A violência cotidiana do nosso futebol

O desejo de estar perto do Santa Cruz, incentivar, apoiar e, quem sabe, presenciar o maior título da história do clube ficou de lado, nesta quinta-feira. Havia algo mais importante. Uma camisa amarela. A camisa da torcida rival. Num impulso, três torcedores que estavam aguardando informações sobre os ingressos para o jogo da volta da Copa do Nordeste, contra o Campinense, abandonaram a fila formada na bilheteria do Arruda. As cenas seguintes traduzem o cenário de intolerância, violência e impunidade que ronda o futebol pernambucano.

O que atraiu a atenção dos três torcedores foi uma pessoa que estava numa bicicleta com a camisa da Torcida Jovem, a principal organizada ligada ao Sport - e com a qual o clube rubro-negro rompeu qualquer vínculo. Com ele, na mesma bicicleta, uma pessoa  com a camisa do Santa Cruz. Isso não importava para os três agressores. Eles correram em direção a bicicleta. Derrubaram-na. Arrancaram, do torcedor do Sport, a camisa. Fizeram o mesmo com o tricolor. Agrediram os dois. Consumaram o roubo à frente de várias testemunhas. No local, nada de policiais nem seguranças.

Assustadas, as duas vítimas se levantaram do chão. A que estava com a camisa da Jovem, correu na direção da Av. Professor José dos Anjos (a avenida do canal). A outra, subiu na bicicleta e saiu na direção contrária. Os agressores, um deles com a camisa roubada na mão, também deixaram o cenário. Haviam conseguido o que queriam. Saíram, certamente, sem lembrar do motivo que os levara até ali. Os ingressos, a final do Nordestão, a possibilidade de um título histórico. O Santa Cruz.