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Amigos, amigos, decisão à parte: um papo com os técnicos de Santa Cruz e Sport

Superesportes reuniu os conterrâneos Ney Franco e Vinícius Eutrópio para uma conversa 'mineira' antes do primeiro confronto dos dois na carreira

postado em 28/04/2017 09:04 / atualizado em 28/04/2017 13:44

Peu Ricardo/Esp.DP
Vinte e cinco dias e 158 quilômetros de distância separam os nascimentos dos mineiros Vinícius Eutrópio e Ney Franco. Cinquenta anos depois, tendo o futebol como elo condutor, o Recife foi o ponto de encontro dos dois. Treinadores com carreiras bem distintas, eles se enfrentarão pela primeira vez neste sábado, pela semifinal da Copa do Nordeste. Eutrópio, mais velho e há mais tempo na cidade, no comando do Santa Cruz. Ney, com pouco mais de um mês na capital pernambucana, à frente do Sport. Rivais apenas por noventa, 180 minutos. Conterrâneos para sempre. E que aceitaram o convite do Superesportes para um bate-papo descontraído em um restaurante especializado em comida mineira. No cardápio, futebol, estratégias para o clássico e a impressão dos dois à capital pernambucana.

Com relação a ambientação ao Recife, Eutrópio larga com certa vantagem. Isso porque, além de ter iniciado a pré-temporada com o Santa Cruz, o treinador também conhece a capital da época de jogador, quando encerrou a carreira no Náutico, em 1999. Já Ney Franco, apesar de já ter tido outros convites para treinar o Sport em anos anteriores, só desembarcou no Aeroporto dos Guararapes para morar na cidade no fim de março.

"Ele tem que conhecer Carneiros. Lá é a praia", brincou Eutrópio, em tom de guia turístico. "Outro dia fui em Muro Alto. Achei muito legal. Passei um sábado lá e voltei à noite. Aos poucos, a gente vai conhecendo. Mas pelo que vou percebendo na nossa agenda, vai demorar", emendou, numa brincadeira crítica, Ney Franco, referindo-se à maratona de jogos a que o Leão vem se submetendo, com quatro competições simultâneas. "Da época em que eu joguei aqui pelo Náutico, acho que a cidade está mais limpa, mais bem sinalizada. Antes tinha muita van. Pela minha função agora de treinador, e não de jogador, estou curtindo mais atrações turísticas e culturais", completou o treinador coral.

Momentos

O maior conhecimento da cidade quem tem é Eutrópio. Quem vive o melhor momento, entretanto, é Ney. Enquanto o técnico rubro-negro é apontado como um dos responsáveis pela melhora do futebol do time, Vinícius Eutrópio vem tendo seu trabalho contestado. Principalmente após a eliminação no Campeonato Pernambucano. Ao ponto de um insucesso frente o conterrâneo poder abreviar a sua segunda estadia em Pernambuco.

Por isso, se o primeiro duelo entre os dois já teria um peso especial por se tratar de um clássico válido por uma semifinal, ganha ainda mais contornos de decisão para o comandante coral. "O Sport tem referências técnicas como Diego (Souza) e Rithely. Tem um individual muito forte, porque investiu pesado nisso. Também tem uma base montada já. A preocupação é com o todo", destacou Eutrópio.

Do lado de Ney Franco, a preocupação principal não é segredo. Ele, que na época do encontro ainda não vinha observando o Santa Cruz com afinco, já sabia da necessidade de evitar as faltas na entrada da área devido ao alto aproveitamento do zagueiro Anderson Sales nas cobranças. "Sei que vai ser um confronto muito difícil. Esse tipo de jogo a gente tem que considerar que não existe favoritismo, independentemente do mando de campo. Sport tem jogadores que conhecem muito bem a equipe do Santa Cruz", declarou.

Ficha dos técnicos

NEY FRANCO Silveria Júnior
Naturalidade: Vargem Alegre (MG)
Idade: 50 anos
Currículo: Ipatinha, Flamengo, Atlético-PR, Botafogo, Coritiba, São Paulo, Vitória, seleção brasileira sub-20 e Sport
Títulos: Mineiro (2005), Copa do Brasil (2006), Carioca (2007), Paranaense (2010), Série B (2010), Copa Sul-Americana (2012) e Sul-americano sub-20 (2011) e Mundial Sub-20 (2011).

VINÍCIUS Soares EUTRÓPIO
Naturalidade: Mutum (MG)
Idade: 50 anos
Currículo: Ituano, Fluminense, Grêmio Barueri, Estoril, Duque de Caxias, América-MG, Figueirense, Al-Ittihad Kalba-EAU, Chapecoense, Ponte Preta e Santa Cruz.
Título: Catarinense (2014)

Superesportes entrevista Ney Franco e Vinícius Eutropio

Qual o nível de satisfação de vocês com a estrutura dos seus clubes?
Eutrópio - O Santa Cruz tem uma particularidade. A estrutura do estádio é muito boa. E por isso se moldou em cima do que tinha. Física, de logística, de recurso de software, nós temos o que todos os times têm no Brasil. Mas tem o ponto negativo, que realmente só tem ali (o Arruda) para treinar. Mas há também o ponto positivo: quando joga, é como tivesse em casa. Os atletas estão ali todo dia e sobem para fazer o jogo onde eles treinam. Isso é muito bom, mas não é o ideal. Mas acredito que (ausência de CT) não influencia muito no meu trabalho.

Ney - Em termos de estrutura, eu me surpreendi com o CT do Sport. Já me encontrei com Eduardo Baptista e ele falou que, se eu tivesse proposta, poderia ir porque os caras me dariam toda a condição de trabalho. Quem me falou isso também foi o (Alexandre) Gallo. Quando cheguei, comprovei. É acima do que eu esperava. Além da parte física, as pessoas que trabalham no dia a dia são muito boas, competentes. Estão vivendo o Sport. Peguei um clube já bem-estruturado. Me cabe chegar e acrescentar alguma coisa a mais.

Como enxergam as possibilidades do rival no Brasileiro?

Eutrópio
- Se eu falar (de vaga na) Libertadores, ponho uma baita responsabilidade no Ney (risos). Acho que tudo é conquistável, você tem que fazer por onde. A história é se preparar. Falo que Campeonato Brasileiro é um rali de regularidade. O que é isso? Logística, parte financeira, qualidade de trabalho, dos jogadores e ambiente. Uma série de coisas que ao longo dos jogos metade dos times se auto elimina. O mais importante é cumprir tudo isso. Acho que o Sport tem total possibilidade de cumprir todas essas metas.

Ney
- Vinícius foi feliz no que ele colocou. A Série B, como a Série A, é um campeonato muito difícil. Na Série B, a gente vê o Santa Cruz como clube tradicional, de torcida. Se conseguir manter regularidade, der estrutura para trabalhar, sem problemas com jogador e com a comissão técnica tendo condições de implantar o trabalho dela, é um candidato a subir. Mas é uma competição muito difícil. A equipe pode se acertar, dar arrancada, mas tem que saber passar por momento difíceis. Acho que é uma das equipes fortes para subir.

Quem você gostaria de contratar do rival?

Vínícius
- Eu aceito o Diego (Souza) (risos). A gente põe outro número nele (risos).

Ney
- Estou precisando de um batedor de faltas (risos). Hoje, no Brasil tem poucos talentos de falta frontal. Por mais que você não peça para o seu jogador cavar faltas perto da área, em algum momento isso vai acontecer. Hoje, um batedor de falta faz a diferença.