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Goleiro Gustavo anuncia sua aposentadoria

Arqueiro, que atuou pelos três principais clubes de pernambuco, anuncia sua aposentadoria aos 33 anos

postado em 10/06/2011 15:11 / atualizado em 10/06/2011 19:22

Diario de Pernambuco/D.A Press
"Parei. Chegou o fim", foi exatamente dessa maneira que o goleiro Gustavo confirmou a notícia de que está encerrando sua carreira de jogador de futebol profissional. O arqueiro, que passou pelos três principais clubes do estado (Náutico, Santa Cruz e Sport), vai se dedicar aos estudos. Voltará a cursar psicologia e quem sabe um dia voltará ao mundo da bola, mas, dessa vez, em sua futura profissão.

Gustavo conversou com exclusividade com a equipe do Superesportes. O bate-papo foi longo. Ele falou sobre como se deu sua decisão, bastidores da marcante penalidades máximas da final do Pernambucano de 2006 e outras revelações.  

Como foi essa decisão?

Consegui jogar em alto nivel até agora aos 33 anos, mas chegou a hora de partir para outra coisa. Cada um tem sua hora e chegou o meu momento. Eu ainda estou novo para começar outra profissao. Quero voltar aos estudos. É algo que já vinha pensando, não foi assim de uma hora para outra. É uma decisão madura.

Diario de Pernambuco/D.A Press
Quais estudos?

Psicologia. Eu tranquei a faculdade no terceiro período e agora vou retomar os estudos. Ainda não sei se vai ser aqui no Recife ou em outro lugar. Estamos pensando sobre isso. Talve possa atuar em psicologia esportiva, ainda é cedo, mas é um mercado aberto. Tem gente da profissão que não entende como é a linguagem do jogador de futebol. Como se deve falar, já vi palestras que com cinco minutos, já tinha jogador sem prestar mais atenção... É uma possibilidade.

Sua família reagiu de que forma?

Todos me apoiaram. É como eu disse, foi algo pensado, amadurecido. Minha esposa me deu muita força. Enviei alguns e-mails para algumas pessoas falando dessa decisão. Peguei algumas pessoas de surpresa... Muita gente está me respondendo e eu tenho me emocionado muito lendo esses e-mails. Não sabia como eu era tão querido por alguns, até choro emocionado.

E os jogadores do Sport reagiram como?
Eu não falei para eles nada não. Não externava isso lá no clube. Acho que chegou num momento de correr atrás de outras prioridades. Não dá para conciliar a carreira jogador com a de estudos. Você joga até três competicões por ano. Fica concentrado, viaja. Não dá para se dedicar, ter o diploma só por ter eu não quero. Vou me dedicar nos estudos tão quanto me dediquei nos campos.

Diario de Pernambuco/D.A Press
Como você observa sua carreira de uma maneira geral?

Olha, sou trabalhador, mas o futebol não foi tão generoso comigo quanto é com outras pessoas. Eu fiz meu melhor, mas acho que não conseguirei de agora para frente outros grandes projetos no futebol. Tive sorte de sempre passar por times campeões. Tive três acessos. Mas estava me perguntando e para Deus o que tava acontecendo nestas últimas temporadas. Tenho uma duas filhas, uma com apenas 45 dias de vida. Então, repensamos isso tudo. E cheguei nesta conclusão. De um modo geral, tenho grandes lembranças. Cheguei a ser quatro vezes campeão pelo Figueirense, fui duas vezes campeão com o Sport.

Qual a lembrança mais marcante?
Foi a decisão por pênaltis (Sport e Santa Cruz, na final do Pernambucano de 2006).
Ali foi especial. Senti muita pressão na hora do pênalti do Lecheva. Na hora que ele pegou a bola passou o filme ruim na minha cabeça. Fiquei pensando como ia ser o futuro da gente. Orei muito a Deus naqueles pênaltis. Quando ele se preparava para chutar eu falei para Deus "Se você achar que eu mereço defender, fala no meu coração o lado que eu tenho que saltar". Lecheva foi chegando perto da bola uma voz dentro de mim me mandou ir para o canto esquerdo. Eu não costumo decidir antes do batedor olhar a bola, mas ali eu segui o que Deus me falou.

