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PERNAMBUCO

O tamanho do buraco: Náutico e Santa Cruz possuem passivo gigantesco na Justiça do Trabalho

Tal rombo atrapalha o planejamento financeiro e está distante de ser zerado

postado em 20/12/2014 18:00 / atualizado em 21/12/2014 16:38

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Roberto Ramos, Jaqueline Maia e Nando Chiappetta/DP/ D. A Press
Fruto de más gestões e políticas de contratações perdulárias, as dívidas trabalhistas dos clubes são uma consequência nefasta para a saúde financeira dos clubes. Os três grandes do Recife sofreram e ainda sofrem com ações na Justiça do Trabalho que comprometem parte significativa de seus orçamentos. O Sport, entretanto, caminha para ser exceção. O rubro-negro tem uma dívida de R$ 5,8 milhões, que deve ser sanada em breve. Ao passo que Náutico e Santa Cruz têm que gerir um pesado passivo: R$ 23,4 milhões dos alvirrubros, R$ 46,5 milhões dos tricolores. Essas são as dívidas junto à 12ª Vara da Justiça do Trabalho.

Desde julho de 2003, a 12ª Vara do Trabalho do Recife se tornou o responsável pela concentração das execuções dos processos contra os três clubes da capital. Ou seja: as ações correm normalmente em todas as varas trabalhistas e quando não há mais o que ser discutido, vão para a 12ª, a fim de se fazer o acordo para o pagamento. Para isso, 20% das rendas de cada clube são depositadas em uma conta, administrada pela vara, que tem o juiz Hugo Melo como responsável.

Desde então, dentre conciliações, quitações e acordos pagos, quase 800 ações foram solucionadas por Náutico, Santa Cruz e Sport. “Dr. Hugo Melo é uma pessoa que contribui muito com o futebol de Pernambuco, pois permite, através da concentração na 12ª vara, o pagamento de receitas mensais que são depositadas em conta específica. Assim, protege-se o patrimônio dos clubes, principalmente de Náutico e Santa Cruz”, faz questão de enaltecer Gustavo Ventura, jurista e vice-presidente de futebol alvirrubro.

Não é por acaso que Ventura elogia a atitude do magistrado. Mesmo tendo solucionado mais de 300 processos, o Náutico ainda tem outros 118 na 12ª Vara, que somam um débito de R$ 23.470.086,84. “Esse quadro do nosso passivo trabalhista é antigo, vem de décadas. Todos os gestores, ao longo de suas administrações, vêm pagando. E não é diferente conosco. Só neste ano pagamos em torno de R$ 3 milhões”, esclarece Ventura.

Santa Cruz
Com uma dívida que corresponde a praticamente o dobro da alvirrubra (R$ 46.547.786,03), o Santa tem cumprido com os acordos firmados. Além disso, de acordo com Eduardo Lopes, advogado do tricolor, desde o primeiro dia da gestão de Antônio Luiz Neto o clube tem procurado estancar as dívidas. “Antes dele, quando alguém era desligado do clube se mandava procurar o direitos na Justiça. Nós tentamos fazer acordos, evitando novas ações”, explicou.

Prudente, Eduardo Lopes evita falar em período para que a dívida coral seja sanada. “O pagamento é de 20% sobre a receita do clube. Quanto mais o clube arrecadar, mais esse montante aumenta, ou seja, mais dinheiro vai para a 12ª vara. Hoje, em média, recolhemos R$ 250 mil por mês”, informa. “Por isso, não posso dar um prazo para extinguirmos esse passivo trabalhista. Vai depender da nossa arrecadação”, conclui.

Dívida quase zerada
Enquanto Náutico e Santa Cruz têm dívidas elevadas e não têm como prever quando vão conseguir saldar definitivamente seus débitos trabalhistas, o Sport vive situação completamente diferente dos dois rivais. Atualmente, o rubro-negro tem apenas 10 processos na 12ª Vara do Trabalho do Recife, que somam um valor de R$ 5.807.898,51. As dívidas do Leão, entretanto, já estão negociadas e, em breve, vão ser sanadas. Por essa razão, o clube é o único da capital que pode Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas (CNBT).

“O Sport já fez um programa desse no primeiro semestre do mandato de Gustavo Dubeux. Nós saneamos, pagamos tudo o que tinha. Mas, aí, surgiram estes novos débitos, de gestões anteriores”, argumenta Arnaldo Barros, futuro vice-presidente executivo do Leão. Uma destas novas dívidas é justamente a de Ricardinho, a maior do clube e a segunda maior dos três grandes, no valor de R$ 3.268.269,98. “Mas mesmo essa de Ricardinho já está negociada e as parcelas já estão sendo pagas”, esclarece.

Falta apenas uma ação ser negociada pelo Sport. E é com Nelsinho Baptista, ex-técnico leonino e pai do atual treinador rubro-negro, Eduardo Baptista. Nelsinho, campeão da Copa do Brasil de 2008, é credor de R$ 509.997,96. Porém, como vive no Japão (onde trabalha atualmente) e sua advogada é de fora, um acordo ainda não pôde ser concretizado. “Realmente tem essa dificuldade. Mas, o dinheiro está provisionado na 12ª vara. Ou seja, o que temos na conta cobre as nossas dívidas, sem problema algum”, assegura Barros.

SANTA CRUZ
247 processos
R$ 46.547.786,03 valor das dívidas

NÁUTICO
118 processos
R$ 23.470.086,84 valor das dívidas

SPORT
10 processos
R$ 5.807.898,51 valor das dívidas

* Aguardando pauta para tentativa de acordo

SANTA CRUZ
203 conciliados e cumpridos
56 quitados
8 acordos em andamento **

NÁUTICO
232 conciliados e cumpridos
65 quitados
6 acordos em andamento **

SPORT
163 conciliados e cumpridos
63 quitados
3 acordos em andamento **

** foi feito acordo, mas ainda há parcelas a serem pagas

Os três maiores credores

Santa Cruz
R$ 6.265.497,10 Antônio Santana de Souza “Neto”
R$ 1.583.480,27 Joel “Zanata”
R$ 1.200.539,31 Daniel Coracini

Náutico
R$ 1.484.524,08 André Gheler
R$ 1.469.153,47 Vágner
R$ 1.417.427,08 Eduardo

Sport
R$ 3.268.269,98 Ricardinho
R$ 820.584,99 Andrade
R$ 509.997,96 Nelsinho Baptista