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Liderança, assédio, metas e permanência no Sport: Baptista abre o jogo ao Superesportes

Em boa fase na Série A, técnico garante que fica no Leão em entrevista exclusiva

postado em 28/05/2015 15:00 / atualizado em 28/05/2015 12:18

Daniel Leal /Diario de Pernambuco

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Questionado até pouco tempo, Eduardo Baptista viu a situação mudar com o bom início do Sport no Campeonato Brasileiro. Em três rodadas, os protestos por conta dos fracassos da Copa do Nordeste e Estadual se tornaram receio de perder o treinador para outro clube. Em mais uma entrevista exclusiva ao Superesportes, Eduardo garantiu que fica no Sport até o fim do ano – salvo pequenas ressalvas. Falou da promessa Neto Moura (e do puxão de orelhas no meio-canpista), Samuel Xavier e Danilo Fernandes, e revelou o próximo atleta a ser lançado da base.

A torcida está empolgada com o bom momento. Seria, para eles, sonhar demais começar a pensar em título ou em Libertadores?
Acho assim: título, G4... Só em dezembro. Sinceramente, não converso com os jogadores sobre liderança e nada. O foco é o Santos, em ganhar ou pontuar. Em casa, contra o Goiás (quinta-feira, 04/06), a obrigação é ganhar. São objetivos pequenos que vamos traçando jogo a jogo.

Esse grupo do Sport já jogou uma Série A no ano passado e ganhou experiência. Dá pelo menos para sonhar em terminar acima da posição de 2014 (11º)?
A expectativa é que a gente faça uma campanha melhor do que a do ano passado. Faz toda a diferença ter um ano a mais na Série A. Tivemos o privilégio de manter uma base e o grupo fica mais amadurecido. Aprende que a Série A não é um bicho de sete cabeças, que é difícil, sim, tem que enfrentar, brigar por cada metro de campo, mas as chances são iguais. Esse amadurecimento já temos, diferentemente do ano passado. 

Quais os erros que não podem se repetir em relação a 2014?
Quando estávamos em alta, perdemos muitos jogadores. Estamos trabalhando para que isso não se repita. O Sport não tem e nem pode ter um elenco tão grande. É trabalhar para não deixar aquele desequilíbrio (de lesões) voltar.

Qual a análise que você faz do cenário atual para os técnicos no Brasil com essas recentes demissões de Felipão, Muricy Ramalho e Luxemburgo, por exemplo? É o momento para o surgimento de novos nomes, como acontece com você?
Acho que é um momento natural. Técnicos como Muricy se tornaram muito caros, vai contra o momento financeiro complicado do país. Os clubes têm dificuldades e não estão conseguindo pagar os salários que eles merecem. Então, aí vem uma turma nova chegando com vontade. É um estilo diferente e que vem ganhando espaço. Tem aí o Doriva, no Vasco, correspondendo. Tem o Sport, com quase um ano e meio de técnico no comando. É o meu caso, do Doriva, do Argel (Fucks), Emerson Maria… E temos que aproveitar essa chance e entrar nesse hall dos grandes também.

Paulo Paiva/DP/D.A Press

É justamente esse cenário que está deixando a torcida preocupada. A mesma torcida que, em parte, há até pouco tempo vaiava você, hoje se preocupa em mantê-lo até fim do ano. É difícil dar uma garantia, mas é o seu pensamento ficar até o fim do ano no Sport?
Lógico que dependo de resultados. Mas, no que depender da minha vontade, eu tenho que acabar o ano aqui. Ainda me vejo amadurecendo. Sei que tenho também o apoio da diretoria e dos próprios jogadores. Além disso, tem os meninos que estão surgindo da base e precisam de um toque de paciência. Comigo saindo daqui, a outra pessoa vai vir precisando do resultado rápido e é mais difícil ter o carinho que tenho com eles. Tem essa responsabilidade e eu não saio a não ser que as coisas não andem.

E o que tiraria você daqui?
Os maus resultados. Se por acaso ficar insuportável e tiver que ter uma troca, só isso me tira. Não tenho isso de ir para o Sul, tenho que acabar meu trabalho aqui.

Voltando para o time: qual a análise que você faz de Danilo Fernandes. Ele vem de duas boas partidas. Para quem tinha desconfiança…
Fico muito contente. Trabalhei com ele no Corinthians e já observava ele treinando, mas era apenas o quarto goleiro, bem jovem. Lá, ele não vinha tendo oportunidade. Sabia que se tratava de um atleta de qualidade. Ele veio para fazer sombra ao Magrão. Com a contusão do titular, apesar de saber da qualidade técnica dele, ficamos na expectativa para ver como ele iria se portar jogando. E ficamos muito felizes porque conseguimos ter a mesma segurança que o Magrão nos dava. Você sente que os jogadores da defesa confiam nele. Isso era importante. Passar essa tranquilidade era uma preocupação nossa. E o Danilo conseguiu.

E quando Magrão voltar?
Magão tem cadeira cativa e o próprio Danilo sabe disso. Mas o bom é que Magrão pode voltar bem. Não precisa voltar rápido. Ele vai voltar quando tiver em condição de assumir bem. Não vai ter aquilo de ‘ó ,prepara ele rápido para ele voltar logo’. Não. Ele vai ter o tempo dele. É uma contusão delicadíssima para goleiro. Magrão vai se preparar e, quando estiver pronto, volta.