Diario de Pernambuco/D.A Press
E aquela comemoração?

Você não sabe o que faz naquele momento. Foi muito marcante. Eu estava com uma camisa por baixo que dizia "Jesus é a vitória. Ele foi minha forma de manter o equilíbrio. Na hora que a câmera da televisão veio me filmar, eu pensei: "Não posso ficar me achando responsável por isso tudo, até porque todos que estão nos bastidores fazem parte de uma conquista". Então, eu tapei meu rosto com a mão e apontei com a outra para a minha camisa.

Gustavo Ramon do Nascimento

Altura: 1,91 metros
Peso: 87 quilos
Times em que atuou:
União São João SP(94a 97e 99), Novorizontino SP(08), Americano RJ(08), Nacional SP(99), Guaratinguetá SP(00/01), Figueirense SC(01a 05), Sport Recife PE(06/07), Figueirense SC(08), Santa Cruz PE(09), Nautico(10), Sport Recife(10/11).
Títulos: Campeão Paulista Juniores 96,Tri-Campeão Catarinense 02/03/04, Bi-Campeão Pernambucano 2006/07, Campeão Catarinense 2008
Três acessos da série B para a série A do Campeonato Brasileiro,(1996 União São João), (2001 Figueirense), (2006 Sport Recife)
Diario de Pernambuco/D.A Press

 

Segue abaixo o e-mail que Gustavo enviou para seus amigos mais próximos anunciando sua aposentadoria.

A vida de todos nós é composta de ciclos que começam e terminam de tempos em tempos, sses períodos vão de breves passando a medianos e outros duram a vida toda, é assim nas diversas áreas que compõem a nossa existência, feliz é aquele que consegue detectar qual o momento de cada ciclo e se dedica ao máximo para cumprir o seu papel nesse processo... É assim nos estudos, nas paixões juvenis, nos casamentos, na criação dos filhos, na nossa área profissional e etc. Já dizia o grande sábio “Tudo em o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”.

Pois bem, acredito que chegou o momento de finalizar um ciclo, confesso que não está sendo fácil, mas acredito que cumpri o meu papel. Procurei fazer com intensidade o meu melhor dentro das minhas limitações humanas, obtive conquistas e perdas, descobri que a vitória não é o resultado em si de uma partida, mas sim o ensinamento que tiramos daquela lida.

Talvez não tenha conseguido tudo aquilo que sonhei ao longo da caminhada, desde muito cedo vi que muito dos meus sonhos eram vaidade e projetos egocêntricos, vi que a vida não pode ser vivida só e que a verdadeira realização consiste em compartilhar/beneficiar o coletivo, embora a tão sonhada independência financeira não fora atingida conquistei algo que não há dinheiro que compre: Respeito, Carinho e Admiração pela maioria daqueles que viviam a minha volta.

Penso que outras prioridades no momento sejam mais importantes, então fica aqui o agradecimento a todos aqueles que lutaram comigo nesses 20 anos de carreira, foi muito prazeroso e confortante sentir que nós estávamos juntos, se não juntos fisicamente no dia a dia, estávamos ligados no mundo espiritual, fui sustentado pelos seus pensamentos positivos, pelas suas palavras de ânimo e o mais importante pelas suas orações. Obrigado por me carregarem no colo quando eu não tinha forças, todas as minhas conquistas são suas também.

Profissionalmente falando talvez não tenha muito a oferecer em termos de experiência para um novo mercado de trabalho, em compensação sou um papel em branco sem manchas, manias e defeitos pronto a ser preparado e lapidado como uma flecha prestes ao lançamento em direção ao objetivo proposto pelo flecheiro.
Tão motivado quanto saí de casa aos meus 14 anos recomeço um novo ciclo profissional, embora não saiba o que me espera pela frente, sei que serão pequenos estes desafios e obstáculos, diante do ímpeto que me faz seguir em direção ao Alvo.

Jesus morreu e ressuscitou aos 33 anos, sua morte e sua ressurreição estiveram muito próximos, o fim e o começo, a derrota e a vitória. A linha que separa esses dois estágios é muito tênue cabe a nós também não nos entregar sabendo que a perseverança é a chave que abre a porta para as vitórias. Afinal o sofrimento é passageiro, desistir é para sempre.