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Entre desconfiança, quase dispensa e oportunidade: Renê completa 100 jogos pelo Sport

Lateral falou sobre seu passado, presente e sonhos com a reportagem do Superesportes

postado em 03/03/2015 08:35 / atualizado em 03/03/2015 08:34

Daniel Leal /Diario de Pernambuco

Allan Torres/Esp. DP/D.A Press
Renê é o símbolo da paciência e da persistência no Sport. Da paciência que a torcida e os profissionais que fazem o clube precisam ter com os atletas que sobem das divisões de base. Da persistência que uma jovem promessa do futebol precisa ter para se tornar uma realidade. Entre a desconfiança, a quase dispensa e a oportunidade, o lateral-esquerdo renasceu no Leão em 2014. Com o técnico Eduardo Baptista, ganhou sequência, regularidade e equilíbrio. É do tipo que consegue ser eficiente sem aparecer muito para a torcida. Sem estardalhaço, foi o único atleta de linha a fazer todos os 38 jogos da última Série A. Sem muitos holofotes e com uma peculiar humildade de quem teve uma infância sem luxos, Renê completará amanhã o seu centésimo jogo pelo Sport. Sobre a expressiva marca, o atleta de 22 anos conversou com o Superesportes sobre os momentos difíceis no clube, a volta por cima e seus sonhos “galácticos”.

A INFÂNCIA

Natural de Picos, no Piauí (mesma cidade de Leonardo, atacante ídolo rubro-negro na década de 1990), Renê chegou à Ilha do Retiro em 2010. “Quem me trouxe foi João Maradona (olheiro). Eu já jogava pela Sociedade Esportiva de Picos (SEP). Mas não era fácil”, contou, relembrando a juventude. “Morava com a minha mãe, meus pais eram separados. Trabalhei com meu irmão consertando ventilador e depois com meu pai consertando bombas submersas (d’água)”, recordou. “Sai de lá querendo dar uma vida melhor a minha mãe. Hoje, daqui a dois meses eu vou acabar de construir uma casinha para ela aqui no Recife e me sinto muito feliz por isso.”



VOLTA POR CIMA

No início de 2014, o Sport chegou a ter quatro laterais-esquerdos: Marcelo Cordeiro, Igor, Danilo e Renê. Sem jogar, o prata da casa parecia condenado à dispensa. “Passou muita coisa na minha cabeça, mas nunca pensei em ser dispensado. Minha mãe e minha mulher me perguntavam por que eu não estava jogando. Mas sabia que quando a oportunidade chegasse, eu iria agarrá-la. Por isso, hoje me dôo ao máximo para nunca mais deixar acontecer o que eu passei naquela época”, disse. A chance veio quando o técnico Geninho foi demitido e Eduardo Baptista assumiu o time como treinador.

EDUARDO BAPTISTA

Oriundo das divisões de base rubro-negra, Renê estava no elenco profissional desde 2012. Mas foi somente com Eduardo Baptista que ganhou sequência: tornou-se titular absoluto, renovou contrato com o Leão até 2017 e teve o salário reajustado. Não em vão, o atleta nunca deixa de agradecer ao técnico à oportunidade. “Eduardo deu confiança e era disso que eu precisava, principalmente quem vem da base quando não vai bem saí do time. Com ele, não. Eduardo procura sempre ajudar, se for mal no jogo ele conversa, mostra o vídeo, o caminho, e sempre dá confiança e isso é um diferencial”, afirmou.

GOLS, UMA PROMESSA

Renê é o atleta que fez mais desarmes e deu mais passes certos no Brasileiro. O terceiro em cruzamentos corretos. Correu mais de 360 quilômetros em 38 jogos. Foi o atleta que mais deu assistências no Sport. Mas gols… Nenhum. Em toda a carreira, somente um, em 2012, contra o Serra Talhada, pelo Estadual. “Isso não me incomoda. Mais quando os meninos (companheiros de time) ficam falando. Procuro sempre ajudar com passes e outros fundamentos. Sempre falo que chego mais feliz em casa quando tiro um gol do que quando faço. Mas Eduardo tem me dado mais liberdade e espero que este ano seja de muitos gols. Acho que está demorando a sair o primeiro e depois que sair o primeiro vai fluir”, disse.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
CEM JOGOS/SONHO
Embora se mostre um atleta atento, que acompanha o que acontece no mundo do futebol, Renê acabou sendo pego de surpresa. Não esperava que já fosse chegar ao centésimo jogo pelo Leão. “É muita felicidade para mim. Sempre quis jogar muito tempo por uma equipe. É uma marca histórica e espero que venham muito mais jogos.” Renê tem contrato com o Sport até 2017. Espera ficar, mas também não esconde o desejo de um dia ir jogar na Europa. “Passa pela minha cabeça jogar pela seleção e na Europa. Sempre sonhei e um dia vou em busca de vestir camisa de um time como o Real Madrid, que sou fã desde os tempos de vídeo game. E brinco sempre que um dia chego lá e eu trabalho para chegar lá em alto nível.”

Números

99 jogos
46 vitórias
22 empates
31 derrotas
54% de aproveitamento

O 100º JOGO

Socorrense-SE x Sport – Copa do Nordeste (22h, quarta-feira)

HOMENAGEM

O departamento de marketing do Sport entregará uma placar comemorativa para Renê antes do jogo contra o Socorrense. Além disso, o lateral-esquerdo deixará de lado a camisa número 6 e atuará com o número 100 às costas.

FRASE

"Eu tinha convicção que Renê poderia fazer o que fez. Eu sabia do potencial e qualidade dele. Minha expectativa é se ele teria personalidade para segurar a vaga. E ele teve! Renê é um lateral de força um bom menino, muito sério e tem demonstrando um bom nível de futebol. Fez por onde alcançar a marca de cem jogos" – Eduardo Baptista, técnico do Sport.

Blenda Souto Maior/DP/D.A Press