Tênis

Telianas severinas

Uma visita ao passado de Teliana Pereira, a melhor tenista do Brasil na atualidade

Superesportes foi ao povoado de Barra de Tapera, onde nasceu a atleta pernambucana, e se deparou com o seu futuro caso tivesse ficado no Agreste

postado em 11/08/2013 08:00 / atualizado em 11/08/2013 17:02

Celso Ishigami /Diario de Pernambuco

Paulo Paiva/DP/D.A Press
“A gente estava ali atrás, brincando, quando o pai deles veio buscar todo mundo pra ir embora de vez. Lembro que Teliana e Júnior se abraçaram comigo e meu irmão dizendo que não queriam ir.” A cena narrada por Mailson dos Santos, um dos primos dos tenistas Teliana e José Pereira Júnior, é de 1996. Do exato dia em que o agricultor José Pereira voltou ao povoado de Barra de Tapera, em Águas Belas, após passar um ano e oito meses em Curitiba, onde trabalhava como servente em um clube de tênis. Voltava para buscar a esposa e os filhos. Levá-los para o novo lar da família, na capital paranaense. Apresentá-los a um futuro que nunca conheceriam se tivessem ficado por lá.

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Fosse assim, muito provavelmente, a melhor tenista do Brasil na atualidade teria uma enxada nas mãos ao invés da raquete. “A gente acorda cedo, cuida da casa, da roça, dos meninos. Tem muita coisa pra cuidar”, destaca Tanielma, uma das primas de Teliana. Aos 22 anos, ela está casada e com filhos. Assim como a prima tenista, três anos mais velha, Tanielma também é apaixonada por esportes. Tivesse uma chance, poderia ter se tornado uma jogadora de futebol. Poderia. Mas, como tantas outras crianças esquecidas no interior do país, não teve a mínima chance. Restou o lazer. “Toda semana a gente junta umas meninas pra jogar bola.”

Uma castração do sonho ao qual todos, em Barra de Tapera, estão acostumados. E não é somente o sonho de ser atleta. Mas também de ter uma profissão. Aspirantes a jogadores, “doutores” e outras vocações acabam assumindo papeis que lhe cabem, que lhe restam. “Muita gente diz que eu deveria ser modelo, mas a gente não tem as condições pra isso. O tempo vai passando, aí quando vai ver, já estamos dentro de casa, cuidando dos filhos”, lamenta Taciane dos Santos, prima da tenista. “Quando a seca aperta tem bastante gente que não aguenta e acaba indo tentar se virar em Caruaru, no Recife, Maceió ou no Sul”, acrescentou.

Quem aguenta, fica e aceita o destino. Há também quem deixe o local em busca dos sonhos e acaba voltando. “De vez em quando volta um arrependido por ter vendido o pouco que tinha pra tentar a vida no sul. Volta com menos do que saiu”, conta dona Tina, 87 anos, que passou a vida inteira em Barra de Tapera, vivendo a única vida à qual foi apresentada. Fala feliz porque a neta Teliana conseguiu trilhar outro caminho. “Ela me conta que já conheceu o mundo inteiro jogando. Uma menina que saiu daqui da Tapera conseguir viajar o mundo inteiro. Isso é uma coisa maravilhosa, né?” É.

Paulo Paiva/DP/D.A Press