Torcedor até mesmo depois da morte

Ao se deparar com o conteúdo desta reportagem, é inevitável pensar em trocadilhos como ´fulaninho morre pelo time` ou ´sicraninho é Santa Cruz até sete palmos abaixo do chão`. O bom humor vira consolo para a dor. Remédio para apaziguar a saudade do ente falecido. E, por que não, ideia para alavancar os negócios. Assim pensou Dineide Santos, dona da funerária Nossa Senhora de Lourdes, situada próxima ao Cemitério de Santo Amaro, Zona Norte do Recife. Há pouco mais de seis meses, o funeral do estabelecimento oferta um item especial aos torcedores pernambucanos: caixões personalizados com as cores e os escudos dos três principais clubes do estado. ´Quando vinham escolher o serviço de funeral, muitas famílias pediam para enrolar uma bandeira sobre o caixão e colocar flores com as cores do time. Daí, eu pensei em deixar a opção já pronta para o cliente`, explicou a proprietária. Por enquanto, apenas duas pessoas foram enterradas com a novidade. Detalhe: ambas rubro-negras. ´É porque tem a maior torcida. Por isso, morre mais gente`, brincou Mário de Moraes Filho, motorista da funerária. A quantidade de encomendas, contudo, deve aumentar ao longo dos meses. ´Como eu deixo os três caixões expostos, chegam pessoas dizendo que, quando morrerem, querem ser enterradas em um do time. Até manifestam o desejo aos familiares`, declarou Dineide. Após vender ataúdes a familiares de dois torcedores do Sport, a gestora da funerária espera comercializar o caixão tricolor. ´Do Náutico, quero não`, ironizou a alvirrubra. E se aparecer interessado em personalizar o produto com o emblema e as cores de outra equipe, Dineide manda fazer. ´Pode vir do Flamengo, do Corinthians, dos clubes do interior. Eu providencio com o fabricante`, garantiu. Os caixões expostos na funerária são do tamanho padrão, para pessoas de até 1,90 metro, e suporta até cem quilos. Isolado, custa cerca de R$ 900. Junto ao funeral completo, onde se incluem as flores, o traslado e remoção, fica por aproximadamente R$ 1,2mil. As flores do campo são mais comuns em tons alvirrubros. Mas se precisar do preto inerente tanto ao Sport quanto ao Santa, uma tinta resolve. É só aparecer na rua, e o caixão chama a atenção das pessoas. O comerciante Pedro Barbosa, depois de dar três supersticiosas batidinhas sobre a madeira, aprovou a novidade e já deu o recado: ´Quando eu morrer, pode me colocar num desse aí. Das cores do Sport, é claro.` Serviço Funerária Nossa Senhora de Lourdes Rua Barros Barreto, 438, Santo Amaro (81) 3222-7655