E sobre a lateral direita. Qual a relevância defensiva e ofensiva que a equipe vem tendo com a entrada de Samuel Xavier? Houve uma boa evolução pelo lado, não?
Nós já estávamos bem defensivamente, não vejo tanta mudança. Mas, pelas características dele, começamos a ganhar aquela saída pelo lado. É uma caraterística dele, ser bem agressivo, por isso a indicação dele como reforço. É um atleta que está evoluindo. Fisicamente pode responder melhor ainda, mas isso é com o tempo. Ele vem crescendo e a expectativa é que possa nos ajudar muito.

E a situação de Alex Silva, que está há três meses encostado no departamento médico. Isso incomoda a você?
Preocupa porque já tem um longo tempo. Estou no dia a dia cobrando porque é um atleta que tem qualidade. Além disso, Samuel foi meu jogador em 2011 e também pode atuar como um volante. Se eu tivesse o Alex, já seria mais uma opção. Mas tem tempo aí para o DM resolver. Ele é uma aposta minha pela qualidade e pelo que fez no Atlético-MG no ano passado e ainda vai nos ajudar muito.

Paulo Paiva/DP/D.A Press
Agora que o clima no Sport voltou a melhorar, você pretende dar nova oportunidade a Danilo? Como está trabalhando essa pressão e perseguição da torcida sobre ele?
No ano passado, quando nós vivemos um momento difícil, Danilo foi a solução das nossas dificuldades. Já estou fazendo isso. Ele tem entrado nos últimos jogos e estou tentando recuperar o jogador. Essa cobrança só ele mesmo vai poder apagar. Ele tem entrado bem, foi assim contra o Coritiba. É um bom menino e jogador e tem que ter paciência. Mas vamos recuperar ele, sim. Quando estiver recuperado, vai ser uma peça importante.

Ele ficou abalado?

Não digo abalado, mas triste. É um cara que se doa demais, se entrega e é benquisto pelo grupo. Tudo zerou no jogo contra o Bahia (na eliminação da Copa do Nordeste). Ele entrou e, com cinco minutos de jogo, Souza acertou um chute com 50 metros de distância, fez o gol e tudo caiu em cima dele. Se colocou um peso muito grande sobre ele. Talvez esse peso tinha que ter sido só em mim. Se houve erro na substituição, e acho que não houve, colocaram o peso todo em um menino de 22 anos. Mas estamos recuperando ele, que é um jogador com personalidade. Se não tivesse, não estaria dando a resposta. Ele vai ser importante no decorrer do Brasileiro.

Com o elenco completo, você vai ter a chamada "dor de cabeça boa" para armar o time, principalmente no que se refere ao setor ofensivo. Você já tem um time pronto em mente?

Tenho. Régis vem entendendo a proposta, vem sendo importante. Entendeu o que queremos. Não adianta só criar, tem que ter uma participação mais intensa do jogo sem a bola também. Ele entendeu isso e, nas duas últimas partidas, foi muito bem em todos os níveis. Ainda temos o Elber, Diego Souza, Hernane... Não podemos escalar todos, mas vamos escalar aqueles em melhor condição no momento. Tem ainda o Neto (Moura) que vejo falarem que joga de volante, mas não é. É um meia aberto que vem por dentro. Temos muitas opções...

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Falando em Neto… A promessa está começando a estourar. Como está sendo trabalhada a cabeça dele?
É um menino muito preparado e não tem muito que trabalhar a cabeça. Ele é maduro. A gente conversa com ele e vê um menino muito sério, focado... É orientar para as coisas simples fora de campo, para que ele não caia em armadilhas que a vida dá. Agora, ele entrou em um cenário nacional e vão aparecer muitas coisas que parecem ser boas, mas são ruins. A gente orienta. Mas é ter paciência com ele.

Paciência... Mas no último jogo ele levou um puxão orelha quando foi dar um passe de calcanhar na defesa e errou, não foi?

Na mesma hora falei para ele... Mas é menino. Tem que cobrar, mas na mesma hora tem que passar a mão na cabeça também. Todo grupo cobrou, ele sentiu e vai crescendo. Da próxima vez, ele vai se lembrar disso e não vai mais fazer. Tem apenas 18 anos. Na cabeça dele, está só brincando ainda. Esse amadurecimento ele vai ganhando. Se hoje vive um momento bom, amanhã pode estagnar e ter um freio. É normal. Hoje, nenhum time conhece Neto, mas amanhã vai saber e ele vai ser bem marcado. E aí tem que se ter a sensibilidade de blindá-lo, protegê-lo, para que ele continue evoluindo.

As características dele são únicas no seu elenco?
Ele tem uma característica diferente dos demais atletas do futebol brasileiro. O meia geralmente só cria, mas ele é um cara que atua de meia com a bola e tem noção de volante, com uma leitura de marcação muito boa. As características dele são carentes no futebol brasileiro. Normalmente, o cara só marca ou só joga. Se ele crescer, e tem pontos a melhorar, como no posicionamento, vai ser um grande jogador.

E quem é seu próximo alvo na base?
O mais próximo é Adryelson. É um zagueiro diferenciado, tem apenas 17 anos. É jovem ainda, mas tem coisas a serem trabalhadas. Mas tem um potencial muito grande, também tem uma cabeça boa, tem um pai militar que o orienta… Tem uma base de edução boa. É um menino que vai ser zagueiro titular do Sport ainda.