Cruzeiro

CASO FRED

Itair Machado, vice do Cruzeiro, sugere que decisão do 'caso Fred' na CNRD teve lobby de Castellar Guimarães Neto a favor do Atlético

Em resposta, Castellar negou qualquer participação na sentença do órgão

postado em 12/12/2018 23:53 / atualizado em 13/12/2018 00:09

Beto Novaes/EM/D.A Press
O Cruzeiro pedirá anulação da decisão da Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), da CBF, que obrigou o atacante Fred a indenizar o Atlético em R$ 10 milhões por sua transferência para a Toca da Raposa II em dezembro de 2017. O vice-presidente de futebol cruzeirense Itair Machado sugeriu nesta quarta-feira, em entrevista à Rádio Itatiaia, que houve “lobby” do ex-presidente da Federação Mineira de Futebol e futuro vice-presidente da CBF, Castellar Guimarães Neto, para que o Atlético tivesse sua demanda atendida no órgão.

Entenda o caso

Atlético e Fred rescindiram contrato na noite de 22 de dezembro de 2017. No dia seguinte, o Cruzeiro anunciava oficialmente a contratação do centroavante. Para isso, a diretoria celeste assumiu formalmente a dívida assumida pelo jogador com seu ex-clube.

No acordo de rescisão, ficou definido que Fred só poderia atuar pelo Cruzeiro se pagasse R$ 10 milhões ao Atlético. O centroavante exigiu que o clube celeste assumisse a dívida para dar prosseguimento às negociações, concluídas rapidamente.

O contrato de rescisão entre Atlético e Fred previa que a dívida passaria a valer um dia útil depois do registro do atacante no Boletim Informativo Diário (BID), da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O nome do atacante apareceu na plataforma em 16 de janeiro.

À época, o Cruzeiro chegou a admitir publicamente que indenizaria o rival pela multa de Fred. Posteriormente, o clube mudou o seu posicionamento e entendeu que a legislação trabalhista impede a interferência de terceiros em contratos de atletas.

Sem receber o dinheiro, o Atlético optou por ingressar na Câmara Nacional de Resolução de Disputas, da CBF, para cobrar do atacante o dinheiro da multa.

Itair dispara contra lobby

A decisão da CNRD foi anunciada nessa terça-feira, dia 11 de dezembro, e foi favorável ao Atlético. Itair Machado, vice-presidente de futebol do Cruzeiro, acusou o órgão criado pela CBF de fazer um julgamento político e não jurídico do caso.

”A gente tem certeza que não vai perder essa ação, porque onde vale mesmo é na Justiça do Trabalho, que não tem lobby e outras coisas mais que o Cruzeiro está investigando para entender e denunciar. Inclusive, anular a ação. A Justiça do Trabalho jamais vai aceitar que a escravidão volte, principalmente ao futebol brasileiro”, disse Itair Machado.

Em seguida, Itair sugeriu que Castellar fez lobby junto a integrantes da CNDR para haver favorecimento ao Atlético. O ex-presidente da Federação Mineira de Futebol e futuro vice da CBF é também conselheiro do Atlético. “O Cruzeiro, primeiro, acreditava que o julgamento seria na questão jurídica e não foi. A própria decisão, onde um dos membros fala que não deve baixar a multa porque eu dei uma entrevista aqui na Itatiaia e falei que R$ 10 milhões pelo Fred era pouco, por aí você vê que a decisão foi no lobby e a gente sabe que existem essas coisas, principalmente no Rio de Janeiro. Eu adoro o Rio de Janeiro, mas lá, pelo que o Cabral (ex-governador Sérgio Cabral) foi preso, a gente sabe que tem todos os caminhos, foi absurdo o que aconteceu. O Cruzeiro está muito tranquilo. Se você conversar com 10 advogados, que não é cruzeirense e nem atleticano, ele vai te falar que essa cláusula não tem validade (a cláusula que obriga Fred a indenizar o Atlético pelo acerto com o Cruzeiro). Quando você pergunta ao cruzeirense, aí sim vem essa questão de que os dois lados vão ganhar. Mas a gente tem a tranquilidade e a certeza de que o Cruzeiro nem o Fred vão ter que pagar isso daí, porque na Justiça do Trabalho, meu amigo, lá não tem lobby. Não adianta presidente da Federação, que hoje virou vice-presidente da CBF, ir lá fazer lobby para que o Cruzeiro perca não. Na Justiça do Trabalho não tem isso”.

Itair revelou que ligou para o futuro presidente da CBF, Rogério Caboclo, avisando sobre suposto caso de “corrupção” na CNDR, inclusive com envolvimento de “dinheiro”. “Com certeza, e eu avisei o presidente da CBF que enquanto ele (Castellar) estiver lá, qualquer causa que for envolver Cruzeiro e Atlético, nós vamos perder. Porque lá é na base do lobby. Eu falei para o advogado nosso que, por incrível que pareça, foi o idealizador da CNRD. Você coloca o advogadozinho lá, está morrendo por causa de honorário. Aí ele é amigo do A .R. (narrador, que participou do programa Bastidores, da Itatiaia), um exemplo aqui, aí chega A ou B chega para o A. R., toma honorário aqui, vai lá e convence A ou B a votar pra mim. Então, você tem que pôr pessoas ali pessoas bem-sucedidas, que não precisam de dinheiro, que não vão aceitar lobby ou mesmo dinheiro. O Cruzeiro está investigando porque existe o indício de que houve até corrupção nessa votação. O Cruzeiro vai entrar no Conselho de Ética da CBF pedindo anulação, o nosso advogado é o melhor do país em termos jurídicos, mas nós não contratamos lobista, nós contratamos advogado porque a causa juridicamente não tem como perder”.

O que diz Castellar Guimarães Neto

Procurado pela reportagem para se posicionar sobre as acusações de Itair Machado, Castellar Guimarães Neto emitiu a seguinte nota: “Não conheço nenhum dos membros da CNRD que atuaram no processo. Ainda que conhecesse, jamais me posicionaria a favor de um clube ou de outro. Para ser sincero, tomei conhecimento da decisão, superficialmente, através da imprensa, desconhecendo até mesmo seu inteiro teor”.

Castellar Guimarães Neto não quis responder se acionaria Itair Machado na Justiça.

A eleição na CBF

Em abril de 2018, o Cruzeiro foi um dos clubes que ajudaram a eleger Rogério Caboclo como presidente da CBF. Além de Castellar Guimarães Neto (Minas Gerais), foram eleitos vice-presidentes Fernando Sarney (Maranhão), Gustavo Feijó (Alagoas), Marcus Vicente (Espírito Santo), Antonio Carlos Nunes (Pará), Francisco Noveletto (Rio Grande do Sul), Ednaldo Rodrigues (Bahia) e Antonio Aquino Lopes (Acre).

Dos clubes da Série A, 17 votaram no candidato único, incluindo Cruzeiro, Atlético e América. Houve um voto em branco (Corinthians), uma abstenção (Flamengo) e uma ausência (Atlético-PR). Da Série B, os 20 clubes votaram na chapa de Caboclo.

Na votação, ainda compareceram os 27 presidentes de federações. Todos votaram em Caboclo.

O mandato de Rogério Caboclo será de quatro anos e passará a valer a partir de abril de 2019.

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