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Por meio do esporte, atletas com histórico de problemas de saúde dão a volta por cima

Conheça a história de pessoas que venceram problemas como depressão e obesidade e hoje usufruem dos benefícios de uma vida saudável

postado em 23/09/2017 16:00

Marlon Diego/Esp DP
Trabalho, estudo, família, obrigações de casa, lazer. O cotidiano repleto de afazeres provoca em muitas pessoas o afastamento de outra tarefa essencial à vida humana: a prática de exercícios físicos. Sedentarismo que, muitas vezes, leva a um caminho de problemas de saúde, obesidade, estresse e depressão. Caminho que, quanto mais se percorre, mais difícil se torna de voltar. As histórias de superação de algumas pessoas, porém, servem de exemplos para mostrar que é possível deixar o fundo do poço. Voltar pode ser um recomeço de vida; basta, para isso, resiliência e força de vontade.

Na grande maioria dessas pessoas, o primeiro passo rumo a um estilo de vida mais saudável é motivado pelo sentimento de prazer ou de dor. “O que faz muitas pessoas mudarem drasticamente o estilo de vida é o medo de alguma perda ou o desejo de obter algum benefício advindo dessa mudança. A gente geralmente sabe o que não quer para si, embora às vezes tenhamos dificuldade em definir o que de fato queremos”, explica a psicóloga e coaching motivacional Técia Caetano.

O caso do empresário Ênio Arruda ajuda a ilustrar o ponto. Em 2012, quando pesava 123 kg, ele descobriu que o corpo começava a apresentar implicações da péssima rotina de saúde que levava. “Tive problemas de pressão, glicemia e ácido úrico, entre outros”, conta. O ápice, porém, foi quando começou a ter apneia - suspensão momentânea da respiração - durante o sono e soube que precisaria dormir todos os dias com um aparelho médico.

A apreensão em torno do problema o fez decidir mudar completamente o modo como vinha levando a vida. “Foi aí que me vi no fundo do poço e percebi que precisava voltar. Tomei uma decisão: era naquele momento ou nunca mais”, relembra. A partir dali, Ênio mudou a alimentação e começou a praticar exercícios físicos diariamente. O resultado foi rápido. E o motivou a ir além no esporte. Além de correr e pedalar, passou também a nadar e entrou no triathlon, onde hoje, além de praticar em alto rendimento, também empreende: ele é sócio do Power34 Recife, corrida de duathlon que chegará em outubro à sua segunda etapa.

“A gana de crescer profissionalmente, de melhorar de vida, me fez inverter os valores. Quando cheguei a uma situação drástica, vi quais eram minhas prioridades de verdade, porque quando a saúde vai embora, é difícil de recuperar”, pondera Ênio, que hoje desfruta de benefícios do esporte que vão além do físico. “A prática de um esporte forte como o triathlon te obriga a ter uma mente forte e me faz manter a calma mesmo em momentos tensos”.

Como deixar o sedentarismo?
Embora o gatilho para uma mudança de vida seja quase sempre um estado de dificuldade, é possível iniciá-la antes disso. Algumas estratégias podem ajudar para que a motivação não esmoreça durante o caminho. “Antes de tudo, é preciso estabelecer o que realmente se quer e, a partir daí, procurar evidências disso. Em se tratando de um estilo de vida saudável, é importante indicar fatos concretos, como ter mais disposição e garantir mais tempo de vida. Trazer razões palpáveis ajuda a pessoa a não perder a motivação”, inicia a coaching Técia Caetano.

A especialista também recomenda que a pessoa avalie o nível de importância que essa conquista terá para a sua vida e, consequentemente, o quão grande será a perda caso ela não chegue ao objetivo. “É preciso ver o quanto isso é importante para a pessoa. Quanto mais importância ela atribuir à conquista, mais estímulo ela terá para continuar. Trata-se da motivação pelo ganho”, coloca.

Por fim, Técia enumera dois fatores que ajudam a pessoa a motivar-se diariamente. Um deles é a projeção do futuro. Segundo a especialista, visualizar a si próprio sentindo os ganhos do novo estilo de vida é um combustível para seguir com a rotina de exercícios. “Quando você se projeta, é como se já tivesse uma sensação de ganho imediata”.

