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Entrevista: Enderson analisa chances do América, permanência no clube e planejamento para 2017

Treinador concedeu entrevista ao Superesportes e falou sobre a boa sequência vivida pelo Coelho, saída de contratação badalada, mudanças e aproveitamento da base

postado em 28/09/2016 08:00 / atualizado em 27/09/2016 21:35

Edesio Ferreira/EM/D.A Press

É dia de “festa” no América. O técnico Enderson Moreira completa, nesta quarta-feira, 45 anos. O presente desejado pelo treinador é o mesmo que o torcedor do Coelho sonha em todos os dias: a permanência do clube na Série A do Campeonato Brasileiro.

O comandante acredita na campanha de recuperação, mas admite que já trata o planejamento para a próxima temporada em duas frentes: uma pensando na permanência na elite e outra imaginando a possível queda. E, em qualquer uma delas, Enderson Moreira pensa em dar continuação ao seu trabalho no América.

Em entrevista exclusiva ao Superesportes, o técnico do América afirmou que, mesmo que receba uma proposta para dirigir outro clube no próximo ano, pensa em continuar exercendo sua função no Coelho. Ele ainda comentou a saída de Eisner Loboa, colombiano que veio para o América com um salário astronômico e só jogou 36 minutos e também os desafios de trabalhar com nove presidentes.

Confira a entrevista completa de Enderson Moreira ao Superesportes

Nesta quarta-feira você completa 45 anos. Esse reconhecimento do bom trabalho feito no América é o seu maior presente?

Sinceramente, gostaria de ganhar um outro presente, que o torcedor americano também gostaria muito, que é de comemorar, no fim do ano, como se fosse um título mesmo, a permanência do América. É uma situação muito complicada, muito difícil. Mas é um presente participar do crescimento da equipe, ver os atletas se dedicando muito, fazendo bons jogos, honrando muito essa camisa tão tradicional do América. Espero que a gente possa continuar fazendo isso durante as últimas 11 rodadas do campeonato.

Edesio Ferreira/EM/D.A Press
Você chegou com o rebaixamento do América quase que concretizado. Isso fez o seu trabalho ser um pouco mais leve, e os jogadores se apegarem mais ao seu estilo de trabalhar?

Acho que num primeiro momento não. No começo, todos viviam a expectativa que a gente pudesse pegar uma sequência de vitória. Tivemos bons jogos, uma sequência de bons resultados. Logo em seguida, tivemos uma sequência de derrotas. Foi um momento extremamente complicado. Hoje, a equipe está mais tranquila, mais ciente do que pode ser feito, mais consciente do que é necessário fazer. Hoje, a gente está mais “tranquilo” diante dessa situação, que é extremamente complicada.

O América vem de uma boa sequência no Campeonato Brasileiro. Você acha que bons resultados fora de casa nessa sequência podem dar um novo gás na sequência da briga contra o rebaixamento?

Estivemos muito perto da primeira vitória fora de casa em duas situações. No jogo contra o Sport, levamos o empate no último lance, e no jogo contra o Figueirense, que mesmo saindo perdendo por 2 a 0, buscamos o empate e criamos oportunidades para virar o jogo. Isso tudo para mim faz parte da maturação de uma equipe. Conseguir virar jogos, vencer fora de casa, reverter situações. A gente tem expectativa que isso possa acontecer na próxima rodada. Eles têm atletas de altíssimo nível, têm feito jogos bons diante de adversários capacitados. A expectativa é que, mesmo com todas as dificuldades, a gente consiga fazer um bom jogo contra o Coritiba.

Se o rebaixamento for mesmo confirmado, como fica a sua situação no América?

Vim para o América com o contrato até 30 de junho de 2017. Gosto de cumprir meus contratos. Um contrato tem cláusulas de quebra para os dois lados. Se for interessante para o América a continuidade, vai ser um grande prazer para mim participar da reconstrução, do planejamento para 2017. O principal desafio para o América é passar por esse momento fortalecido, com uma bagagem maior, uma maturidade maior, tendo mais certeza do que dúvidas. Isso é fundamental para que, mesmo que a gente seja rebaixada, a gente possa ter uma equipe competitiva e tenha a chance de retornar à elite já imediatamente.

E como está o planejamento para o próximo ano? As mudanças já começaram a ser discutidas?

Existem alguns indícios de conversas de planejamento, mas nada que possa ser repassado, até porque ainda não é o momento. Ainda estamos em setembro. A gente ainda está na briga, temos que nos concentrar nisso. Nós nos aproximamos de algumas equipes. É importante manter essa chama viva. Não é momento de conversar sobre isso. Estou fazendo uma avaliação muito criteriosa sobre o nosso elenco, sobre os atletas. A medida que os jogos vão acontecendo, vamos tendo uma visão mais detalhada do que temos em mãos, para que a gente possa fazer os movimentos necessários no fim do ano.

Pelo seu bom trabalho no América, caso aconteça o rebaixamento e surja proposta de outro clube da Série A, você continuaria no Coelho?

