Gustavo Nolasco

CRUZEIRO

A minha Seleção é o Cruzeiro

Maior goleiro brasileiro do século XXI é vítima da síndrome de vira-lata

postado em 14/03/2018 09:44 / atualizado em 14/03/2018 13:19

Ramon Lisboa/EM/D.A. Press

Quanto mais amo o Cruzeiro, mais perco o interesse na Seleção Brasileira. Foi-se o tempo do escrete nacional unindo paixões de Norte a Sul. Após a convocação de Tite nesta semana, última antes da escolha derradeira para a Copa da Rússia, sacramentou-se uma década de injustiças contra o maior goleiro do Brasil no século XXI, Fábio. Mas esse meu desdém cristalizado com relação à “verde e amarela” não nasceu agora, vem de um histórico de maldades cometidas contra craques e ídolos do nosso bastião azul e branco.

Niginho Fantoni, o “Artilheiro dos clássicos”, um dos maiores ídolos do Cruzeiro/Palestra. Na década de 1930, foi à Europa e de lá fugiu, pois se negou a entrar para o exército de Mussolini. Retornou ao Brasil. Palmeiras, Vasco e Seleção. Mesmo não ostentando o manto sagrado, o que voltaria a fazer em 1939, tornou-se o primeiro injustiçado entre os nossos gigantes. Reserva imediato do contundido Leônidas “Diamante negro”, ele o substituiria justamente contra a Itália na semifinal da Copa de 1938. A sombria relação entre Getúlio Vargas e Mussolini sacramentou o horror. Niginho foi impedido de entrar em campo. Trincando os dentes de tristeza, assistiu a seus companheiros sucumbirem.

Três décadas depois, um novo regime autoritário cruzaria o destino de outro ídolo do clube popular e operário do Barro Preto. Dirceu Lopes, o “Príncipe”, gênio do feliz escrete de João Saldanha, sentiria o fel do subterrâneo da ditadura. Para agradar aos generais, o lambe-botas Zagallo alijou o cruzeirense do Mundial de 1970. O golpe militar sanguinário, além de mutilar e assassinar milhares de brasileiros, impediu o mundo de assistir ao que poderia ter sido o maior espetáculo mundano de todos os tempos: uma Copa do Mundo conquistada pelo Rei Pelé e o Príncipe Dirceu.

Na biografia do craque, escrita por Pedro Blank (integrante da imaginária Academia Cruzeirense de Letras, da qual Plínio Barreto é patrono e J.A. Ferrari é presidente benemérito), a covardia de Zagallo é escancarada e nos enoja. Procurado por Mr. Blank, o traidor manteve sua clássica petulância e não teve a hombridade de ao menos se desculpar pelo malfeito a Dirceu.

Em 1990, torci fervorosamente contra o Brasil. Indignado porque meu ídolo Balu havia sido preterido por Sebastião Lazaroni. Fui aos Correios e enviei um telegrama para a campanha criada pela torcida cruzeirense para tentar sensibilizar o treinador. Apesar das milhares de cartas, telefonemas e do meu telegrama, o lateral-direito do Cruzeiro “geração de prata” do final dos anos de 1980 não foi à Copa. Vibrei quando Caniggia e Maradona humilharam Lazaroni e seus escolhidos!

Outras maldades se acumularam. Nonato convocado fora de hora para nos prejudicar. Ronaldo que nem sequer entrou em campo em 1994. Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro renegados a um mísero chamado.

Nesta semana, com o sonho da Copa de 2018 enterrado, o muro de concreto Fábio entra para a história do futebol brasileiro como o maior goleiro de todos os tempos que menos foi convocado para a Seleção. Assistimos, tristes, a Tite seguir o roteiro do renascimento da rodriguiana síndrome de vira-lata que se abate sobre o Brasil. Onde basta aos goleiros migrarem para o Primeiro Mundo e assim, pelos uivos de cachorros magros e pulguentos, se transformarem em “experientes e capacitados”.

Certo é que já não torceria para o Brasil na próxima Copa por não admitir que um menino mimado e sonegador milionário de impostos seja o símbolo de uma geração. Porém, com a última das possíveis copas negada ao Fábio, o meu sentimento de menosprezo pela Seleção deixa de ser movido pela raiva. Serei contra a Seleção pelo meu amor a minha verdadeira nação, o Cruzeiro Esporte Clube.

Tags: cruzeiroec copadomundo copa2018