Sport

Entrevista

Gustavo Dubeux: "Não sou irresponsável de fazer uma arena sem respaldo"

postado em 02/04/2011 09:32 / atualizado em 02/04/2011 20:21

Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco , Cassio Zirpoli /Diario de Pernambuco

É difícil marcar um horário com o presidente do Sport, Gustavo Dubeux. Empresário do ramo imobiliário, o dirigente se divide entre clube e empresa, com um celular que não para de tocar. Na elegante sala da presidência do Leão, um entra e sai de diretores a todo momento. A reportagem do Superesportes aguardou mais de uma hora na sala de visitas. Enquanto isso, documentos oficiais do Sport iam sendo trazidos por membros da diretoria. Assinaturas, rápidas reuniões e muitas decisões. Após a espera, finalmente ocorreu a entrevista com o rubro-negro que quer mudar o clube para sempre com a construção de uma nova arena no lugar da setentona Ilha do Retiro. Consciente do corre-corre, o dirigente abriu a conversa pedindo desculpas pela demora, justificada pela mudança na sua própria vida após aceitar o convite de lideranças do clube para assumir o comando executivo. ´Eu estou zerando meu lazer. Meu lazer agora é o Sport`. Numa conversa direta, o foco no futuro.

Balanço inicial


Não tenha dúvida que sabia da pressão. Acho que aconteceram várias coisas nesse período. E mais: quando você entra para uma missão como esta, de ser presidente do Sport, você precisa estar preparado para o máximo. E está acontecendo o máximo. Estamos fazendo o máximo para alcançar os objetivos.

Risco ao patrimônio

A questão da arena, primeiro, é um assunto que todos os rubro-negros, todos os associados têm que se mexer para que isso ocorra. O patrimônio não está sendo alienado, vendido. O Sport está se modernizando e colocando investimentos dentro do seu patrimônio. É uma oportunidade que não acontece em qualquer ocasião. Estamos aproveitando o momento de crescimento do estado, de crescimento do governo e também a localização que o nosso terreno permite.

Próximo passo

O que é que vai ocorrer: a proposta vai ser levada para a assembleia dos sócios e depois será criada uma comissão pelo Conselho. Até porque o presidente não terá essa responsabilidade sozinho. Ele vai ter essa responsabilidadedividida com a sua diretoria, com a comissão. Eu não sou irresponsável de fazer uma coisa sem respaldo da grande maioria, daquelas pessoas que militam e conhecem o Sport. Enfim, será feito um estudo para ver a viabilidade deste projeto, financeira e economicamente, e o que vai trazer de novas receitas para o clube que hoje não tem.

Risco ao patrimônio

O Sport não vai alienar, vai apenas fazer uma negociação onde serão investidos em torno de R$ 400 milhões para você ter uma construção nova de uma arena multiuso e equipamentos que vão gerar receitas de locação para o clube. No futebol, 100% da receita de bilheteria continuará com o Sport.

30 mil sócios

Os direitos de donos de cadeiras cativas e camarotes vão ser mantidos. E o associado vai ter um número maior de assentos, com mais conforto, para ser bem atendido, já que a nossa meta é chegar no fim deste ano com 30 mil sócios pagantes. Para isso, precisamos dar boas condições. Quando a arena estiver pronta, o estádio será todo coberto e com cadeiras, com conforto. Veja isso com a bilheteria de um estádio de 45 mil lugares. Maior.

Shows na Ilha

Vai se manter tudo o que se tem hoje, mas com uma nova receita, que será dos grandes shows (com capacidade para até 60 mil pessoas). Nos primeiros dez anos, o Sport vai ter 7% da receita bruta desses shows. Nos dez anos seguintes (do 11º a 20 º ano da concessão), 15%. Nos últimos dez anos (21 a 30 anos), 25%. Essa é mais uma receita do negócio arena.

Aluguel do complexo

Do restante do complexo, com a parte comercial, o Sport vai ter inicialmente 12% do total dessas locações. Hoje o clube só tem a receita de locação do restaurante Varanda e de alguns bares internos. Dentro da negociação, a Deloitte (consultoria) vai verificar que existe um retorno preestabelecido para o investidor. A partir do momento em que haja uma melhora desse retorno, isso vem para crescer na receita do Sport, com uma porcentagem melhor. O que estamos vendo é que vai ter um aumento substancial no orçamento do Sport. E não é daqui a 30 anos, mas sim no primeiro dia do funcionamento do novo complexo.

Sede poliesportiva

Uma das questões é a nova sede social. Com a criação da comissão, com a participação de advogados e arquitetos, vai ser muito bem discutida, para ver o que é melhor. Vai ter um parque aquático no mesmo nível, com melhorias nos mesmos equipamentos que temos hoje. Durante o período vai ter um estudo minucioso para o sócio. Durante o período de construção, vamos fazer convênios com clubes, como Internacional ou outros, para o sócio desfrutar o que tem hoje.

Especulação imobiliária

Assino qualquer documento dizendo que, nem direta ou indiretamente, a minha empresa nem a empresa de Luciano Bivar, de José Aécio nem a de Gerson Lucena, estará presente nesse empreendimento. Agora, se a Engevix (investidor do consórcio) puder contar com empresas como Odebrecht e Camargo Corrêa (construtoras), que venham querer chegar e se incoporar a esse investimento, será bom. Desde que se mantenha a participação que o Sport terá no negócio, o pactuado. Quanto mais empresas fortes, melhor para o Sport, pois a gente terá a tranquilidade de que este empreendimento chegará até o fim. A dificuldade para um clube obter financiamento, como o Internacional (no caso do estádio Beira-Rio), mostra que é impossível para os clubes agir sem investidores.

Período de estudos

Caso a assembleia aprove, vai haver um período de seis meses para discussão de projetos, para avaliação e ratificação dos retornos financeiros. Só poderemos fazer se tiver a aprovação do Conselho Deliberativo. Se depois de seis meses chegarmos à conclusão de que não é bom fazer o negócio, não faremos. O Executivo terá a responsabilidade dividida. Ninguém vai gastar dinheiro se o Sport não tiver intenção, mas o clube só vai fazer se todos os pré-requisitos forem preenchidos. Até o término desses estudos, vamos iniciar o trabalho. Se não for viável a arena, tomaremos a atitude de reformar a sede e o estádio. Se continuar como está, não dá. Precisa ter conservação, e o Sport parou na última vez apenas na década de 1980 (de 1982 a 1984). Precisa de uma solução para isso`.

Arena Pernambuco, plano B?

Isso precisa ser avaliado. O Sport acha esse projeto da Copa é belíssimo, é uma realidade. O governo do estado está de parabéns. Espero que os outros clubes façam uma adesão o mais rápido possível a esse projeto. Acho que esse complexo do Sport é complementar. Tem sinergia. Todas as empresas que conversamos disseram que há mercado para os dois equipamentos, até pela proximidade, pelo projeto de mobilidade que o governo está desenvolvendo. Jogar nos dois estádios precisa ser analisado, para ver se fecha a conta do negócio. A priori, é mais difícil, mas é preciso ser analisado.

Polêmica do boi

Eu estou levando na brincadeira, claro. Antes eu estava recebendo cerca de 15 ligações por dia, com torcedor pedindo para pagar logo essa dívida e acabar com essa história. Paguei (R$ 5 mil) e hoje não recebo mais nenhum telefonema. Meu objetivo foi me livrar de tantas ligações. Estou leve. Além disso, posso assegurar que a dívida nãofoi paga com dinheiro do clube. Fiquei satisfeito, pois o boi ainda foi doado a uma institução de caridade.