15 anos. O negócio teria sido intermediado por Assis, irmão de Ronaldinho, que chegou a virar persona non grata para o presidente alvinegro Alexandre Kalil. Hoje, Fred é atleta do Shakhtar Donetsk, transação que rendeu 15 milhões de euros para os cofres do colorado, em junho do ano passado.

Mesmo com todas as justificativas, ainda é muito pequeno o número de revelações que vingaram no Galo nos últimos anos. O maior expoente da nova geração talvez seja Bernard, peça importante na conquista do inédito título da Copa Libertadores’2013. Foi descrito pelo técnico Luiz Felipe Scolari, que o convocou para a Seleção Brasileira, como o menino da “alegria nas pernas”. Mas este ano as pernas não se alegraram tanto. Talvez por causa da ida para o frio e longínquo futebol ucraniano, onde é companheiro de Fred no Shakhtar.

Bernard sucedeu atletas que chegaram a fazer os olhos da torcida brilhar, mas de maneira fugaz. Da turma que se apagou tão rapidamente quanto estrelas cadentes fazem parte Tchô, Renan Oliveira, Ramon, Paulinho e Juninho, entre outros. Agora, o técnico Levir Culpi apresenta novos candidatos, que renovam a esperança da torcida em ver a camisa preto e branca envergada por atletas que chegaram à Cidade do Galo ainda na base.

O zagueiro Jemerson (foto) e o armador Dodô são os grandes nomes do momento. Donos de técnica apurada, eles mostram que conhecem o caminho, mas precisam confirmar toda a expectativa que já criaram e justificar os elogios. Marion e Carlos correm por fora.

Os movimentos friamente calculados de Jemerson, de 22 anos, lembram muito os de Luisinho. O timing de marcação e a qualidade no passe o credenciam a ser um grande defensor. Baiano de Jeremoabo – município de pouco mais de 40 mil habitantes no nordeste do estado –, ele começou a carreira no Confiança, de Sergipe. Chegou ao Atlético em 2010, fez parte do grupo campeão da Taça BH de Futebol Júnior em 2011 e, como Bernard, foi cedido ao Democrata-SL antes de retornar ao alvinegro e ser promovido ao profissional pelo técnico Cuca, no início do ano passado.

Com a contusão de Réver e a saída do argentino Otamendi, Jemerson tomou conta da cozinha alvinegra como gente grande. Começou meio vacilante, é verdade, mas nada mais natural, pelas circunstâncias. Desde que ganhou confiança, contudo, virou dono incontestável da posição e a torcida nem sequer se ressente mais da ausência do capitão.

Já Dodô teve aparição meteórica. Mineirinho de Vespasiano, ele tem apenas 10 jogos na equipe principal, porém, nos últimos três, fez três gols, fora os bons passes e lançamentos. Jogador inteligente, que não se afoba diante dos adversários, nem se apavora com a pressão da torcida. É ainda mais novo que Jemerson – tem 20 anos –, mas mostra a mesma maturidade em campo.

A transição do júnior para o profissional essa dupla fez com louvor. Falta, agora, passar de promessa para realidade. Uma transformação muito mais complicada, é verdade, mas, na mesma proporção, muito mais recompensadora para quem consegue concluí-la com sucesso.

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