Copa do Mundo

CULTURA

Celeiro de grandes ícones das artes

País brindou o mundo com mestres da dança, da música, do cinema e da literatura. Obras são consideradas 'patrimônio da humanidade'

postado em 24/05/2018 17:04 / atualizado em 05/06/2018 21:04

AFP / ATTILA KISBENEDEK


Vá lá, o futebol não é exatamente a praia dos russos, ainda que rica paixão entre seu povo, mas quando o assunto é arte, o país ocupa como poucos um lugar na prateleira de cima. Então, não há exagero quando a literatura local é apontada como “patrimônio da humanidade”, ainda que sob o olhar generoso da Embaixada da Rússia no Brasil. Ou alguém contestaria ícones como Dostoiévski, Tolstoi, Tchekhov e Gogol?

É exatamente pela voz deles – e de seus personagens – que se compreende em parte a alma russa, assim como os dramas mais amargos que a nação e sua gente viveram. Fiodor Dostoiévski (1821-1881), por exemplo, esteve perto da face infernal da vida. Condenado à morte em 1849 por militância antigoverno, foi indultado, pagou a pena com trabalhos forçados por quatro anos na Sibéria e brindou a humanidade com obras-primas como Crime e Castigo (1866) e Os Irmãos Karamazov (1880). Seus livros exploram com detalhismo precioso aspectos da insanidade, autodestruição e violência quase febris.
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Uma abordagem tão avassaladora do ponto de vista literário quanto Guerra e Paz, romance para além de histórico, considerado um marco, que descreve a invasão dos exércitos de Napoleão à Rússia, escrito entre 1864 e 1869 por Leon Tolstoi (1828-1910). Emblemático como Anna Karenina (1877), em que afloram dilemas existenciais ao abordar traição e passionalidade, colocando em xeque a então ‘sagrada’ instituição do casamento.

Entre os contistas, salta a genialidade de figuras como Anton Tchekhov, Nikolai Gogol e Maximo Gorki. Na poesia, Alexandre Pushkin, visto como fundador da moderna escrita russa, e Vladimir Maiakovski, estrela da era soviética.

Se a literatura ajudou a exportar a alma dramática do país, o balé a encheu de leveza ao apresentá-la ao mundo. E foram exatamente os poemas de Pushkin a inspiração inicial do coreógrafo Charles Didelot, francês, que levou a dança local ao nível do restante da Europa. Ele tratou de consolidar, no início do século 19, a semente plantada em 1738, com a criação da Escola Imperial de Balé em São Petersburgo.

Foi outro francês, Marius Petipa, quem, a partir de 1862, teve papel fundamental ao se tornar o mestre de danças do Teatro Mariinsky, berço da companhia Kirov (renomeada assim com a Revolução Russa), na antiga capital. Criou várias coreografias, incluindo as icônicas Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida, Dom Quixote e O Quebra-nozes. É tido como pai do balé clássico. Na virada daquele século, o empresário teatral Sergei Diagilev trataria de ocupar os palcos de outras nações para encantar plateias, agora com coreografias vanguardistas de Michel Fokine.

A nova geração de bailarinos incluiria fenômenos como Anna Pavlova (1881-1931) e Vatslav Nizhinski (1889-1950). E terminaria por consagrar não só o Kirov como o Bolshoi, de Moscou, cujo teatro é uma das maiores atrações turísticas da cidade. Fundado em 1776, foi reaberto em 1825, depois de o prédio ser destruído por um incêndio. Sua marca é tão respeitada, que abriu escolas em outros países, incluindo o Brasil, cuja unidade foi inaugurada em 2000.

Dois dos maiores bailarinos do século 20, o russo Rudolf Nureyev e o letão Mikhail Baryshnikov, fizeram parte do Kirov. Ainda nos tempos de Guerra Fria, ambos desertaram em turnês pelo exterior. Nureyev pediu asilo na França, em 1961, enquanto Baryshnikov se refugiou no Canadá durante uma temporada de 1974.

