Santa Cruz

VIOLÊNCIA

Em véspera de decisão no Arruda, tragédia com torcedor morto por vaso completa um ano

Torcedor foi morto brutalmente após jogo entre Santa Cruz e Paraná, na Série B

postado em 02/05/2015 16:00 / atualizado em 01/05/2015 18:34

Ana Paula Santos /Diario de Pernambuco

Paulo Paiva/DP/D.A Press
Neste sábado, a tragédia que vitimou o torcedor do Sport, Paulo Ricardo Gomes da Silva, morto na calçada do estádio do Arruda depois de uma privada ter sido arremessada das arquibancadas, completa um ano. Uma dor que está longe de ser sanada pelos familiares e que marcou o capítulo mais trágico da história do Arruda, palco da final do Campeonato Pernambucano de 2015, neste domingo.

Mais uma vez, o tio de Paulo, Tiago Valdevino, assumiu o papel de porta-voz da família. A mãe do membro da torcida jovem, Joelma valdevino, segue reclusa e silencia quando o assunto é relembrar a morte do seu primogênito. A lembrança dele é algo presente na vida da dona de casa que ainda chora a perda repentina. Neste sábado, Joelma, José Paulo Gomes (pai do torcedor), familiares, amigos e vizinhos participam de uma missa, às 20h, na Paróquia do Pina, na Zona Sul do Recife.


Tiago Valdevino conta que após a morte do sobrinho, todo o esforço da família vem sendo para que Joelma, de 43 anos, reaja. "Ela segue abalada e tem poucos momentos de alegria. Nós a envolvemos em cursos de confeitaria, costura e outras coisas que possam ocupar seu tempo. Para ela desopilar mesmo. Tem dia que ela está bem, sorrindo, nos convida para provar os bolos e doces, mas em outros ela não liga nem a televisão. Chora muito", conta Tiago, que mora próximo à irmã, no bairro do Pina.


Ainda de acordo com o tio do torcedor, um vereador local quis prestar uma homenagem ao torcedor morto, alterando o nome da rua para Paulo Ricardo Gomes. "Ela não aceitou. E tem sido assim quando alguém quer fazer algo para o meu sobrinho. Nós levamos em consideração a vontade da minha irmã. Por isso, até hoje respeitamos quando ela diz que não quer dar entrevistas. É ela quem decide. A dor é muito mais dela", acrescenta Tiago Valdevino.

 

Cronologia
2/5/2014
Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, é atingido por um vaso sanitário arremessado pelo anel inferior do Arruda - foram arremessados dois vasos. O soldador naval morreu na hora. Outras três pessoas ficaram feridas. Paulo era torcedor do Sport e foi ao Arruda para “torcer” para o Paraná. Trata-se, na verdade, de uma prática comum entre organizadas aliadas, como é o caso das facções do Sport e Paraná - uma comparece ao jogo da outra em partidas em que atuam como visitante.

3/5/2014
O Superesportes entra no Arruda e encontra os banheiros de onde foram arrancados os vasos sanitários. Constata que os agressores andaram mais de 100 metros com as duas bacias para chegarem ao ponto de ontem, supostamente, teriam atirado as bacias no chão.

4/5/2014
Paulo Ricardo é enterrado no cemitério de Santo Amaro.

5/5/2014
O primeiro suspeito de ter participado da ação criminosa é preso. Trata-se de Everton Felipe Santiago de Santana, 23 anos. A polícia chegou até ele por conta de uma denúncia anônima. Em seu celular, a polícia encontrou conversas de WhatsApp com familiares em que ele falava do receio de ser preso. Havia também diálogos com amigos, pedindo para que ninguém entregasse ninguém. Além disso, imagens do circuito interno do Arruda flagraram o momento em que o torcedor saiu do estádio após cometer o crime. Diante dos indícios, Everton acabou confessando o crime.

 

6/5/2014
O Diario de Pernambuco mostra na capa uma foto de Everton Felipe participando de uma briga entre as organizadas do Santa Cruz e CRB no estádio Rei Pelé, em Maceió, em fevereiro de 2014. A manchete “Tarde demais” lamentava o fato de que, se as autoridades houvessem tomado uma atitude mais enérgica para punir os envolvidos, a tragédia no Arruda poderia ter sido evitada.

8/5/2014
Os outros dois suspeitos de participar do assassinato de Paulo Ricardo são presos. Luiz Cabral de Araújo Neto, 30 anos, foi preso no município de Monte das Gameleiras, no Rio Grande do Norte, no início da manhã, e levado à sede do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). À noite, Waldir Pessoa Firmo Júnior se entregou na sede do DHPP acompanhado de familiares e do seu advogado. Os dois foram encaminhados ao Cotel, onde os três estão até hoje.

12/5/2014
A Polícia Civil realizou a reconstituição do crime. Participaram dois dos suspeitos da morte de Paulo Ricardo: Everton Felipe e Luiz Cabral de Araújo. Waldir Firmo recusou-se a participar. A reconstituição durou duas horas e serviu, segundo a polícia, para delimitar a participação de cada um no crime. Muitas pessoas acompanharam a simulação, e demonstraram revolta, gritando por “justiça”.

O que a reconstituição mostrou?
Os suspeitos deixaram o Arruda pelo portão nove, ainda com o jogo em andamento, e retornaram pelo dez, que dá acesso ao anel superior por uma rampa. A intenção era atirar pedras da torcida rival, que estava brigando com a facção tricolor.

Como não encontraram pedras, eles foram ao banheiro feminino e arrancaram as duas bacias sanitárias de um dos banheiros femininos. Eles caminharam pelo corredor do anel superior, por mais de 100 metros, até o ponto onde jogaram. Luiz Cabral jogou uma. Waldir Firmo, a outra.

26/5/2014
A Justiça recebe a denúncia do Ministério Público contra os três suspeitos com base no art. 121, 2º, incisos II e IV: homicídio qualificado por motivo fútil e cometido em situação de emboscada, mediante recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. A pena prevista varia de 12 a 30 anos.

30/7/2014
Aconteceu a audiência de instrução e julgamento definiu que o caso vai ser julgado em júri popular. A data provável do julgamento é no dia 16 de junho deste ano.