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SELEÇÃO BRASILEIRA

Faltou o famoso "QI"para técnico Tite na CBF

Tite acumula experiências no currículo, mas vê amizade de Gilmar Rinaldi com Dunga determinar a escolha do sucessor de Felipão

postado em 26/07/2014 18:29 / atualizado em 26/07/2014 18:38

Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense

Adenor Leonardo Bachi, o Tite, investiu em um plano de milhagens na tentativa de ir à Copa do Mundo de 2018, na Rússia, mas, na hora de resgatar os pontos, percebeu que a propaganda era enganosa. O extrato emitido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) indicava que o saldo seria insuficiente para ocupar a poltrona de treinador da Seleção. O assento em classe executiva era carta marcada. Estava reservado a uma velha prática da cartolagem. Mais uma vez, o QI (quem indica) goleou a meritocracia.

AFP PHOTO / TOSHIFUMI KITAMURA

Donos do destino do futebol brasileiro, o presidente da CBF, José Maria Marin; seu sucessor eleito, Marco Polo Del Nero; o coordenador de seleções, Gilmar Rinaldi; e o gerente das divisões de base, Alexandre Gallo; ignoraram a pesquisa do Datafolha. Nela, Tite aparecia como favorito à sucessão de Felipão. Pela segunda vez, a entidade passou a quem sonha com o cargo a mensagem de que bons currículos servem para ser arquivados no RH. Quando assumiu em 2006, por exemplo, Dunga jamais havia sido técnico.


Preferido pelo povo, Tite subiu todos os degraus possíveis. Pelo Corinthians, ganhou um Paulistão, um Brasileirâo, uma Libertadores, uma Recopa e um Mundial de Clubes. No Inter, colecionou uma Sul-Americana. No arquirrival, Grêmio, faturou a Copa do Brasil. Na dupla Gre-Nal, foi campeão estadual e levou até mesmo os modestos Caxias e Veranópolis — este na segunda divisão — ao sucesso no Gauchão. Em entrevista exclusiva ao Correio, em 2012, Tite não escondeu o sonho de assumir o cargo depois da Copa e clamou pela permanência de Mano Menezes, que ainda não havia sido demitido. “A única coisa que eu coloco é: deixem o profissional da Seleção Brasileira concluir o seu ciclo. Terminada a Copa de 2014, com certeza vão estar olhando para o Tite e para outros profissionais que vão estar bem no momento. A minha ambição depois da Copa, sim, é vislumbrar a Seleção”, afirmou.

Conterrâneo de Tite, Dunga nem aparecia entre os oito técnicos citados na enquete do Datafolha. Assim como em 2006, quando assumiu o cargo pela primeira vez, era zebra. Um título da Copa América, outro da Copa das Confederações, o primeiro lugar nas Eliminatórias para o Mundial de 2010 e o aproveitamento de 76% nos quatro anos à frente da Seleção levaram a agência de viagens da CBF a cancelar o check-in de Tite e a emitir novamente um bilhete na janelinha em nome de Dunga.

Pior do que atender aos pré-requisitos e ser preterido, é perceber a desinformação dos responsáveis por escolher o sucessor de Felipão. Ao assumir o cargo de coordenador de seleções, Gilmar Rinaldi traçou o perfil. “Ele fará uma coisa que eu gosto: estudar, se atualizar. Vamos viajar muito, assistir treinamentos, interagir com outros treinadores. Nós temos de adaptar métodos bem-sucedidos do mundo todo ao nosso estilo e à nossa cultura.” Tudo o que Tite havia feito nos últimos sete meses.

Desconectada
A CBF não percebeu ou ignorou os passos de Tite após a saída do Corinthians. O Correio teve acesso ao plano de reciclagem do treinador (leia arte). De olho na sucessão da Seleção, o treinador esteve na Inglaterra e em Portugal vendo ao vivo partidas da Liga dos Campeões. Em Londres, conheceu a estrutura do Arsenal e interagiu com o técnico francês Arsène Wenger. Além disso, viu partidas da Libertadores, estudou in loco os cinco jogos da Copa do Mundo disputados no Beira-Rio, em Porto Alegre, e teve como livro de cabeceira uma literatura italiana especializada em sistemas táticos.

 

A última prova de que a escolha de Dunga foi na base da amizade foi dada por Gilmar Rinaldi em uma justificativa absurda, talvez irônica, aos treinadores preteridos pela CBF. “A mensagem para quem não foi escolhido é que está na hora de buscar mais coisas para o currículo, aprender mais, intercambiar, saber um pouco mais das coisas que acontecem no mundo. O treinador que não foi escolhido, que se prepare e tenha uma certeza: se um dia tiver um bom trabalho e o nosso perfil, ele será chamado”, afirmou o coordenador de seleções, em entrevista ao FoxSports.


A atualização de Dunga
Nos oito meses desempregado após a saída do Internacional, o treinador diz ter viajado em busca de atualização, mas não deixa claro onde foi nem o que viu, e afirma ter se reciclado durante a Copa em conversas com treinadores e ex-jogadores. “Eu também trabalhei para me aprimorar. Recentemente, na Copa do Mundo, tive ótimas experiências com Enrico (Arrigo) Sacchi (treinador italiano aposentado), com o holandês Ruud Gullit, com o croata Zvonimir Boban e com o espanhol José Mari Bakero. Nós falamos sobre futebol, aquilo que é dentro de campo. O que um atleta, uma equipe necessita, então foi uma experiência muito boa”, diz.