Outro ponto, igualmente importante, é criar um gatilho mental, algo que lembre constantemente da necessidade de deixar de lado a preguiça e investir na melhora dos hábitos. “Uma música que te lembra da hora de acordar para fazer a atividade, uma figura que você olha todo dia no guarda-roupa, são exemplos de coisas que remetem a pessoa ao tempo em que ela começou a mudar os hábitos, e servem para que ela prossiga no objetivo”, conclui.

Dicas
1 - Definir o que se quer e estabelecer evidências concretas disso
2 - Avaliar o nível de importância da conquista para a vida
3 - Projetar a sua vida com os ganhos da mudança
4 - Estabelecer gatilhos mentais para se motivar

Inspiração no companheiro
Gabriel Melo/Esp DP
A vontade de ter um filho foi o principal combustível para que o empresário Jefferson Mariano buscasse a mudança de estilo de vida. Em 2013, após oito anos de tentativas, ele e a esposa, Gleice Mirelle, perceberam que a obesidade era o maior obstáculo para que conseguissem. A partir dali, decidiram que ambos fariam uma cirurgia para redução de estômago. Como não poderiam realizar ao mesmo tempo, Gleice foi a primeira.

“Enquanto ela estava no período pré-operatório, eu entrei de cabeça no esporte. Quando ela realizou a cirurgia, eu já tinha perdido quase 15 kg. No final das contas, nem precisei fazer a redução”, comemora Jefferson, que passou dos 118 kg para os 78 kg em pouco tempo e, dois meses após a cirurgia da esposa, já recebeu a notícia de que seria pai.

Durante a transição, o atleta treinava semanalmente natação, ciclismo e corrida. Não demorou para que decidisse praticar o triathlon de forma mais séria. Depois da mudança, o esporte para Jefferson se tornou muito mais do que uma ferramenta para perder peso. Virou uma parte indissociável da sua rotina. “Virei um atleta de rendimento, então acordo todos os dias às 3h30 da manhã e realizo duas sessões de treinos, uma de manhã e outra à tarde. Antigamente, era só comer, trabalhar e dormir”, pontua o atleta, que realiza uma parte dos treinamentos semanais na companhia da esposa.

Hoje em dia, Jefferson direciona seus treinamentos visando as várias competições multiesportivas que participa - o Power34 Recife, de duathlon, será a próxima. E, enquanto mantém a rotina forte de exercícios, procura arrastar outras pessoas com seu exemplo. “Muitos amigos viram no meu exemplo uma força para seguir o mesmo caminho. Exemplo disso foi o meu primo, que também tinha problemas de peso, começou a praticar triathlon comigo e também mudou completamente seus hábitos por minha causa”, completa.

Vencendo a depressão
Morisa Fernandes/Divulgação
O ano de 2008 marcou negativamente a vida de Emerson Cláudio. Após uma cirurgia mal sucedida, ele contraiu uma infecção no quadril e precisou remover uma parte do osso. Passou três meses de cadeira de rodas e hoje possui uma perna maior que a outra, o que lhe obriga a andar de muletas. A sequência de fatos deixou Emerson com um quadro depressivo, que só começou a mudar cinco anos depois.

“Eu estava assistindo televisão, quando vi um recado de um atleta que tinha um tumor na cabeça e estava fazendo fisioterapia. Em determinado ponto, ele disse: ‘Você, que tem alguma deficiência e fica apenas em casa, sofrendo com a sua família, vá fazer atividade física’”, relembra. “Aquilo mexeu comigo. A partir daí, decidi que começaria a praticar corrida”.

Desde então, participou de diversas competições. A mais significativa foi a Corrida Internacional de São Silvestre, em 2016. Apesar da limitação física - Emerson ainda precisa correr de muletas -, ele disputa com o máximo de empenho. “Não existe uma categoria para quem corre de muletas, então eu nunca venço as corridas. Mas quando eu termino sempre tem alguém na torcida, me incentivando, e é isso que me motiva”, se orgulha.

A entrada no mundo esporte coincidiu com a melhora do quadro emocional de Emerson. E, atualmente, serve como fonte de estímulo para a vida. “Essa perda de saúde tão repentina me fez pensar muita besteira, ficar triste, desmotivado. O esporte me fez parar de pensar essas coisas. Quem pratica esporte diariamente sabe que ajuda muito nisso”, finaliza.