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Diretor do Cruzeiro explica inclusão de dinheiro de venda de Arrascaeta em receitas de 2018

Clube colocou cifras de negociação milionária nos demonstrativos contábeis

postado em 16/04/2019 19:39 / atualizado em 17/04/2019 17:30

<i>(Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)</i>
O Cruzeiro concretizou a venda do meia Arrascaeta ao Flamengo em janeiro de 2019 pelo valor de 13 milhões de euros (R$ 55,2 milhões na cotação da época). Em tese, a receita deveria entrar no balanço patrimonial apenas no exercício de 2020, porém o clube “puxou” o dinheiro para os demonstrativos contábeis de 2018 em função de o Profut exigir que entidades desportivas tenham prejuízo de no máximo 10% em relação à arrecadação total em um ano (o gasto de R$ 400,5 milhões foi 7,3% maior que o faturamento de R$ 373,5 milhões). Em entrevista nesta terça-feira ao programa Turma do Bate-Bola, da Rádio Itatiaia, o diretor financeiro Flávio Pena afirmou que o procedimento é permitido pelo Código de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

“Nós recebemos no fim de dezembro uma proposta firme da Link Assessoria (empresa pertencente ao empresário André Cury) em dezembro. O Código de Pronunciamentos Contábeis, em seu artigo 47, alínea 9, nos permite fazer esse lançamento porque atendemos todos os pré-requisitos da lei. Tanto é que não fizemos o lançamento total como evento futuro porque a venda aconteceu. A gente sabe que a Link é a empresa exclusiva e credenciada para fazer a operação de venda deste atleta. Esse documento foi dado pela gestão do Gilvan de Pinho Tavares. É importante ressaltar para a torcida ficar bem tranquila que não tem nenhum tipo de maquiagem nessa operação, sendo que a lei permite. A gente até acha estranho, porque o Código de Pronunciamentos Contábeis fala que se tivermos uma proposta firme, nós podemos, sim, lançar por regime de competência a venda desse jogador”.

A compra de Arrascaeta pelo Flamengo foi parcelada em três vezes. O rubro-negro pagou a primeira parte, de 7 milhões de euros (R$ 29,6 milhões), no ato da aquisição. A segunda, de 3 milhões de euros (R$ 12,8 milhões), vencerá em junho. A última, também de 3 milhões de euros (R$ 12,8 milhões), será quitada em dezembro. Maior artilheiro estrangeiro do Cruzeiro, com 50 gols em 188 jogos, o uruguaio ainda busca afirmação no Rio de Janeiro. Pelo Fla, marcou quatro gols em 16 partidas neste início de temporada.

De acordo com o balanço patrimonial do Cruzeiro, houve arrecadação de R$ 90.384.013,00 em negociações de jogadores em 2018. Desse dinheiro, R$ 70.409.642,00 foram provenientes do mercado interno e R$ 18.663.681,00 do exterior, além de R$ 1.244.023,00 por empréstimos de atletas a clubes nacionais e R$ 66.667,00 a times internacionais.

Na entrevista à Itatiaia, Flávio Pena também comentou o déficit de R$ 27,2 milhões em 2018, ressaltou a herança de passivos da gestão anterior e condicionou a recuperação financeira do Cruzeiro ao aumento de receitas oriundas com patrocinadores para os próximos anos.

