Sport

Campeonato Pernambucano

À espera da majestade

Após 14 rodadas, o posto de ´rei do Pernambucano` continua em aberto

postado em 01/03/2011 09:47 / atualizado em 01/03/2011 10:10

Às vésperas do carnaval, não há monarquia no futebol pernambucano. Se em 2010 quatro jogadores pleiteavam a alcunha de rei, o período atual é de vacas magras. Vazio, o trono real implora por um representante digno. Carlinhos Bala, Brasão, Ciro e Eduardo Ramos disputaram as atenções no ano passado. Tanto nos gramados quanto nos microfones. Há dois meses, um novato chegou botando banca. Sem fazer qualquer cerimônia, Landu soltou o verbo no dia de sua apresentação no Santa Cruz: ´Bala e Ciro que se cuidem. Eu vou brigar para ser o rei de Pernambuco`, disparou.

Até o momento, 14 rodadas se passaram no Pernambucano e nada de destaque individual. Artilheiro da competição, com seis gols, Tiago Cunha chegou a esboçar um possível ´domínio`. Antes de avançar suas tropas, porém, uma lesão no joelho direito tratou de frear o ímpeto do primeiro candidato. Já os favoritos apontados por Landu estão longe de encarnar papel de rei. Até agora, Carlinhos Bala e Ciro não passaram de meros coadjuvantes.

Pelo ritmo do campeonato,o trono só deverá ser ocupado nos momentos decisivos. A luta coletiva pelo hexa parece ter ofuscado qualquer concorrência individual, e o novo rei ainda é uma incógnita. Até mesmo o carnaval há de esperar. Kuki, Geraldo e Carlinhos Bala foram alguns dos que já sentaram na nobre cadeira. Quem será o próximo? A resposta só deve sair no dia 15 de maio, data escolhida para a grande final do Campeonato Pernambucano. Até lá, cabe aos postulantes fazer por onde merecer o reconhecimento. Simbólico, é verdade, mas inegavelmente midiático. O maior entre todos os títulos marqueteiros da história recente do nosso futebol.

Aflitos // Eduardo Ramos tenta o bi

Eleito o craque do último Pernambucano, Eduardo Ramos ainda exerce seu reinado, ainda que teoricamente. Na prática, ele perdeu a coroa antes mesmo de o Sport levantar a taça do penta. Principal destaque rubro-negro durante a maior parte da campanha, a queda de rendimento na reta final do Estadual em 2010 inegavelmente comprometeu sua imagem. Ainda mais depois do papelão na final. Expulso no primeiro jogo contra o Náutico, nos Aflitos, acabou fora da última partida, na Ilha, e teve que amargar fortes críticas dos leoninos. Não demoraria até ser dispensado no começo da Série B.

De volta a Pernambuco, contratado como um dos principais reforços do ex-rival, Eduardo Ramos é novamente candidato a ficar com a coroa. Mas apesar de algumas boas atuações, o meia ainda não roubou a cena. Tem comido pelas beiradas, em ritmo mineiro. Quem sabe guardando o ´sprint` para o momento decisivo, ao contrário do ano passado.

Há ainda outros candidatos em Rosa e Silva. Antes do Campeonato, a renovação de Bruno Meneghel se transformou numa longa novela. A bola rolou e o atacante ainda não fez por merecer o posto de rei, mesmo após algumas boas partidas e gols importantes. Quem corre por fora nos Aflitos é Ricardo Xavier. Ele tem se mostrado um candidato discreto e eficiente. Seu poder de definição pode ser um aliado nesta corrida monárquica. A esperança da torcida do Náutico é que o manto do novo rei seja vermelho e branco. Independente de quem fique com a coroa.

Ilha do Retiro // Sobram candidatos na Ilha

A folha do elenco rubro-negro chegou a R$ 1 milhão por mês neste Estadual. Um patamar que o clube alcançou no Campeonato Brasileiro do ano passado. Tamanho investimento foi direcionado para jogadores renomados em busca do hexa no Pernambucano. De fato, candidatos a destaque na competição não faltam na Ilha, ainda que nenhum deles tenha, por enquanto, brilhado de forma efetiva.

O primeiro a se apresentar como o expoente da campanha rumo ao título foi Carlinhos Bala. Outrora o ´Profeta da Ilha` (Copa do Brasil de 2008), Bala ainda não encaixou uma sequência de boas atuações. Marcou apenas dois gols, ambos contra o América, e sequer vem sendo decisivo na assistência, apesar do esforço financeiro da diretoria para trazê-lo em dezembro.

