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Mais que esporte: pesquisadores mineiros abordam aspectos midiáticos, políticos e humorísticos em livro sobre a Rio 2016

E-book organizado por professores da UFMG está disponível para download gratuito

postado em 16/02/2018 14:00 / atualizado em 16/02/2018 14:30

AFP

Simone Biles, Usain Bolt, Daniel Dias, Neymar, Lavillenie, Michael Phelps, Marta, Marieke Vervoort, Zulfiya Gabidullina, Yusra Mardini, Rafaela Silva. Esses são apenas 11 dos 15.900 atletas de 206 delegações que participaram dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil. A participação deles - e de tantos outros agentes sociais - na Olimpíada e na Paralimpíada, entretanto, não se limita ao caráter esportivo. E foi justamente para analisar outros aspectos relacionados ao megaevento que um grupo de pesquisadores de Minas Gerais organizaram o livro 'Olimpíadas Rio 2016: mídia, política, humor'.

"O que está acontecendo hoje no Rio de Janeiro é um reflexo direto da Olimpíada. A mobilização no Rio antes e durante o evento não foi desprezível. Efetivamente, é impossível olhar para esses megaeventos sem pensar nas questões que transcendem as competições", explica um dos organizadores da obra, Carlos d’Andréa, professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Concluído em dezembro de 2017, o e-book foi lançado pelo selo PPGCOM/UFMG (do Programa de Pós-Graduação de Comunicação Social) e está disponível para download gratuito. O livro conta com três seções: “Dinâmicas midiáticas da Rio 2016”, “Gênero, corpo, sexualidade” e “Controvérsias sociopolíticas e visibilidades”. No total, são 11 artigos que abordam diferentes aspectos dos Jogos Olímpicos.

Manifestações políticas

Os aspectos tratados no livro não se restringem à política ‘tradicional’ e aos trâmites do legislativo, por exemplo. Outras manifestações - que ocorreram aos montes durante os Jogos - também foram considerados. 

O contexto histórico brasileiro fez com que o público transformasse a Rio 2016 em um espaço de expressão política, seja nos locais das competições, seja pela internet. É nesse cenário que surgem artigos como, por exemplo, ‘Fora Temer Vaza Véi: táticas contra a censura Olímpica no Brasil’ e ‘Tensionamentos Políticos em Torno de Hashtags nas Olimpíadas 2016: a semiose de #cerimôniaabertura’.

“Uma coisa que é legal de pensar é como a dimensão midiática e a dimensão política são absolutamente constituidoras desse tipo de evento esportivo de grande escala. Em termos midiáticos, uma série de processos de inovação tecnológica, de experiências midiáticas e de midiatização nesses eventos acontecem sempre ao longo do século XX”, completa Carlos d’Andréa.

Todos os artigos se relacionam, de alguma maneira, com conceitos estabelecidos ou utilizados por pesquisadores da comunicação social. Dessa forma, a internet (por meio das redes sociais) e a televisão (que transmite os eventos esportivos) ganham ainda mais importância.

'Gênero, corpo e sexualidade'
TOSHIFUMI KITAMURA

Outra preocupação recorrente nos artigos publicados no livro foi entender de que maneira o esporte se relaciona com questões de gênero, sexualidade e do próprio corpo (por meio de análises sobre a Paralimpíada). Os papéis exercidos pelas mulheres nas competições e na própria cobertura jornalística foram tema de debate nos artigos ‘A Mulher na Cobertura da ESPNW: posicionamento editorial e reverberação em redes sociais’ e ‘Keep Playing #LiekAGirl: fluxos mercadológicos, institucionais e políticos no discurso da igualdade de gênero por meio do esporte’.

“É um tema diretamente ligado ao esporte. O esporte é um ambiente em que a questão de gênero é muito marcada. Gera um ambiente muito machista. A gente pode pensar, por exemplo, no tipo de comentário que se faz pelos próprios profissionais da área quando estão transmitindo uma modalidade feminina e uma modalidade masculina. Em geral, quando é feminina, eles falam da graça, de como as mulheres são bonitas. No masculino, se fala da força e da habilidade. O que a gente vê é que essa série de preconceitos que a gente tem na nossa sociedade são reafirmados, transpostos”, explica Joana Ziller, organizadora do livro e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

Outros temas, como o racismo e a sexualidade, também foram lembrados pelas pesquisas. A ideia era relacionar essas questões com os fenômenos comunicacionais e, é claro, o esporte.

“A gente fala tanto das questões de gênero, as mulheres, as populações LGBT, quanto da questão racial. Tem um artigo sobre o Lochtegate, que está diretamente relacionado à questão racial. Tem também a questão das pessoas com a deficiência. Na última Olimpíada teve um fenômeno muito importante. Teve a questão do jornalista, que, por meio de um aplicativo de encontros, tirou alguns atletas do armário. Foi para a Vila Olímpica, ligou um aplicativo de encontros gay e começou a relatar quais seriam os atletas que estavam lá. Aí a gente vê um dos exemplos diretos de como as redes sociais influenciaram as Olimpíadas”, diz Joana Ziller.

Nos Jogos de Inverno, em Pyeongchang, na Coreia do Sul, algo semelhante ocorreu. Nos primeiros dias de competição, uma página no Instagram começou a divulgar imagens de atletas que possuem perfis no Tinder, outro aplicativo de encontros. A página logo foi desativada.

Reprodução

As redes sociais

Como apontado pelos pesquisadores, as pessoas exerceram um papel ativo durante a Olimpíada do Rio de Janeiro por meio da internet. Mas não foram apenas as notícias dos veículos considerados tradicionais que serviram como forma de informação.