Déficit de 27,2 milhões

“Primeira coisa que a torcida tem que entender que este ano foi de ajuste técnico de balanços. Todo mundo sabe, já foi divulgado na imprensa, que tivemos que aprovar o balanço de 2017 e retificá-lo. Só foi aprovado em outubro. Este é um ano que a gente está ajustando tudo e demonstrando ao torcedor e à opinião pública o que temos de ativos e passivos, obrigações e direitos. Essa diferença de R$ 130 milhões a gente tem que deixar claro que nas nossas contas a receber temos R$ 60 milhões que recebemos em janeiro e fevereiro e pagamos a dívida. Estamos falando em R$ 70 milhões de dívida, e não em R$ 130 (milhões). Isso só vai ser refletido no balanço de 2019, porque pagamos em 2019. Além disso, temos uma questão extremamente importante para que o torcedor entenda: além de lançar de forma correta todas as obrigações e direitos do Cruzeiro, nós fizemos um trabalho interno fundamental. Na Toca 1, fizemos reavaliação técnica de mais de 30 atletas. Todos eles foram dispensados. Não tenho mais custos com ele, para o efeito caixa foi fundamental. Foram mais de R$ 20 milhões de baixa que estava no ativo intangível. Isso reflete no meu resultado de R$ 27 (milhões), mas não tem efeito de caixa. Isso não vai acontecer mais, fizemos uma limpa. Fizemos um grande trabalho de redução de back-office: reduzimos o custo de segurança de R$ 450 mil para R$ 150 mil, de telefonia de R$ 60 a 70 mil para R$ 30 mil. Reconhecemos também dívidas que não eram reconhecidas pela gestão passada, de mais de R$ 20 milhões. O resto da dívida é em investimento de atletas”.

Dívidas da gestão anterior

“Tivemos que buscar empréstimos para pagar salários atrasados, direitos de imagens atrasados, impostos atrasados, fornecedores atrasados, clubes, etc. Isso gera um custo financeiro grande e compõe a dívida. É bom esclarecer também o que pagamos de dívidas da gestão anterior aqui”.

Pagamentos de R$ 122 milhões de dívidas em 2018

“É importante todo mundo entender que pegamos o Cruzeiro com uma dívida de mais de R$ 400 milhões. Está no balanço uma dívida de R$ 384 milhões, mas temos outra dívida que é, no valor da luva, de R$ 22 milhões referentes a um empréstimo feito junto à Globo. Temos que acrescentar esse valor também. Tenho uma listagem do que a gente teve que pagar. Segundo o Itair, foi R$ 100 milhões, mas nós pagamos mais, R$ 122 milhões. Salários R$ 33 milhões, impostos R$ 15 milhões, bancos R$ 33 milhões, o bloqueio da Minas Arena e mais outro bloqueio que temos aqui de R$ 6 milhões, acordos trabalhistas quase R$ 2 milhões, clubes R$ 5 milhões, intermediações quase R$ 2 milhões e fornecedores R$ 2 milhões. Queremos ressaltar que os salários pagos no início de 2018 foram da gestão anterior. Então o que aconteceu? Essa soma deu R$ 122 milhões para que pudéssemos rodar a engrenagem e dar aos nossos atletas, que são os principais ativos, tranquilidade para ter melhor performance. Tivemos que liquidar isso. Mas como liquidar, sendo que não tínhamos R$ 2 milhões em caixa na época? Tivemos que antecipar operações no mercado financeiro”.

Possibilidade de aumento de receitas

“Nós temos aqui uma série de premissas e metas para atingirmos. Inclusive são premissas e metas definidas pelo próprio fundo (que emprestará ao Cruzeiro R$ 300 milhões com juros anuais de 8,5% e prazo de cinco anos para pagamento). No balanço, temos custo financeiro muito alto. Isso vai aumentando nossa dívida, obviamente. Se formos tirar do resultado o custo financeiro que vai cair, com o empréstimo internacional, em 60%, se tirarmos o custo de atletas que já tiramos nesse último balanço, com resultado negativo de R$ 20 milhões, que não vai acontecer no futuro, a gente já vai projetar um resultado positivo. Colocamos, inclusive, nas nossas notas explicativas que temos novas monetizações: direito internacional, games. Hoje temos muito mais possibilidade de arrecadar com novo patrocinador. Nossa diretoria está trabalhando nessa questão. Acreditamos na capacidade de majorar muito a receita com essa parceria com o Banco Digimais. Estamos trabalhando com aumento da publicidade estática. O aumento da nova monetização é extremamente importante para a projeção em dois, três ou quatro anos. Nosso objetivo é trabalhar para que tenhamos receita nova vendendo uma marca que está entre as melhores do futebol brasileiro”.

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