A ‘nova’ onda emergiu, por fim, com o Russian State Ballet, criado em 1981. Em sua última turnê pelo Brasil, no ano passado, reunia nada menos que integrantes do Kirov e do Bolshoi, a soma de duas escolas mais que reverenciadas.

Joias arquitetônicas perto de Moscou
É uma das cidades declaradas patrimônio da humanidade pela Unesco. Entre os destaques arquitetônicos em meio a tanta plasticidade está seu Kremlin. A fortaleza, destinada para a proteção das investidas dos tártaros, foi construída do século 14 (1374) ao 16. Foi erguida num ponto privilegiado, ao lado de uma colina com vista para o Rio Volga, que ao lado do Oka garante clima ameno no verão. Estão preservadas 13 torres em dois quilômetros de muralhas de tijolos. Por sua localização, tornou-se relevante centro comercial para a Rússia no século 19. Entre as sedes da Copa, é a mais próxima de Moscou. Entre 1932 e 1990, no regime soviético, foi chamada de Gorky, celebrando Maximo Gorki, escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político, natural da região. Pesquisas sobre armas nucleares tornaram Níjni Novgorod um local sob extrema vigilância por um longo período.

Fundação: 1221
População: 1,2 milhão
Área: 460 Km²
Distância para Moscou: 425 quilômetros
Tempo de voo: 1h10min

MÚSICA CLÁSSICA

Considerado o maior compositor russo de música clássica, Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893) tem entre suas obras mais populares temas que ganharam vida própria com o balé: Quebra-nozes, O Lago dos Cisnes e A Bela Adormecida. De suas tantas criações há também óperas e sinfonias, além de composições sacras. Entre outros símbolos do clássico musical do país está Igor Stravinsky (1882-1971), maestro e pianista franco-russo. É visto como um dos mais influentes compositores do século 20. Com repertório eclético, Sergei Prokofiev (1891-1953) compôs nove sinfonias para orquestra, fez trilhas para o cinema, óperas. É autor de sete balés, incluindo O Bufão (1921), O Filho Pródigo (1929), Romeu e Julieta (1938) e Cinderela (1945).

CINEMA
Embora tenha nascido na Letônia, não há nome que melhor traduza o cinema russo que Serguei Eisenstein (1898-1948). Mais do que isso, ele se transformou no cineasta da Revolução de 1917 – até que fosse reprovado por ninguém menos que Stalin. Sua obra é emblemática para além do país. O Encouraçado Potemkin, de 1925, se transformou numa referência tanto no sentido político quanto cinematográfico, ao retratar o motim dos marinheiros que se recusam a lutar contra o Japão na guerra de 1905. Influenciou, entre tantos diretores, Orson Welles, Jean Luc Godard, Brian de Palma e Oliver Stone. Peça de propaganda encomendada contra os alemães, Alexandre Nevski, de 1938, é reverenciado por ter uma das cenas mais icônicas levadas às telas, retratando a batalha no gelo contra o inimigo.

LUXO E SIMPLICIDADE
No campo das delicadezas, há dois símbolos que são almas-gêmeas da Rússia. De um lado, a alta joalheria, com as criações de Peter Carl Fabergé (1846-1920). Do outro, o artesanato, representado pelas matrioskas, bonecas talhadas em madeira e pintadas com motivos camponeses e cores vibrantes. Por anos, o joalheiro atendeu a corte russa, produzindo milhares de objetos utilitários e de decoração. Suas obras mais representativas são os 57 Ovos de Fabergé, criados para os dois últimos czares presentearam as respectivas mulheres no período de Páscoa. Já as bonequinhas (uma unidade com três pares em seu interior) seriam uma inspiração num modelo japonês do fim do século 19, ganhando notoriedade a partir da Exposição Mundial de Artes de 1900, em Paris. Conforme a tradição local, trazem sorte.

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