Santa Cruz

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Peninha, Catatau e Wilton Bezerra: testemunhas dos bastidores da queda e ascensão do Santa

No Arruda há mais de dez anos, trio viveu todo o período de queda e ascensão

postado em 22/11/2015 14:55 / atualizado em 22/11/2015 16:00

Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco

Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press
“Só a gente acreditava na gente.” “Foi preciso muita força de vontade e dedicação de quem faz o futebol para tirar a gente dessa situação.” “Acompanhei todo esse tempo e digo que foi muito angustiante.” Catatau, Peninha, Wilton Bezerra. Massagista, enfermeiro e médico do Santa Cruz. Os autores das três frases têm algo em comum além da paixão pelo Tricolor. Viveram intensamente os últimos dez anos do clube. Da queda para a Série B, em 2006, até a volta à Série A, sacramentada ontem.

Frases ditas com uma forte carga de emoção. Para os três, o momento é especial. O acesso conquistado significa a redenção. Eles viram o clube que amam passar por situações inimagináveis, resultado de administrações desastrosas. Pessoalmente, foram afetados por isso. Mas também acompanharam, e participaram, da retomada do Tricolor. Sentem-se recompensados.

“A gente faz o Santa Cruz. Junto com os vigilantes, com o pessoal que limpa e cuida do campo, com as meninas da cozinha e tantos outros. Pessoas que nunca deixaram o clube. Nem nos momentos piores. Isso é o que formou o Santa Cruz nesse tempo”, exalta Catatau.

Vigilantes, pessoal da limpeza, demais funcionários e a torcida. Ela merece tratamento especial no depoimento dos três. “Em todos os estádios que jogamos fora do Recife, tinha torcedor nosso por lá”, relata Wilton Bezerra. “Nunca vi um negócio desses. Não tem time do mundo igual. Porque torcer no bom é fácil. Difícil é torcer no ruim”, diz Catatau, que lembra do dia 17 de julho de 2011 como um dos dias mais marcantes da sua vida no Santa Cruz.

O dilúvio
O time iria começar a sua terceira edição da Série D contra o Alecrim-RN, no estádio Almeidão, em João Pessoa, na Paraíba. A iniciativa de levar o jogo para tão perto do Recife foi do próprio adversário, que queria lucrar com a renda da partida. Sabia da força da torcida coral.

Naquele dia, fortes chuvas começaram a cair em Pernambuco e na Paraíba. A torcida poderia não ir ao jogo. Por duas vezes, o Santa Cruz havia falhado na Série D. Mas a reação dos torcedores foi incrível. “Quando via aquela quantidade de água e o pessoal indo pro estádio junto com a gente, acompanhando o ônibus, não acreditava. Eles encheram o estádio, debaixo de chuva e tudo. Não importava como iam voltar. Eles estavam lá”, lembra.

O público daquela partida foi de 13.126 torcedores, recompensados com a vitória por 3 a 1. Mas como previu Catatau, a torcida teve dificuldades para voltar. As chuvas não cessaram. Só aumentaram. Trouxeram o caos. A BR-101 foi interditada por conta da subida do nível do rio que margeia o município de Goiana. A cidade na divisa com a Paraíba ficou debaixo d’água. O engarrafamento registrado foi de 30 quilômetros e a estrada só foi liberada no dia seguinte, segunda-feira. “Ali a gente viu o que é o Santa Cruz. A massa levou esse time.”

Recorde
Ao final de 2011, o Santa Cruz conquistou o acesso à Série C. Depois de três anos, deixava o fundo do poço do futebol brasileiro. A torcida foi essencial para o sucesso do time. Os números comprovam. Em plena quarta divisão, o Tricolor teve a melhor média de público dentre todos os clubes do Brasil: 36.916 torcedores por partida, à frente do Corinthians, com 29.424. Uma contribuição importante, também, pelo lado financeiro. Catatau agradece. “Foi a torcida que pagou a gente, numa época em que o time não tinha cota de televisão nem nada. O Santa Cruz só não se acabou por causa dela.”