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ESPORTE PARALÍMPICO

Atletas profissionais são voluntários no Parapan-Americano de Jovens

Experientes, eles contribuem para a competição e são torcedores nas horas de folga

postado em 25/03/2017 20:00 / atualizado em 27/03/2017 15:03

MPIX/CPB Divulgação

Jogador de rúgbi em cadeira de rodas, Luis Fernando Cavalli vivenciou seis anos de uma rotina intensa com a Seleção Brasileira. Acostumado a lidar com disciplina rígida de treinos, alimentação e cobranças, ele decidiu, aos 40 anos, experimentar algo que nunca tinha feito: ser voluntário de um evento esportivo. A oportunidade foi nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens, em São Paulo. “É algo bastante novo. Não é porque você vai a um restaurante que sabe como funciona o serviço da cozinha, do garçom. Tenho a visão das competições como atleta. Pela primeira vez, estou vendo o lado do voluntário”, observa.  
 
A mesma sensação está vivendo Mariane Ferreira, ciclista olímpica por oito anos e, desde 2014, pilota da ciclista paralímpica Márcia Ribeiro, da classe Tandem. Acostumada a estar acompanha de uma bicicleta nas muitas competições que disputa, Mariane, desta vez, passa mais tempo sentada para coordenar o trabalho com os voluntários. “Está sendo uma experiência boa e, ao mesmo tempo, diferente. Agora, exerço uma função administrativa, tenho de saber sobre todas as modalidades e supri-las”, explica.
 
Os dois são profissionais de educação física e fazem mestrado em esporte adaptado. No caso de Mariane, o convite veio por meio do orientador dela, José Júlio Gavião, que está coordenando o serviço voluntário do evento realizado em São Paulo, de 20 a 25 de março. “O clima está sendo bem familiar para mim. Só essa outra visão, mais administrativa, que está sendo a parte mais diferente”, diz Mariane.
 
Já para Luis Fernando, a pressão é o fator que mais diferencia as duas experiências. “Aqui, como voluntário, tenho horários a cumprir, as missões, mas não tenho uma disciplina tão rígida e necessária quanto a do atleta no dia-a-dia”, observa. Ainda que o clima seja mais descontraído, o coração do jogador bate mais forte pelo espírito competitivo. “Confesso que eu prefiro ser atleta, a vibração é mais gostosa. Mas isso é muito individual, talvez seja até porque eu esteja mais acostumado com isso. Ser voluntário também é bem legal”, assume Luis Fernando.

Daniel Zappe/MPIX/CPB


Horas de folga

Nas horas de folga, os voluntários aproveitam para virarem torcedor. No Parapan de Jovens, eles são facilmente identificados pela camisa verde e, normalmente, pela simpatia. Quando a empolgação está alta nas arquibancadas, provavelmente há um grupo de voluntários envolvido na torcida. Com o Brasil em quadra, alguns puxam gritos de guerra e inventam até coreografia. Vale até puxar grito de outros países, como o tradicional “chi, chi, chi, lê, lê, lê” quando os adversários pedem.
 
Com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio-2016, os brasileiros passaram a ter uma familiaridade maior com o trabalho voluntário em competições esportivas. “Ainda não é como na Europa, nos Estados Unidos, mas a adesão que nós tivemos no Parapan aqui mostra que o pensamento sobre o voluntariado no Brasil vem mudando”, avalia o jogador de rúgbi Luis Fernando. Para ele, a diferença não se restringe ao aumento da adesão. O perfil dos interessados também mudou. “Vi voluntários muito qualificados. Tem pessoal que é professor universitário e está trabalhando como voluntário. É muito bacana”, comenta o jogador, que também é professor universitário.

MPIX/CPB Divulgação

Interesse em ser voluntário

Para o Parapan de Jovens de São Paulo, 270 pessoas foram selecionadas entre as 703 inscritas. Há gente de 17 estados e de 43 universidades diferentes. Marisa Pereira Pessoa, 29 anos, saiu de Manaus para ser voluntária no evento na capital paulista. Profissional de educação física, ela trabalha com o esporte paralímpico há quatro anos. “Descobri minha paixão pelo paradesporto na faculdade”, conta. Quando voltar a Manaus, os alunos dela terão uma bela surpresa: ela gravou vídeo de atletas mandando mensagens de incentivo para mostrar a eles. “Participar deste evento é uma oportunidade de conhecer outras realidades e ver que trabalhos com o esporte paralímpico estão dando certo em outros lugares”, comemora.
 
O capixaba Roque Marinato Júnior, 32 anos, foi voluntário nos Jogos Olímpicos e nos Paralímpicos do Rio-2016, está no Parapan na mesma função e já faz planos para repetir a dose no Sul-Americano de Cochabamba, Colômbia, e no Pan-Americano de 2019, além dos Jogos de Tóquio-2020. “Depois que você é contagiado pelo espírito voluntário, já era”, brinca. O profissional de educação física explica que consegue se planejar para dedicar tempo à participação em eventos como esses pela antecedência com que programa tudo.

A repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)