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Via Crúcis

A espera além da dor

Família do alvirrubro que caiu no fosso do Arruda sofreu para conesguir o seguro que está embutido na compra de qualquer ingresso para os jogos de futebol

postado em 05/06/2011 15:19 / atualizado em 05/06/2011 15:25

Era uma tarde ensolarada de quinta-feira. À espera da reportagem do Superesportes, Marliuda Amaral e Silva a via passar sentada em uma cadeira de plástico na calçada de casa. O olhar estava perdido. Tristeza estampada no rosto. Ela ainda sente a perda repentina do filho Antônio Bezerra da Costa Júnior. O motoboy foi ao Arruda no clássico entre Santa Cruz e Náutico, do dia 20 de março deste ano. Quando comemorou o primeiro gol alvirrubro, caiu no fosso. Por necessidade, Dona Branca, como é conhecida, partiu em busca do seu direito. Foi atrás do seguro que está embutido na compra de qualquer ingresso para os jogos de futebol. Não sabia, mas uma dolorosa espera estava por começar.

Antônio praticamente bancava as despesas da casa com o salário mínimo e o cartão de alimentação de pouco mais de R$ 100 que recebia. Era ele quem também fazia companhia, dava suporte a tudo que a mãe precisava. “Era um bom filho, um bom amigo”, recorda, já sentada no sofá de casa. É ali na sala, aliás, que as lembranças de Antônio ainda se fazem presentes com a bandeira do Náutico e papéis com fotos dele na parede.

Mais do que justiça, o seguro a que tem direito passou a ser uma necessidade. O bar que tem no terraço da residência praticamente fechou, o teto da casa precisa de reparos urgentes e ela sequer tem aposentadoria. Vive agora com a ajuda da filha Patrícia Regina dos Santos e do genro Lécio Bezerra dos Santos. “Ele não só ajudava em casa. Depois que ele se foi, não durmo, não como direito”, afirma.

 

 

 

Demora
A dolorosa caminhada da família começou logo após a morte do filho. Dirigentes ligaram, prometeram ajuda e, depois que a poeira assentou, sumiram. Foram três dias de sofrimento para aguardar a liberação do corpo por parte do Instituto Médico Legal (IML), que estava em greve. Em seguida aconteceu a primeira visita à Federação Pernambucana de Futebol (FPF), onde foi dada a instrução de procurar a seguradora Metlife, no bairro da Ilha do Leite, com documentações básicas. Na primeira ida à empresa, souberam que a papelada era muito maior.

Com isso, passaram mais 15 dias para receber o atestado médico do IML e o exame toxicológico. Ainda tiveram que esperar um mês para ter um atestado do médico que socorreu Antônio no Hospital da Restauração.

Com a entrada no pedido do seguro, foi necessário mais espera até que, na última quarta-feira, Dona Branca recebeu uma ligação da seguradora informando que o dinheiro estava na conta. O depósito foi feito exatamente uma semana depois que a reportagem entrou em contato com a Metlife. “Por causa dessa história a gente escutou muita piada dizendo que a gente vai ficar rico”, diz a filha Patrícia Regina.

O gerente regional da Metlife, Solon Barretto, esclareceu que o pagamento do seguro tem um prazo legal de 30 dias corridos para ser liberado. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) é o órgão responsável pelo cumprimento do prazo. No caso de Antônio, segundo Solon, ficou registrado o pedido do seguro apenas em 4 de maio. Portanto, tudo ocorreu dentro do prazo. “É importante as pessoas entenderem que, para ter acesso ao seguro, é preciso procurar a empresa o quanto antes”, declara Barretto.