O atacante Ciro, abalado com a morte do seu pai, passou em branco no ataque do Leão durante muito tempo. Foram 19 jogos de jejum, contabilizando as partidas pela última Série B. A torcida do Sport espera que o gol de Ciro no último domingo possa retomar a sua boa fase. Ainda no ataque, o centroavante Alessandro. Apesar do status de ter sido duas vezes artilheiro da Segundona nacional, o jogador não aguentou a pressão no clube por causa das atuações irregulares e pediu para sair. Candidatura já impugnada.

No meio-campo, Romerito era a esperança para ser o ´motor` do time, como há três anos. No entanto, a sequência de problemas físicos do jogador inviabilizou a sua estreia nesta temporada. O último candidato a astro do time no Estadual acaba de chegar. Após boa passagem no passado - quando chegou custando R$ 100 mil por mês -, o meia Marcelinho Paraíba, de 35 anos, está de volta para conduzir o Sport em campo. Já na estreia, a qualidade de um passe diferenciado, dando criatividade a um setor até então acéfalo. Caso mantenha a motivação, Marcelinho poderá conquistar a majestade no Leão.

Arruda // Thiago Cunha larga na frente

No Arruda, a chegada de Landu foi, de fato, a mais ruidosa. Dentro de campo, porém, a maior esperança da torcida tricolor é outro atacante. Recebido com desconfiança por boa parte dos torcedores por conta da maneira como deixou o clube em sua primeira passagem, Thiago Cunha conquistou o respeito da massa coral com gols. Apesar de lesionado desde a 10ª rodada, ele continua vencendo a briga pela artilharia do Estadual. Praticamente recuperado, o atleta promete que vai em busca da coroa.

Não seria exagero afirmar que a contusão de Thiago Cunha contribuiu bastante para que a coroa de rei do Pernambucano continue sem um dono. O atleta vinha apresentando um excelente desempenho no Estadual. Desde que assumiu a titularidade, na segunda rodada, marcou seis gols, dois deles em clássicos contra Náutico e Sport. Virou ídolo. No entanto, uma trombada com o goleiro Sérvulo, do Central, na derrota por 3 a 0, no Arruda, rendeu-lhe um estresse no ligamento do joelho esquerdo.

Praticamente recuperado, o atacante quer de voltasua vaga no time. ´É bom que fique claro que meu primeiro objetivo é ajudar o Santa Cruz a garantir uma vaga na Série D. Só depois vem as minhas metas pessoais`, destacou. ´Mas sei muito bem do sofrimento da torcida do Santa Cruz nos últimos anos e vou fazer de tudo para dar alegria aos tricolores.`

Enquanto Thiago Cunha não retornar, é o meia Weslley quem vem conduzindo o time. Atleta regular e experiente, Weslley tem um papel fundamental no esquema do técnico Zé Teodoro. A expectativa é de que ele cresça ainda mais com a chegada dos novos reforços.

Central // Um ´intruso` entre os favoritos

No interior, o único clube que parece ser capaz de coroar um craque nesta temporada do Pernambucano é o Central, dono de uma campanha sólida, na 2ª colocação após 14 rodadas. O destaque, como não poderia deixar de ser, é o ´Mago da Bola`. Isso mesmo, Rosembrick. O meia, que já brilhou no Santa Cruz e teve uma passagem discreta pelo Sport, começou a circular nos times intermediários. Em 2010, pelo Ypiranga, marcou seis gols. Se neste ano ainda não demonstrou o mesmo faro (balançou as redes no domingo, de pênalti). Mesmo assim, já virou o maestro da Patativa. Basta lembrar da goleada sobre o Santa no Arruda, por 3 a 0, quando deu assistências.

Além disso, o ´carisma` de Rosembrick joga a seu favor, com declarações polêmicas ou, no mínimo, curiosas. Antes da abertura do Pernambucano, ele declarou o seguinte ao Superesportes: ´Eu vou ser o craque do Estadual. Vou ganhar o carro e vendê-lo. Com o dinheiro da venda, vou comprar cestas básicas e sair distribuindo para as crianças em cada esquina`. Deixando a modéstia de lado, Rosembrick já é mesmo o ídolo do Alvinegro, cada vez mais próximo de garantir a sua vaga na semifinal do Estadual. Vale dizer que Rosembrick não está só nesta eleição. Dentro do próprio Central, concorrência.

