COLUNA DO JAECI

Caboclo jamais pensou em demitir Tite

O novo presidente da CBF vai dar continuidade ao trabalho de Del Nero, banido pela Fifa sem prova material concreta

postado em 10/02/2019 12:00

AFP

Na “Bomba do Jaeci”de sábado, publiquei que o presidente eleito da CBF, Rogério Caboclo, assim que tomar posse, em abril, fará mudanças na entidade. Entretanto, ele jamais me disse que mandaria Edu e Tite embora. Ao contrário disso, é meta dele manter os dois até a Copa de 2022, independentemente do resultado na Copa América. Caboclo gosta e acredita no trabalho da dupla, e está satisfeito com eles. Quem não está feliz sou eu, pois o coordenador e o técnico vivem privilegiando a TV Globo e fizeram trabalho pífio na Copa do Mundo da Rússia. Para quem não sabe, fui um dos que sugeriram ao então presidente Marco Polo del Nero, em 2016, a contratação de Tite, logo após o Brasil ser eliminado pelo Peru na Copa América dos Estados Unidos.
 
Achava que Tite seria um grande treinador e devolveria ao Brasil o verdadeiro futebol. Ele até conseguiu nas Eliminatórias, contra adversários fracos. Porém, no Mundial da Rússia, levou seis jogadores machucados e não soube dar padrão de jogo, insistindo com Fernandinho e Paulinho, além de Renato Augusto, Fágner e outros menos votados, fazendo a “panelinha corintiana”. Tite foi uma decepção para mim. Com ele no comando, embora eu torça sempre pela camisa amarela, acho difícil ganharmos a Copa do Mundo do Catar.

O novo presidente da CBF conhece futebol, pois seu pai foi dirigente do São Paulo. Ele praticamente nasceu dentro do esporte bretão e promete cuidar do nosso futebol com o maior carinho. É muito reto, de poucas palavras e observador. Vai dar continuidade ao trabalho de Del Nero, banido pela Fifa sem prova material concreta. Marco Polo ajeitou a CBF, colocou pessoas-chave nos departamentos e a entidade funciona de forma limpa e transparente. Abriu a CBF para ex-jogadores, técnicos, dirigentes e imprensa em geral.

Caboclo, que é o diretor executivo e respeita a hierarquia, não quis pular etapas e se mantém fiel ao presidente em exercício, Coronel Nunes. Fui o único jornalista convidado para o jantar, após o sorteio, no Hotel Hyaat, na Barra da Tijuca, e pude perceber o quanto o presidente da Conmebol e seus pares têm respeito e admiração por ele. Com Caboclo, nosso futebol vai melhorar, principalmente na parte técnica. Ele gosta de ouvir aqueles que, como eu, militam no esporte há várias décadas.

Não vou concordar com ele em tudo, e nem ele comigo. Porém, o respeito às opiniões é fundamental para o crescimento de todos. Não acredito mais no trabalho da dupla Tite-Edu e acho que o departamento médico da Seleção também precisa se explicar. São muitos problemas recorrentes e o fato de ter levado seis jogadores machucados para a Rússia me deixou ressabiado. Pelo que tenho visto, Cléber Xavier, auxiliar de Tite, é o cara que conhece futebol, define o esquema de jogo e monta a equipe. Quanto a Edu Gaspar, não tem tamanho, nem projeção para coordenar a Seleção principal. Não tem história na entidade, em Copas do Mundo, com a camisa amarela. É outro que não pode ver o microfone global que se derrete todo. Saudade de Telê Santana, que não privilegiava ninguém. E olha que na época de Telê, em 1986, na Toca da Raposa, eu trabalhava na TV Globo.

Espero que Rogério Caboclo esteja certo em manter Tite e que o hexa venha no Catar. Torço por isso, independentemente de quem esteja no comando, pois toda vez que o Brasil ganha um Mundial, ganhamos todos. Não gosto de ir às Copas para perder. Adoro o time canarinho, trabalho e torço por ele, pois o futebol está no meu sangue e na minha alma. Entretanto, como jornalista que cobre a Seleção Brasileira desde 1986, não me furto a analisar com coerência, isenção e qualidade.

Tomara que os jogadores que estão surgindo como promessas para 2022, como Vinícius Júnior, Rodrigo, Paulinho, Pedro, Ricarlyson e outros possam se juntar a Neymar e Coutinho devolvendo ao Brasil a nossa essência. Como sempre me disse um grande dirigente, meu amigo e campeão, os treinadores são apenas instrumentos usados por eles, para agrupar os jovens e montar um time. Em campo, quem decide são os atletas, e ponto.

Não tenho dúvida de que Rogério Caboclo vai revolucionar o nosso futebol, e de que precisamos de CEOs como ele. Admiro suas convicções e apostas. É direito de cada um apostar no que acredita. Não gosto do trabalho de Tite, mas, toda vez que a Seleção Brasileira, maior patrimônio esportivo do povo, entrar em campo, sou mais Brasil, afinal, Tite é apenas um instrumento.

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