“Muitas pessoas se informavam sobre a Olimpíada via memes, principalmente as pessoas que não tinham condições de acompanhar os jogos, pois era período de trabalho, período letivo em alguns lugares. Essa tendência foi tão grande que os jornais, a mídia institucionalizada, fizeram grandes compêndios de memes, das piadas mais comentadas, dos memes mais compartilhados”, explica Amanda Chevtchouk Jurno, uma das responsáveis pela produção do artigo ‘Olimpíadas dos Memes: produção de sentido na Rio 2016’. Ao lado dela, trabalharam Polyana Inácio e Leonardo Melgaço.

Amanda explica que, assim como ocorre historicamente, o humor foi uma possibilidade encontrada por pessoas para reconfigurar sentidos. “As associações de sentido atribuídas aos memes reforçam ou confrontam estereótipos, ressignificam identidades (como o papel do jornalista, por exemplo), refletem o patriotismo, a vitória de barreiras e preconceitos e fazem relações ao cenário sóciopolítico. Esses elementos reforçaram e contribuíram para o potencial de propagação dessas imagens”, diz a pesquisadora, ao citar trecho do artigo.

Pesquisas futuras

Os organizadores do livro pregam que questões sociopolíticas se fazem presentes em qualquer megaevento esportivo. A Copa das Confederações, em 2013, é um exemplo recente. Ruas de cidades de todo o Brasil foram tomadas para aquelas que foram chamadas de ‘Jornadas de Junho’.

Durante o mês de fevereiro, a cidade de Pyeongchang recebe a Olimpíada de Inverno. Os jogos marcam a reaproximação das Coreias, que se juntam, por exemplo, para formar uma equipe de hóquei no gelo. Até o momento, foram duas derrotas do time na competição, contra Suíça e Suécia. O que chama atenção, entretanto, não são os resultados - mas a representatividade política da união.

“Historicamente, esses eventos vêm sendo utilizados não só como um processo de propaganda política, de afirmação de lideranças políticas com certo viés autoritário muitas vezes, mas também para desencadear situações políticas maiores. O exemplo maior de todos é o de Barcelona. A Olimpíada foi usada não só para reconstruir a cidade, mas também como uma maneira de afirmar uma identidade catalã depois de um longo processo de isolamento que a região teve em função da ditadura do Franco. Nas mais diferentes situações, há um atrelamento muito forte entre política, mídia e esses eventos. Isso está acontecendo de novo com a Olimpíada de Inverno, na Coreia do Sul”, diz Carlos d’Andréa.

Entre os pesquisadores da UFMG, a ideia é aproveitar o potencial de estudo presente nesses megaeventos esportivos para planejar os próximos projetos. Os integrantes do Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas (NucCon) - grupo que encabeçou a produção do livro - produzirão pesquisas sobre a Copa do Mundo da Rússia, que ocorrerá entre 14 de junho e 15 de julho.

Ficha

Ano de publicação: 2017
Número de páginas: 265
Selo editorial: PPGCOM/UFMG
Organizadores: Joana Ziller e Carlos d’Andréa

APRESENTAÇÃO 

Rio 2016 entre a política, as mídias e os megaeventos esportivos
Carlos d’Andréa
Joana Ziller

PARTE 1 – DINÂMICAS MIDIÁTICAS

CIRCULAÇÃO INTERMÍDIA DE CONTEÚDOS VIA HASHTAG #RIO2016: conexões pelo Twitter e para além dele

Carlos d’Andréa
Tiago B. P. Salgado
Marco T. S. Guimarães

TENSIONAMENTOS POLÍTICOS EM TORNO DE HASHTAGS NAS OLIMPÍADAS 2016: a semiose de #cerimôniaabertura

Luciana Andrade Gomes Bicalho
Geane Carvalho Alzamora

A “RÁDIO DAS OLIMPÍADAS” NAS REDES SOCIAIS: espalhamento e noticibialidade na cobertura da Rádio Itatiaia

Debora Cristina Lopez
Marcelo Freire
Luana Viana
Matheus Maritan

OLIMPÍADAS DOS MEMES: produção de sentido na Rio 2016

Amanda Chevtchouk Jurno
Polyana Inácio R. Silva
Leonardo Melgaço

PARTE 2 – GÊNERO, CORPO, SEXUALIDADE

SOMOS TODOS PARALÍMPICOS? Transversalidades entre corpos biocibernéticos e pós-humanos em redes sociais online

Sônia Caldas Pessoa
Camila Maciel C. Alves Mantovani
Verônica Soares Costa

A MULHER NA COBERTURA DA ESPNW: posicionamento editorial e reverberação em redes sociais

Marcelo Freire
Debora Cristina Lopez
Luana Viana
Matheus Maritan

KEEP PLAYING #LIKEAGIRL: Fluxos mercadológicos, institucionais e políticos no discurso da igualdade de gênero por meio do esporte

Vanessa Cardozo Brandão

O OTIMISMO FORA DO ARMÁRIO: a cobertura de questões LGBT na Rio 2016

Roberto Alves Reis
Joana Ziller

PARTE 3 – CONTROVÉRSIAS SOCIOPOLÍTICAS E VISIBILIDADES

#RIO2016: Curvas de visibilidade, tensões e disputas no desvelamento do hiperdispositivo olímpico

Lorena Tárcia

TERRORISMO E OLIMPÍADAS RIO 2016: quem são os “terroristas” no Twitter?

Roberta Firmino da Silva
Carlos d’Andréa

FORA TEMER VAZA VÉI: táticas contra a censura Olímpica no Brasil

Joana Ziller
Regina Helena Alves da Silva
Daniel Felipe Emergente Loiola

CONTROVÉRSIAS E REPERCUSSÕES MIDIÁTICAS NOS JOGOS OLÍMPICOS RIO: o caso Ryan Lochte

Maria Aparecida Moura

Tags: rio2016