Com cinco gols, na vice-artilharia, o atacante Danilo Pitbull também quer um lugar ao Sol, com a cora de rei. Ele dá sequência à boa fase, após ter conquistado o título brasileiro da Série D, vestindo a camisa do Guarany/CE, que eliminou o Santa na competição.

 

Os reis da última década

2001

O imperador do hexa

E também do centenário! Kuki chegou no Recife após uma carreira inexpressiva no Sul do país. De forma surpreendente, o baixinho tornou-se artilheiro. E ídolo! Em sua primeira temporada, impediu o hexacampeonato do Sport e colocou ponto final num jejum de títulos que já durava 11 anos. Justamente no ano do centenário timbu.

2002

Rei Sangaletti V

O título estadual do Náutico era quinto consecutivo de Sangaletti. O volante havia conquistado três pelo Sport. Saiu do Sport em 2001, sendo bicampeão pelo Náutico. ´Uma coisa que ficará marcada na minha vida é ter sido pentacampeão pernambucano no mesmo dia que o Brasil foi penta mundial`, declarou na época.

2003

O príncipe da Ilha

Como é comum com os atletas pratas da casa, Cléber Santana foi alvo de muita desconfiança da torcida do Leão quando ascendeu para o profissional. Muitos julgavam-no lento. Outros, ´rebolador`. Era, na verdade, talentoso. E aos 22 anos, ao lado de Nildo, Cléber reconduziu o Sport ao título. Atualmente está no São Paulo.

2004

O retorno do rei

Em seu último título, Kuki foi mais uma vez decisivo. Vice-artilheiro do Estadual com 12 gols, o baixinho levou o Náutico ao seu terceiro título da década. Marcou, inclusive, o último gol da vitória sobre o Santa Cruz por 3 a 0, na grande final, no Arruda. Nesta temporada, o Náutico conquistou a sua última vitória sobre o Sport na Ilha do Retiro. E Kuki marcou neste jogo.

2005

A majestade de 1,62m

Para suceder um baixinho no trono, outro. Carlinhos Bala foi absoluto em 2005 com a camisa do Santa Cruz. O Tricolor conquistou o título de forma antecipada, sem a necessidade de finais, com Bala deixando todos os rivais para trás literalmente. Veloz e objetivo, o jogador conquistou neste ano o seu primeiro título estadual.

2006

O rei do Leão de ouro

Geraldo tinha um colar com um leão de ouro pendurado no pescoço. E voltou para a Ilha do Retiro no início da temporada para reconduzir o Sport aos momentos de glória. Na decisão do campeonato, enfrentou oseu principal rival ao ´trono`. E venceu Carlinhos Bala e o Santa Cruz. Foi o último grande momento de Geraldo com a camisa leonina.

2007

O mais jovem dos reis

Vitor Júnior chegou como desconhecido na Ilha do Retiro e, aos 20 anos, ganhou a admiração dos torcedores do Sport com dribles rápidos e desconcertantes. Foi o maestro rubro-negro e, indiscutivelmente, o craque do Estadual. Deixou o clube do segundo semestre, contratado pelo Santos e não mais obteve destaque no futebol nacional. Está no futebol japonês.

2008

´O leão dos leões`

A definição acima consta no caderno especial publicadodo Diario de Pernambuco em alusão ao título estadual rubro-negro. Fazia referência a Romerito. O meia que, na base da determinação, conseguiu superar a rejeição inicial e transformou-se em ídolo, no símbolo do tricampeonato do Sport. Romerito voltou para o Goiás naquela temporada e está novamente no Sport.

2009

O xerife-rei

O capitão Durval levantou a taça do tetracampeonato na casa alheia. ´Fazer isso não cansa de jeitonenhum. É o meu 5° título no Sport, e esse ficará marcado mesmo por ter sido campeão nos Aflitos`, disse na época. Símbolo da fase áurea do Leão, o ´melhor zagueiro do Brasil` deixou saudades. É, atualmente, o pilar da defesa do Santos.

2010

A diarquia rubro-negra

A disputa pelo trono voltou a ser intensa. O folclórico Brasão reivindicou a coroa. Na semifinal, foi destronado por Carlinhos Bala, que disse ser o único rei de Pernambuco. Na final, Eduardo Ramos e Ciro derrubaram Bala e dividiram a coroa, instalando uma diarquia - governo de dois soberanos -, hoje rachada. Ciro está no Sport. Ramos defende o rival Náutico.