Sport

Homero Lacerda concede entrevista exclusiva sobre a Arena do Sport

Ex-presidente rubro-negro diz ser um defendor do projeto, mas é contra o modelo que vem sendo adotado pela atual direção

postado em 01/04/2011 09:48 / atualizado em 01/04/2011 11:06

Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco , Cassio Zirpoli /Diario de Pernambuco

Julio Jacobina /DP/ D.A Press
O gravador digital ficou ligado durante 1 hora e 28 minutos. No escritório no 21º andar do empresarial Excelsior, em Boa Viagem, uma visão ampla da metrópole recifense, tendo no horizonte a Ilha do Retiro. Na mesa, os dois telefones fora do gancho, para evitar qualquer interferência. As duas secretárias também haviam sido avisadas. Sentado à mesa, Homero Lacerda, 64 anos. Presidente do Sport no título brasileiro de 1987 e apontado como opositor ao modelo da futura arena do clube. Partiu do próprio ex-dirigente a vontade de falar, de conceder a entrevista. Cansado de discutir, sem conseguir incutir na atual diretoria o que pensa em relação ao projeto do estádio, Homero falou. E muito. Confira os principais tópicos da entrevista concedida ao Superesportes. Amanhã, o outro lado desta história, com uma entrevista exclusiva com o presidente leonino, Gustavo Dubeux.

A favor da arena, contrário ao modelo


´Não é uma colocação de oposição, pois somos amigos (se referindo a Dubeux). Não admito ouvir que sou contra. Eu sou a favor da arena. Uma coisa é apoiar a diretoria do Sport e outra é um compromisso com o Sport. Para sermos verdadeiramente fiéis às pessoas, precisamos ser, antes, fiéis aos princípios. Precisamos contribuir com um debate construtivo, pois sou contra a utilização do legado que recebemos dos nossos antepassados para a construção de hotel e salas comerciais.`

Sem hotéis e empresariais

´Mesmo que fosse do Sport, essa ideia desvirtuaria o clube, sócio-esportivo. Independentemente da condução do negócio, sou basicamente contra a construção de espigões comerciais e residenciais dentro do Sport. Isso já foi tentado várias vezes. Eu mesmo derrubei uma proposta em 1995, só de espigões. Ainda nem existia 'arena'. No fim, o Sport só ficaria com 20%, pois o terreno não valia muito.`

O valor do terreno

´O negócio está envolvendo a área do Sport, avaliada em torno deR$ 1 bilhão. Sou do ramo imobiliário há 35 anos e sei disso. O terreno vale R$ 600 milhões, mas o potencial de expansão amplia o valor da área. Durante 30 anos, vão sugar todo o suco da laranja e entregar o bagaço. Nos primeiros 10 anos o Sport só vai receber 7% da renda do hotel. Quando o clube receber, vai ter que implodir.`

Viabilidade rubro-negra

´Sou empresário e já consegui empréstimo no BNDES. Só não se consegue empréstimo se não tiver garantia ou se o projeto não for viável. A garantia do Sport é o patrimônio de R$ 1 bilhão, em uma área valorizada no coração da cidade, e a viabilidade é a força da sua torcida, a maior do Nordeste, disparado. No Sudeste eles têm vários times, mas aqui no Nordeste, com todo o respeito ao Bahia, só tem o Sport.`

Tática para o crédito

´É preciso sanar as dívidas para liberar o empréstimo e R$ 400 milhões? Do passivo total, o clube precisaria pagar entre R$ 30 mi e R$ 40 milhões para ficar habilitado. Isso conseguiria fácil, com antecipação de receitas ou empréstimo-ponte no banco. Isso não é nada para o Sport. E que me perdoe o governo de Pernambuco, mas o projeto do Sport é mais viável que a Arena PE.`

Estudos aprofundados

´Era para o Sport enviar uma comitiva para viajar o mundo e saber como foram construídas as últimas dez arenas. Em que moldes? Tem muita coisa que não sabemos. Acabei de saber por você, agora, que o nome da arena do Sport pode ser vendido por R$ 60 milhões, como o da Copa. O Sport não sabe o seu valor. Tudo está acontecendo de maneira amadora. Era preciso realizar uma licitação clara para a escolha do consórcio. Garanto que teria gente que aceitaria construir um estádio para operar só por 15 anos, metade do proposto pela Plurisport, a escolhida.`

Hexa

´Se fosse para escolher entre o hexa ou subir para a Série A esse ano, eu ficaria com uma dúvida muito grande, por causa do calor da torcida, da rivalidade local. É uma conquista importante. Mas se for hexa, o acesso vai ser consequência.`

1987

´Lamentavelmente, o título brasileiro ainda está dividido eo Sport só entrou com uma interpelação judicial, pedindo que Ricardo Teixeira mude a decisão. Era para entrar com uma ação que respeitasse uma decisão transitado em julgado, mais incisiva. Ainda pode reverter, mas não pode ficar parado. O torcedor não aceita isso.`

Gigante

´Com o patrimônio que tem, o Sport já é um dos clubes mais ricos do país. Se tiver uma arena e administrá-la sozinho, o Sport será um dos quatro maiores clubes do país, abaixo só de Flamengo, Corinthians e São Paulo.`

Shows e ´divisão`

Essa arena para 45 mil pessoas é um padrão no mundo inteiro. Para shows, cabe 60 mil pessoas. O Nordeste nunca teve um show do porte do U2 e se vier para cá, estoura. Pernambuco está bombando, vivendo uma fase inédita no crescimento econômico. Coloque um preço médio de R$ 300. Em uma noite, teríamos uma renda de R$ 18 milhões. Três shows em sequência e a receita chegaria a R$ 54 milhões, fora rendas indiretas, como bares, patrocinadores, chegando a R$ 70 milhões de faturamento. No fim, o Sport ficaria um percentual disso tudo. Uma arena dessa daria R$ 100 milhões por ano, com todos os eventos, sem precisar dividir com ninguém.

Trem-bala

Desde 1975 eu sou conselheiro do Sport. Nesses meus 40 anos de vida intensa no Sport, vivi momentos importantíssimos na vida do clube, mas o mais importante é esse, porque envolve a alienação do legado de todos os nossos antepassados rubro-negros, que construiram isso durante 105 anos. Na minha concepção, a coisa está sendo feita de maneira apressada, açodada Esse processo da arena é mais importante que o título brasileiro de 1987. O resto da vida do Sport vai ser decidido agora! Eu tentei alertar em 2008 que tinha um bonde passando na Ilha do Retiro, o bonde da história, que era um clube campeão da Copa do Brasil e com uma renda de R$ 50 milhões. Agora, quero alertar para um trem-bala parado na sede, que é um patrimônio de R$ 1 bilhão, com a possibilidade concreta de construir uma arena na véspera da Copa do Mundo, com Pernambuco e o Brasil crescendo como nunca. O Sport perdeuo bonde e agora vai perder o trem-bala zero quilômetro.

Saudade da velha Ilha


´Na hora que derrubar o estádio vai doer no fundo da minha alma. Aquele concreto está impregado de cazá-cazá, suor e alegria.`