COLUNA DO JAECI

Quinta-feira a bola rola no país da Copa

'Que bons ventos, mais quentes que os atuais, soprem por aqui, e que vejamos uma Copa histórica'

postado em 11/06/2018 12:00

AFP / JOE KLAMAR
Moscou – Aos poucos vamos nos adaptando ao país da Copa, e ele à gente. Costumes e tradições diferentes. Aqui, a desconfiança é maior que o sorriso. Parece que somos vigiados a todo o momento e que um membro da KGB vai invadir nosso hotel e nos levar para um lugar desconhecido. As ruas sombrias, a falta de receptividade dos atendentes do hotel, a má vontade dos taxistas, que querem sempre levar vantagem numa possível corrida. Cada um da fila do táxi dá um preço diferente. Uber ainda é a melhor opção e, no nosso caso, metrô, já que temos passe livre. Aos poucos, vou decorando as estações, contando quantas faltam para chegar. A animação na Praça Vermelha e suas imediações é contagiante quando vemos latino-americanos. Um grupo argentino animou um bar das redondezas, onde três DJs dividiam as pick-ups. Até dançar em cima do balcão eles dançaram, deixando os russos embasbacados. Não é normal isso num país que tem tanto resquício do comunismo. Mas Copa do Mundo é isso. Serve para quebrar barreiras, unir povos, mudar culturas.

Procurei em todos os canais de TV para ver Brasil x Áustria, mas aqui eles só passam vôlei e esportes russos. Optei por ir aos estúdios da Itatiaia, no IBC, onde fui recebido pelo vice-presidente Cláudio Carneiro, pelo repórter Bruno Azevedo, pelos operadores Rodrigo Piu-Piu e Leonardo Silveira e pelo engenheiro Alan Carvalho. Fiz um post para o Superesportes, mostrando a estrutura da rádio mineira. Um show. Um jogo que me deu mais sono que o fuso horário, no primeiro tempo – tirando o gol de Gabriel Jesus (foto), que, para mim, estava impedido. Já no segundo tempo, a Áustria abriu a defesa e foi tomando gol. Primeiro com Neymar, em drible de futsal e um belíssimo gol, e, depois, com Philippe Coutinho, fazendo 3 a 0. Uma despedida em grande estilo, rumo à estreia contra a Suíça, domingo, em Rostov do Don.

No Instagram do jogador Gonçalves, vejo a reunião do grupo que perdeu para a Noruega, na Copa de 98. Foi um jogo, 20 anos depois, em Oslo, e o Brasil venceu por 3 a 0. O melhor não foi a vitória, e sim ver Ronaldo Fenômeno, Edmundo, Bebeto, Rivaldo, Roberto Carlos, Emerson e tantos outros amigos que fizemos no futebol. Fui convidado por Emerson, mas, por estar aqui, concentrado na Copa, não me animei. Bons e velhos tempos, onde os jogadores conversavam conosco, brincavam, gostavam da gente. Esses caras que vestem a amarela hoje talvez não gostem nem deles mesmos. Como dizem os boleiros, “são uma perna só”, ou seja, uma máscara gigante. Vamos ver onde essa Seleção vai chegar, pois o oba- oba está grande. Não por parte de jogadores e comissão técnica, mas por parte da imprensa puxa-saco, que já aponta o Brasil como o grande favorito. Tite dá entrevista coletiva e, a qualquer piada, mesmo que sem graça, os caras riem. O discurso do treinador é firme e convincente. Vamos ver se o futebol será no mesmo nível. O trabalho fechado copia o sistema europeu. Vamos ver se o futebol apresentado será o mesmo que a Alemanha apresentou naqueles 7 a 1.

Estou em minha sétima edição de Copa do Mundo e confesso que nunca vi uma seleção com tantos privilégios. Tudo o que foi pedido, o ex-presidente Marco Polo Del Nero deu. Olha que a comissão técnica tem 46 membros. Analista de números, cinegrafistas, não sei quantos fisioterapeutas, e por aí afora. Lembro-me quando Luxemburgo, então técnico da Seleção, assumiu em 1998, após perdermos o título para a França, e montou sua equipe com 19 membros. Foi contestado por todos. Tite, não. Faz o que quer e todos batem palmas. Temo muito pelo Brasil nessa Copa. Quando a coisa começa com tantos privilégios e poucas contestações, não termina bem.

O frio por aqui está incomodando. Estive aqui em março, debaixo de neve. Como o verão está chegando, esperava temperaturas mais elevadas. Dizem que nesta semana a coisa vai melhorar. Vamos ver. Ontem, por exemplo, foi um domingo de frio e chuva. Quinta-feira, o estádio Luzhniki vai estar lotado para abertura da Copa. Várias raças e miscigenações estarão lado a lado, mostrando que o esporte bretão serve mesmo para unir os povos. Não será a Copa dos sonhos, mas espero ver uma abertura nos moldes da Olimpíada de 1980, quando, repito, ficamos emocionados ao ver o urso Misha com uma lágrima escorrendo de um dos olhos. O que será que os russos vão aprontar desta vez? Na Praça Vermelha, um gigantesco palco foi montado para várias atrações. Atrás da São Basílio, os estúdios das redes de TV do mundo destoam do cenário. Mas é a modernidade, a busca pela maior audiência. E, claro, todas as emissoras devem estar pagando uma fortuna para estar ali. Vamos entrar na semana de abertura do Mundial. Que bons ventos, mais quentes que os atuais, soprem por aqui, e que vejamos uma Copa histórica. Isso, se depender dos turistas e torcedores, pois o povo daqui não me parece muito empolgado com o futebol. Como a Fifa não se importa com isso, e só com os bilhões de dólares que a competição vai render, segue o jogo.

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