RIo-2016

Relíquias Olímpicas: A "sorte" de voltar atrás

Na segunda matéria da série que resgata os pernambucanos que participaram de Olimpíadas, Superesportes conta a história de Adriana Salazar, que a foi a Seul-1988

postado em 30/05/2016 15:09 / atualizado em 30/05/2016 15:27

Ana Paula Santos /Diario de Pernambuco , Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco

Karina Morais/Esp.DP
Não tivesse revisto a decisão de abandonar a natação, Adriana Salazar não estaria nesta reportagem. Cansada de “contar azulejos”, como resume a exaustiva e solitária rotina de nadadora, ela havia deixado a piscina pouco antes dos Jogos Olímpicos de Seul. Foram seis meses de intervalo até que a saudade a levou de volta às águas. O talento fez com que ela superasse o tempo parado. Em uma tentativa, ela conseguiu o índice e colocou o seu nome na história dos Jogos. Trouxe, na bagagem, histórias que nunca teria vivido caso não tivesse voltado a “contar azulejos”. Histórias que ela lembra na série Relíquias Olímpicas, que conta a história das pernambucanas e pernambucanos que possuem o DNA olímpico no sangue, nas lembranças.

Dos quatro anos de idade até a conquista do índice olímpico para os Jogos de Seul, em 1988, Adriana Salazar precisou se reinventar. Aprender a lidar com a solidão que acompanha a rotina dos nadadores. A contagem de azulejos – como eles costumam dizer –, massacra, desestimula. Mas foi justamente nesta solidão que essa pernambucana de 1,76m e costas largas se encontrou. Triunfou nas piscinas mundo afora. Foi única e soberana em Pernambuco. No auge da carreira, na década de 1980, era apenas ela. E somente ela.

“No começo não gostava de treinar. Só que as coisas foram acontecendo, os resultados aparecendo… Tudo isso era fruto do que eu fazia nos treinos. Mas era chato treinar. Tinha muita cobrança que, por causa da pouca idade, não entendia. Hoje eu vejo que era totalmente compreensível”, diz.

A evolução foi impressionante. Com oito anos, já fazia parte da equipe de natação do colégio onde estudava. Rapidinho, estava treinando sob a batuta do exigente e competente treinador João Reinaldo, o Nikita. Seu primeiro contato com a seleção brasileira veio em 1978. Após disputar um Brasileiro juvenil, no Recife, e ficar em primeiro nos 100m borboleta – no início da carreira, ela nadava borboleta e medley – foi convocada para um período de treino na Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

No ano seguinte, ganhou o Brasileiro da categoria e, com isso, a chance de disputar o primeiro campeonato sul-americano. Foram dez anos defendendo a seleção nacional. Até que decidiu parar.

Karina Morais/Esp.DP
A volta
A desistência está diretamente ligada à rotina da natação. Adriana estava cansada. “Eu estava nadando praticamete sozinha. Fatinha (Maria de Fátima Vieira, ex-nadadora e companheira de Adriana na equipe de Nikita) tinha parado. Tinha combinado com umas amigas, de São Paulo, que após o Troféu Brasil, que foi no Rio de Janeiro, tiraria uns dias de férias. Estava realmente precisando descansar”, relembra Salazar.

Esses eram os planos da atleta, não da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), que agendou compromissos para o mesmo período de descanso da pernambucana. “De última hora, inventaram uma competição com a presença de atletas estrangeiros. Queriam que eu participasse a todo custo. A pressão foi grande. Caiu até sobre meu irmão Duda (Eduardo Salazar), que na época era presidente da federação estadual de natação. Não nadei e fui para São Paulo”.


Era fevereiro de 1982 na Terra da Garoa. Durante os 15 dias de estada, o desejo de abanadonar a piscina só aumentou. A adolescente Adriana Salazar, então com 17 anos, voltou para casa decidida. “Estava de saco cheio mesmo. Pedi desconvocação de uma Copa Latina, no México, e no dia da reapresentação em Nikita, eu fui de calça jeans e não levei maiô. Disse a ele que já tinha nadado tudo.”

Seis meses depois, veio a reconsideração. Depois de uma edição dos jogos universitários, ela foi convencida pelas amigas a retornar. “O desejo de competir brotou rapidinho. Amava fazer aquilo”, explica ela. Retomou para buscar o sonho olímpico. Foi recompensada. Por esforço próprio, Adriana alcançou o índice para os jogos de Seul. No limite. Na última tentativa, que ocorreu na piscina do Fluminense, no Rio.