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ESPECIAL CACARECO

Zé Maria, Givaldo e Fernando: relatos e a história de quem esteve com a Seleção no Equador

Dos 22 jogadores que fizeram parte da Cacareco, apenas três permanecem vivos

postado em 15/06/2015 08:00 / atualizado em 02/06/2016 20:17

Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco , Brenno Costa /Diario de Pernambuco

Diario de Pernambuco

Zé Maria, Givaldo e Fernando. Fragmentos de uma das páginas mais importantes da história do futebol pernambucano. Fragmentos únicos. Dos 22 jogadores que fizeram parte da Seleção Cacareco, além da comissão técnica e daqueles que acompanharam a delegação, apenas os três permanecem vivos. E com muita história para contar. Histórias que, agora, estão devidamente registradas.

Nascido no Pará, Zé Maria deu os primeiros chutes na bola na Tuna Luso. Com 21 anos, chamou atenção do Sport, que o contratou. Ele faria história no clube rubro-negro, equipe que defendeu durante nove anos. Fez parte de esquadrões marcantes e participou de passagens importantes como a excursão para a Europa e Oriente Médio, em 1957, quando esteve no amistoso contra o Real Madrid, na inauguração da iluminação do estádio Santiago Bernabeu.

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A convocação para a Cacareco veio com total justiça. Zé Maria era um volante clássico, de extrema habilidade. Não foi titular no início do Sul-americano, mas entrou no time no decorrer da competição - sua entrada era pedida pela imprensa e pelo presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Rubem Moreira. “Ele gostava muito de mim”, lembra o volante do Sport, que hoje curte netos e bisnetos em sua casa à beira mar do Janga.

Fernando José tinha um apelido inusitado, que ele ganhou em Caruaru quando era jovem. Ali, era chamado por Fernando Bidé e assim ficou conhecido entre os colegas do futebol. “Diziam que eu era parecido com um sujeito que também era chamado de bidé”, conta. O então ponta esquerda do Náutico ficou surpreso com a convocação para a seleção. Na época, ele tinha apenas 20 anos e quase nenhuma experiência entre os profissionais. “Eu jogava nos aspirantes, mas Gentil precisava de um ponta esquerda e então me chamou”.

Jovem, Fernando realmente foi chamado para compor o grupo. Foi um dos poucos que não atuou no Sul-americano, pois tinha grandes jogadores na sua posição, como Elias, Elcy e Goiano, um dos reforços trazidos do Sul para reforçar o elenco pernambucano. O ex-jogador do Náutico viu tudo do banco, mas guarda com orgulho a lembrança de ter representado o Brasil. “É o sonho de todo jogador. Não só representar seu estado, mas também o Brasil. Foi um orgulho e uma satisfação. Vai servir de lembrança para mim e para a minha família”, contou.

 

A carreira de Givaldo como jogador de futebol foi curta. E ela poderia nem ter prosperado. Aos 21 anos, ele sofreu uma lesão de menisco no joelho. A cirurgia, na época, não era simples. “A verdade é que a cirurgia não correu bem. Mas eu me recuperei e continuei jogando. Com dor sempre, mas continuei jogando”, afirmou o lateral esquerdo, que era ambidestro. “Quando era criança, pegava uma bola de meia que meu irmão fazia e ficava treinando com a perna esquerda”.

Givaldo deixou Pernambuco jovem e foi tentar a sorte nos aspirantes do Flamengo. Na volta, por influência do irmão, Gilberto, ex-jogador e também treinador, acertou com o Náutico. Marcou época como um dos melhores laterais esquerdos de Pernambuco. Jogava em mais de uma posição se fosse necessário. “Cheguei a jogar de zagueiro e lateral-direito também”, recorda. Na seleção cacareco, convocado por Gentil Cardoso, inicialmente não seria titular. A preferência do técnico era por Dodô, que era seu comandado no Santa Cruz.

Mas os olhos atentos de Rubem Moreira não deixavam que Gentil saísse da linha. E logo o treinador foi convencido de que Givaldo era mesmo o melhor e assim ganhou a posição. O jogador do Náutico foi titular em todas as partidas do Sul-americano Extra e, na volta, do Brasileiro de seleções. “Foi um orgulho representar o Brasil. Nós falávamos na época. Quando que um negócio desses vai acontecer de novo? Pernambuco representar o Brasil. Nunca!”, diz, orgulhoso.

A carreira de Givaldo não foi longe. As dores no joelho não permitiram e só foram melhorar quando ele foi para São Paulo. No time da Volksvagen, onde passou a trabalhar, teve um atendimento médico de primeira. Pela equipe, disputou a Terceira Divisão do Campeonato Paulista. Acabou radicado na capital paulista, de onde só voltou para o Nordeste aposentado. Hoje, mora em João Pessoa, na Paraíba. “Não troco isso por nada. Minha esposa, às vezes, tem vontade de voltar para São Paulo. Mas eu não quero sair daqui não”, conta.

Agora, não só as histórias de Zé Maria, Givaldo e Fernando estão guardadas. Walter, Waldemar, Geroldo, Bria, Edson, Zequinha, Biu, Clóvis, Servilho, Dodô, Traçaia, Tião, Zé de Melo, Geraldo, Paulo, Elias, Elcy e Goiano. E também Moacir, cortado no Rio de Janeiro, após se lesionar no último treino da seleção, no Recife. Pernambuco agradece a todos. Pelos dias em que o estado foi um país. Uma nação do futebol.

Reprodução/Diario de Pernambuco