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CURIOSIDADES OLÍMPICAS

Política e economia nos Jogos

Olimpíada do Rio ocorre em ano conturbado na política e na economia brasileira

postado em 05/04/2016 19:56 / atualizado em 19/04/2016 20:54

A Olimpíada celebra a união de todos os povos, é sinônimo de paz. Na era antiga, eram competições que faziam parte de comemorações religiosas, que aconteciam de quatro em quatro anos. Nesses períodos, até mesmo as guerras entre os estados helênicos, que formavam a Grécia, paravam. Foi com esse espírito que o evento nasceu na era moderna, graças ao empenho do Barão Pierre de Coubertin. Mas nem sempre foi assim. Desde o início, problemas políticos ameaçaram os Jogos, inclusive a sua primeira edição, em Atenas'1986. A questão política, caracterizada pela luta contra o Nazismo, o Apartheid, os boicotes, a guerra entre árabes e judeus, que resultou num atentado, o único da história, também fazem parte da história.

Crise política e terrorismo

A Olimpíada de 2016 presenciará um cenário turbulento no Brasil. Em grave crises econômica e política, o país encontra-se, principalmente, em um descompasso entre governo e oposição. A atual presidente da República, Dilma Rousseff, sofre rejeição de grande parte da população brasileira. Além disso, tramita no Senado o pedido de impeachment por crime de responsabilidade fiscal. Caso Dilma seja impedida de exercer o cargo, seu vice, Michel Temer, assumirá a presidência.


As ameaças de terrorismos aos Jogos também assusta. No fim de 2015, vários jogos de futebol foram cancelados na Europa por conta de ataques do Estado Islâmico a Paris. Recentemente, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) admitiu ameça  desse grupo ao Brasil por meio do Twitter. Em julho de 2016, o Rio de Janeiro, cidade sede da Olimpíada, abrigará diversas delegações da Europa - principal alvo dos terroristas -, o que preocupa o Comitê Olímpico Internacional.

Racismo

Cidade do México, 1968. É quando a política novamente entraria em cena. Dois corredores norte-americanos, Tommie Smith e John Carlos, protestaram contra o racismo existente nos EUA. Na cerimônia de premiação dos 200 metros rasos, ouro e prata, respectivamente, calçaram luvas pretas e ouviram o hino de seu país de cabeça baixa. Daí em diante, uma série de incidentes políticos e uma tragédia: o atentado terrorista em Munique’1972, que resultou na morte de 11 israelenses. Até hoje há respingos desse atentado, como o protesto de palestinos contra a homenagem feita pelo Comitê Olímpicos de Sydney’2000 aos judeus mortos. Em Montreal’76, houve o boicotes de países africanos contra a política do Apartheid, da África do Sul. Nos anos 80, o clímax da Guerra Fria, a “Era dos Boicotes”. Primeiro, os EUA lideram o boicote aos Jogos de Moscou’80. Em Los Angeles’84, os russos lideram os boicotes, que respigam em Seul’88, com a ausência de Cuba.

Arrocho econômico

A primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas, esteve sempre ameaçada. Primeiro, a falta de interesse num evento esportivo. Mas, quando tudo estava pronto, tendo Atenas como sede, veio um impedimento inesperado: o arrocho econômico imposto pelo Ministério Civil da Grécia. No entanto, a monarquia era a favor de sua realização. O Rei Goerge I apoiava a paixão do filho, Constantino, pelo esporte. O premier Charilos Tricoupis ameaçou se demitir se o rei optasse pelos Jogos. Porém, um golpe dado por George I propiciou sua realização. Ele tirou uma licença, alegando uma viagem diplomática, deixando seu filho, interinamente, com a coroa. Constantino optou pela Olimpíada e demitiu Tricoupis, abafando a crise política. A Olimpíada venceu a sua primeira batalha política.