Eu gosto de cumprir os contratos. Não tenho nenhum tipo de interesse em sair. Meu foco é o América. Mas tem que ser uma coisa que seja boa para os dois. Talvez, no fim do ano, o América tenha outro pensamento. Meu objetivo é claro, de permanecer, cumprir o contrato, fazer o que foi combinado. Minha expectativa é de dar continuidade a esse processo, para ter o América em 2017 mais forte do que agora.

Você chegou com o time em uma grande crise. Onde acha que o América errou no planejamento deste ano?

É difícil falar assim, não estava presente nos momentos. Mas tudo que aconteceu de errado, de alguma forma, serve para buscar outros caminhos. Tenho certeza absoluta que os erros foram no sentido de poder acertar. Ninguém erra porque quer errar. Erra porque está tentando achar um caminho. Se a gente não conseguir permanecer na Série A, temos que ter consciência que nem tudo foi errado. Nós temos bons atletas, qualificados, que serão muito importantes em 2017. Assim também, como se a gente conseguir ficar na Série A, temos que entender que não está tudo certo, que tem muita coisa para ser ajustada. Essa frieza na avaliação que é muito importante. Tem que ter consciência de que, quando ganha, não está tudo certo, e quando perde, está tudo errado.

Edesio Ferreira/EM/D.A Press
O América contratou 30 jogadores neste ano. Muitos não estão mais no clube e alguns nem jogaram. Mas um caso chama a atenção que é o do Loboa. Ele veio como um grande investimento da diretoria e atuou por apenas 36 minutos e foi dispensado. Como foi possível avaliar um jogador e liberá-lo com tão pouco tempo de jogo?

A direção teve a atitude de tirar o jogador. Eu respeito muito. Ele estava integrado ao nosso trabalho. Todo jogador que vem de fora passa por um processo de adaptação. Tem que ter muita força de vontade. Nunca tive problemas com ele, que veio e participou. A diretoria decidiu interromper o trabalho dele e teve seus motivos. Estava acompanhando o processo de adaptação dele. A gente estava dando um tempo necessário para ele se adaptar a essa nova realidade.

Por falar em jovens jogadores, você tem dado oportunidade para alguns, especialmente Roger e Matheusinho. Qual o seu estilo para trabalhar com atletas revelados pela base?

O América tem a tradição de ser uma grande escola. É um caminho maravilhoso como um clube formador. A oportunidade não é dada, é conquistada. Tanto o Matheusinho, como o Roger e o Christian aproveitaram essas oportunidades. Temos outros da base como o Xavier, Makton, Messias, Sávio, Vitinho, Renato Bruno, Glauco. São atletas que estão buscando e conquistando seu espaço. Não tenho uma “obrigação” de lançar garotos. Eu sempre coloco para jogar, independentemente de idade, os jogadores que acho que estão vivendo o melhor momento tecnicamente. Foi o caso do Matheusinho e do Roger. Eles estão vivendo um momento muito bom. Existe uma competição muito aberta. Não chego em um clube separando quem é da base e quem não é. Tento trabalhar com as mesmas oportunidades para todos, tentando ser justo com todos os atletas.

Como é trabalhar com nove presidentes? Existem divergências? Existe uma cobrança de um e outro não cobrar pela mesma coisa?

É inédito na minha carreira. Nunca tinha passado por essa situação. Não tento pensar muito nisso. É difícil agradar a todos. É complicado agradar um presidente, imagina nove. É um exercício contínuo de democracia, saber escutar, esperar sua vez de falar, aceitar a decisão. A decisão que sai dali é uma decisão que vale para todos. Não adiantar falar que foi contrário. A partir do momento que tomam uma decisão, em uma votação, independentemente do resultado, é uma ideia de todos que prevalece. Não é fácil, mas tem muita coisa positiva, quando tem mais pessoas para discutirem um assunto.

Como é seu relacionamento com o departamento de análise de mercado e observação de jogadores pensando em 2017?

Tenho contato com eles. Esse departamento te oferece as informações. Eles não falam quem você deve contratar. Eles oferecem inúmeras oportunidades. Se você quer um zagueiro rápido, eles apresentam opções dentro do mercado. Mas a decisão sempre é do treinador, juntamente com a diretoria. Esse departamento funciona como uma ferramenta. Eles não têm o poder de chegar e contratar um atleta. Mas é uma conversa sempre bacana, proveitosa. A gente sempre troca ideias e informações sobre atletas. A contratação de um atleta não pode ser feita por achismo, por vídeo. Precisamos de outras informações, precisamos de outras fontes para dissecar melhor a contratação que você está trazendo para sua equipe. A gente sempre vai errar, mas temos que tentar minimizar o erro. Isso ajuda muito, saber qual o tipo de atleta que está trazendo para o seu clube, em questão comportamental, de personalidade, aquilo que ele pode produzir dentro de campo e o que é o jogador fora das quatro linhas.


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