Por onde anda

Fumanchu e a melhor campanha do Santa Cruz no Brasileirão

Jogador esteve na partida em que o Tricolor ficou de fora da final por causa de um gol impedido do Cruzeiro, em 1975

postado em 19/06/2012 09:00 / atualizado em 09/11/2012 10:09

Yuri de Lira /Diario de Pernambuco

Em 1975 o Santa Cruz alcançava o seu ápice em nível nacional. O Tricolor era a sensação do País. Disputando o Brasileirão com outros 41 clubes, os corais conseguiram chegar às semifinais da competição. O ataque daquele time era infernal para os adversários. Nunes, o Cabelo de Fogo, Pio e Fumanchu. O trio ajudou o Mais Querido a fazer o que nenhuma equipe do Nordeste havia feito até então: conseguir um quarto lugar em um Campeonato Brasileiro - sem contar as edições da Taça Brasil. Apesar da boa campanha, pairou por muito tempo um sentimento de frustração no Arruda. Segundo relatos da época, o Santa foi sumariamente prejudicado na partida que decidiu um dos finalistas do certame. Jorge Luiz da Silva, o Fumanchu, lembra o que aconteceu naquele 7 de dezembro de 1975. O ex-jogador aproveitou ainda para falar do Santa, da vontade de ter disputado a Copa do Mundo da Argentina e revelou o que anda fazendo atualmente.

Arquivo/DP
O gol ilegal
O estádio José do Rêgo Maciel estava cheio. O adversário era o Cruzeiro. O Santa Cruz abriu 1 a 0, em um pênalti cobrado pelo próprio Fumanchu. Os mineiros empataram ainda na primeira etapa. A vantagem do empate era coral. Mas do outro lado também estava um dos maiores esquadrões do futebol brasileiro nos anos 70. A Raposa tinha craques do quilate de Raul Plassmann, Nelinho, Piazza, Palhinha e Joãozinho. Eles viraram o jogo para 2 a 1. O mesmo Fumanchu deixou tudo igual aos 28 minutos, mas os celestes ganharam, de forma dramática, no último minuto. Aos 45 do segundo tempo, Palhinha, que estaria em posição de impedimento, foi quem deu a vitória aos time de BH: 3 a 2. O Arruda caia em pranto. Em seguida, o Cruzeiro acabou perdendo o título para o Internacional, mas, no ano seguinte, ganhou nada mais nada menos que a Taça Libertadores da América.

Nostalgia e decepção após 37 anos
Fumanchu recorda aquele fatídico duelo no Arruda com um misto de nostalgia e decepção. "Não merecíamos sair derrotados. O nosso time era melhor. Os jornais de todo o Brasil comentavam sobre a gente", afirma. "No final do jogo, o Palhinha fez um gol completamente impedido. Tudo mundo viu, menos o juiz", lamenta.

Radio Cultura FM/Castelo
Fumanchu não largou o futebol
Hoje, aos 59 anos, o ex-ponta mora no sul do Espírito Santo, em Castelo - cidade onde nasceu. Não deixou o futebol. Pelo menos em parte. Trabalha como apresentador e comentarista esportivo de uma rádio local. Chegou a fazer um curso de treinador, mas preferiu não exercer a função. "É muita instabilidade na profissão. É difícil trabalhar assim", justifica.

Saudade da bola
Fumanchu pendurou as chuteiras em 1985, quando atuava no Deportivo Guabirá, time de segundo escalão da Bolívia. "Quando vi aonde eu fui parar, decidi me aposentar", brinca. "Mas ainda hoje eu sinto muito falta de jogar profissionalmente. Do convívio, da emoção de entrar em campo, sobretudo dos meus tempos no Arruda", ressalta.

CONFIRA UMA GALERIA DE FOTOS DE FUMANCHU E DO JOGO DE 1975

Tricolor de coração
Fumanchu diz que não esqueceu o Santa Cruz. Acompanha o clube coral mesmo a quilômetros de  distância."Procuro saber de tudo. Sou muito grato ao Santa Cruz. Depois que passei pelo Arruda, consegui dar uma guinada na minha carreira como atleta. Foi uma fase inesquecível, atuando ao lado de jogadores como Givanildo (Oliveira), Levir (Culpi), Lula (Pereira), Ramón e Nunes", fala. O Cabelo de Fogo, por sinal, mantém uma estreita amizade com Fumanchu até hoje. "Jogamos juntos também no Flamengo e desde então não perdemos contato. Nunes mora no Rio de Janeiro, é aqui pertinho. Vez ou outra a gente se visita", revela.

De vendedor pirulito a ídolo do futebol
O ex-jogador não se arrepende de nada que fez nos tempos que jogou bola. Não era para menos. É dono de uma carreira irretocável. De vendedor de pirulitos em Castelo, que logo lhe rendeu o apelido de Pito na infância, Fumanchu chegou a defender clubes como Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense e América do México, além de uma passagem pelo Sport, em 1973. "Me orgulho de ter feito uma carreira tão bonita. Olho para trás e posso dizer que faria tudo da mesma maneira", diz.

Arquivo/DP


Quase na Copa de 1978
No entanto, Fumanchu carrega uma decepção. Alega que era para ter sido convocado para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. "Foi uma tremenda injustiça que fizeram comigo. Estava em um momento bom no Santa Cruz. Todos já me davam como certo na Seleção Brasileira, mas o (técnico) Cláudio Coutinho preferiu gente como Dirceu, Gil e Tarcísio. Depois o Coutinho me levou para o Flamengo, mas nunca entrei em detalhes disso com ele. A decepção eu levo só para mim", sentencia. "Às vezes discriminam jogadores que atuam no Nordeste", completa.

Ficha de Santa Cruz x Cruzeiro (07/12/1975)

Santa Cruz
Jair; Carlos Alberto Barbosa, Lula, Levir Culpi e Pedrinho; Givanildo, Carlos Alberto e Alfredo (Volnei); Fumanchu, Ramón e Pio. Técnico: Paulo Emílio.

Cruzeiro
Raul Plassmann; Nelinho, Morais, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Eduardo Amorim (Isidoro); Roberto Batata, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira.

Local: Arruda. Árbitro: Romualdo Arppi Filho (SP). Gols: Fumanchu aos 32 e Zé Carlos aos 43 do 1º; Palhinha aos 2, Fumanchu (pênalti) aos 28 e Palhinha aos 45 minutos do 2º tempo. Cartões Amarelos: Pedrinho e Carlos Alberto Rodrigues, Vanderlei e Palhinha. Público: 38.118 torcedores