Nazismo

Em 1931, o Comitê Olímpico Internacional anunciou que Berlim seria sede dos Jogos Olímpicos de 1936. A Alemanha, à época, ainda não era governada por Adolf Hittler. O nazismo era uma ameaça, pois o partido crescia assustadoramente e o manifesto de Hittler, Mein Kampf (Minha Luta), já se tornara conhecido. Nele, ele exaltava a raça ariana, sua superioridade e sua pureza, que deveria ser preservada a todo custo. Os alemães viviam uma grande crise política. O dinheiro não valia nada. Para comprar um pãozinho, por exemplo, era preciso um carrinho de mão cheio de marcos. O caos econômico favoreceu Hittler e os nazistas, que chegaram ao poder. Adolf, austríaco, que foi cabo na Primeira Guerra Mundial, que mais tarde se tornara pintor de parede e de quadros sem expressão, foi elevado à condição de chanceler. Tinha início a perseguição aos inimigos naturais da Alemanha: Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e principalmente aos judeus. A Olimpíada passou a ser prioridade para mostrar ao mundo que a raça ariana era superior e que o nazismo era o futuro da humanidade. Os Estados Unidos detectaram o perigo.

Em 1934, um prócer judeu, Henry Morgenthau, que integrava a cúpula política dos Estados Unidos, alertou o presidente Franklin Roosevelt, que decidiu mandar um observador à Alemanha: Avery Brundage. A escolha não foi das melhores, pois Brundage dirigia um clube racista, que não permitia a entrada de negros e nem de judeus. Além disso, odiava Jim Thorpe, que era índio, e foi o herói norte-americano das pistas nos Jogos de Estocolmo’1912. Foi à Alemanha e na volta, maravilhado, fez um relatório elogioso a Hittler e ao nazismo. Sua conclusão foi surpreendente: “Temos muito o que aprender com os alemães”. Havia, na Europa, e mesmo dentro do Comitê Olímpico Internacional (COI), um movimento anti-nazismo. O então presidente da entidade, o belga Baillet-Latour, não queria a Olimpíada na Alemanha. Houve até uma tentativa de esvaziamento de Berlim, com a realização de um outro evento paralelo, em Barcelona, mas a proposta caiu por terra com a eclosão da guerra civil espanhola.

Em 1° de agosto de 1936, acontecia a solenidade de abertura no estádio olímpico de Berlim. Tudo estava a favor de Hittler. A Alemanha tinha se recuperado economicamente. A cidade havia preparado instalações consideradas espetaculares. Berlim estava toda enfeitada. Nas ruas, enormes estandartes com a cruz suástica, além de homens da SS, vestidos de preto, agentes da Gestapo, a polícia secreta de Hittler. Nas pistas, piscinas, quadras e campos, a expectativa do ditador era de uma vitória esmagadora da raça ariana. A organização estava perfeita. Não houve uma reclamação sequer quanto a isso. A Alemanha havia investido uma fortuna na preparação de seus atletas e equipes. Tinham de vencer tudo para mostrar sua superioridade. Mas viria um duro golpe para Hittler: os negros norte-americanos, em especial um, Jesse Owens, que faturou três medalhas de ouro. Ele e seus companheiros  venceram todas as provas de atletismo. Na final dos 100 metros rasos, Hittler se retirou do estádio para não premiar o norte-americano. Mas, no quadro de medalhas, vitória de Hittler: 32 medalhas de ouro contra 24 dos Estados Unidos. Os Jogos haviam se transformado numa bandeira de propaganda de Hittler. Dois anos mais tarde, o chanceler alemão mergulharia o mundo no caos, numa das batalhas mais sanguinolentas da história: a Segunda Grande Guerra. As duas edições seguintes dos Jogos, Tóquio’1940 e Londres’1944, foram canceladas por causa do conflito. A Olimpíada só voltaria a acontecem em 1948, na capital inglesa.

Propaganda

Desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos, o evento se tornou um ótimo veículo para a propaganda política. Foi assim que a família real grega escolheu um lugar de destaque para as provas de atletismo, que tinham grande visibilidade. Construíram um camarote em frente à linha de chegada no Estádio Olímpico. Estavam sempre em destaque. Em 1906, o Barão Pierre de Coubertin cede a pedidos da monarquia grega e aceita a realização de uma edição dos Jogos, fora de época, só para salvar o trono. Os governantes precisavam do apoio dos rebeldes republicanos, que queriam o fim da monarquia. O gesto de George I em 1896 foi repetido pela família real britânica na Olimpíada de 1908. Em Estocolmo’1912, um golpe do rei da Suécia, Gustav V, que cedeu a condição de entregador de medalhas a um importante aliado político, o czar Nicolau Nicolai, da Rússia. O objetivo era recuperar a imagem do chefe de estado russo, bastante abalada. Em 1917, ele cairia do trono.

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