Violência sem controle

Brigas generalizadas entre torcidas uniformizadas, pichações no entorno dos estádios, quebra-quebra nas ruas da cidade, furtos e arruaça nos ônibus. Sequência de violência associada a integrantes de torcidas organizadas de clubes de futebol, cujo objetivo inicial deveria ser apenas o de torcer, de forma ´organizada`. E só. Há muito tempo, com o crescimento sem controle das facções, cenas assim são registradas em dias de jogos, principalmente nos clássicos, com confrontos entre rivais de grande porte. Se no mundo real a Polícia Militar já tem muito trabalho, no campo virtual não existe qualquer controle para combater esses mesmos atos. Via internet, através de computadores em casas e lan houses, prolifera o número de integrantes em jogos eletrônicos que simulam essa violência. Na velocidade da web, com crianças e adolescentes adotando o mesmo comportamento marginal visto em parte dos integrantes dessas torcidas.

Bastante popular, o game Grand Theft Auto, chamado apenas de ´GTA`, é conhecido pelo modo ´criminoso`, com um avatar (personagem) que vai crescendo à medida em que vai cometendo delitos, desde furtos a assassinatos. No modo multiplayer, gente do mundo inteiro atua numa cidade virtual, com direito a um chat para a comunicação massiva. Inicialmente baseado em ´gangues`, os raios de contato do GTA foram crescendo, paralelamente à pirataria do game. Os patchs criados por programadores possibilitaram uma renderização do jogo, com roupas, acessórios e objetos próprios de cada usuários. Entre eles, as torcidas organizadas.

No site https://organizadasmod.blogspot.com é possível baixar patchs para inúmeras torcidas de todo o Brasil, com atualizações constantes, para milhares de jogadores on-line. Entre as opções, Torcida Jovem (Sport), Inferno Coral (Santa Cruz) e Fanáutico (Náutico), as maiores organizadas dos principais clubes pernambucanos. Ainda que sem a autorização das diretorias das organizadas, integrantes criaram versões vituais, com as mesmas roupas, através de editores de imagem, como o Photoshop.

Para jogar, basta o acesso à internet e uma versão pirata do game, pronto. Nos jogos, dentro de um mapa específico apenas para as torcidas (Organizadas Mod), a linguagem é a mesma dos funks ´proibidos`, repletos de xingamentos e gírias. Nos chats durante as partidas é comum a rápida formação de torcidas apenas com o intuito de combater o rival, com a troca de socos e barrotes de madeira. No mundo ´real`, as torcidas contam com alianças interestaduais, para apoio de logística quando viajam para assistir aos times. Porém, essas alianças também valem no modo on-line, aumentando ainda mais o número de pessoas nos ´duelos`, algumas vezes até agendados.

Cada torcida tem a sua sede no mapa virtual. Todas têm o mesmo objetivo: defender o local, além de tentar ´invadir` a casa do rival e promover o máximo de vandalismo possível na metrópole simulada. Para isso, eles vão de ônibus, ´surfando` em cima dos coletivos. A cada vitória, os vídeos são disponibilizados no Youtube para confirmar o triunfo e provocar.

O game é baseado na 5ª versão do GTA, o San Andreas, desenvolvido pela Rockstar em 2004 para computadores e plataformas de videogame, como Playstation 2 e Xbox. Apesar de já estar defasado em relação às novas versões, o game segue bastante acessado no Brasil no modo multiplayer. Até porque as novas versões dificultaram a realização de patchs para a simulação de torcidas organizadas. No Youtube, os últimos vídeos foram postados há uma semana. Enquanto você lia esse texto, certamente algum duelo virtual aconteceu na grande rede.