Mais Esportes

JOGOS OLÍMPICOS DE INVERNO

De 'bananas' a 'pássaros', técnico baiano tenta deixar equipe brasileira de bobsled entre as 15 primeiras do mundo

Bindilatti topou dirigir o Brasil após assistir o filme "Jamaica abaixo de Zero"

postado em 17/02/2018 11:12 / atualizado em 17/02/2018 11:37

Nelson Almeida/AFP
Com o olhar fixado no chão e os movimentos milimetricamente ajustados, Edson Bindilatti e seus companheiros da equipe brasileira de bobsled aperfeiçoam a largada há três semanas. Tudo estava pronto para os Jogos de Inverno, só faltava o gelo sob o forte sol do verão paulista.

Sobre um trilho montado na pista de atletismo, o quarteto que competirá em PyeongChang empurrava a estrutura metálica que substitui o trenó com o qual se lançará a partir de amanhã (prova 2-man) na prova olímpica, quando os termômetros deverão apontar 40 graus a menos na longínqua Coreia do Sul. As provas de 4-man começam na próxima sexta-feira.

Esta será a quarta edição de Jogos Olímpicos para Bindilatti, que até entrar para o time Brasil há quase duas décadas só conhecia o gelo do congelador. Ele participará das duas categorias.

Campeão nacional de decatlo, este corpulento baiano acabava de comemorar seu 20º aniversário quando um ex-presidente da Confederação Brasileira lhe propôs integrar a seleção que estava formando, atraído pela explosão muscular do atleta.

Para que entendesse em que consistia esse esporte de nome estranho, o dirigente recomendou a Bindilatti que assistisse ao filme Jamaica Abaixo de Zero. Após assistir ao filme, o atleta não precisou de muito tempo para dar sua resposta. Cativado pelas aventuras da equipe jamaicana de bobsled do filme, Bindilatti disse ‘sim’, apesar dos apelos de sua mãe adotiva, que tinha medo de ver o filho se lançando num trenó.

“Se você me convidar para andar de balão ou montanha-russa eu não vou porque tenho medo. Só de ver a altura não dá. Mas as pessoas me perguntam: ‘Por que você escolheu uma modalidade em que você vai a 150km/h, sem cinto, sem motor?’. Não sei, foi amor à primeira vista”, conta o sorridente piloto de 38 anos.

Poucos meses depois, Bindilatti se encontrou numa situação parecida ao filme, quando voou pela primeira vez a Lake Placid, a estação de esqui onde o Brasil treina nos Estados Unidos. Começava assim sua vida entre o trópico e o gelo, culminando na dupla classificação para os Jogos na Coreia do Sul, no trenó de dois e quatro lugares.

Morte às ‘Bananas’ Mesmo sacudido pelo escândalo de corrupção que afastou a direção anterior da Confederação e que deixou o Brasil de fora dos Jogos de Vancouver’2010, Bindilatti já havia decidido se dedicar integralmente ao trenó, além de trabalhar como personal trainer e técnico de atletismo.

Com Bindilatti liderando a reconstrução da equipe, e denunciando as irregularidades anteriores, o processo de maturação das ‘Bananas Congeladas’, como ficou conhecida a equipe brasileira, começou pouco antes de Sochi’2014, quando decidiram romper com sua origem folclórica para se tornar os ‘Pássaros Azuis’, novo apelido do time.

“Entendemos que a ideia a ser passada tinha que ser diferente e hoje a gente tem um respeito muito grande de todos os times do mundo do bobsled. Hoje, o Brasil não é um time que vem para brincar, é um time que vem para fazer resultados e que incomoda”, diz orgulhoso.

Novos tempos Mas somente uma mudança de apelido não basta e, após terminar na penúltima colocação em Sochi, a revolução aconteceu no atual ciclo olímpico, com o Brasil alcançando o 21º lugar no ranking mundial, apoiado por uma nova direção, que trouxe patrocinadores e otimizou a preparação em casa.

Também foi chave a instalação em São Paulo de uma pista de ‘push’, construída no ano passado por um dos membros da equipe, permitindo ao time treinar a estratégia de largada fora da temporada.

“Nossa expectativa é muito grande porque é a melhor preparação que nós tivemos em todos os anos. Nos últimos quatro anos a gente aprendeu muito sobre a modalidade”, conclui Bindilatti, que tem como objetivo ver os Pássaros Azuis terminando entre os 15 melhores times nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang.