COLUNA DO JAECI

Treino fechado não ganha Copa

Tite e sua comissão técnica adotam postura europeia no quesito imprensa-time, mas mostram futebol bem diferente dos europeus

postado em 20/03/2019 12:00 / atualizado em 20/03/2019 09:38

<i>(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)</i>

Porto – Dizer que existe novidade nesta Seleção Brasileira de Tite não seria coerente, mas há apenas 11 jogadores que disputaram e fracassaram no Mundial da Rússia, o que mostra que a renovação, pretendida pelo torcedor brasileiro, começa a aparecer. Não sei se a ponto de o técnico abrir mão dos veteranos que ele sempre gostou: Thiago Silva, Miranda (que estão aqui), Fernandinho, Paulinho, Renato Augusto e Daniel Alves, que não estão. O último estava na lista, mas foi cortado por problemas no joelho. Para seu lugar veio Fágner, do Corinthians. Um lateral fraco para atuar na Seleção Brasileira, mas é o que tem. Uma posição de muita carência no nosso futebol. Danilo, que atua no Manchester City, não me agrada. Existe um conceito entre os profissionais de imprensa de que se Tite perder a Copa América no Brasil, será demitido. Eu discordo, pois sei que a intenção da diretoria da CBF é mantê-lo até a Copa do Catar, independentemente de resultados. Será quer Tite suportaria novo fracasso, dentro do Brasil, numa Copa América? Sabemos que a pressão popular derruba qualquer treinador. Muitas das vezes, os dirigentes pensam em continuar com o trabalho, mas cedem às pressões e buscam num novo técnico algo melhor.

Também não temos um grande técnico no futebol brasileiro. Agrada-me o trabalho de Renato Gaúcho. Mano Menezes, outro bom técnico, já esteve aqui e fracassou. Perdeu a decisão da medalha de ouro para o México, em Wembley, em 2012, e acabou sendo demitido após um jogo com a Argentina. A CBF apostou novamente em Felipão e acabou se dando mal. Tomamos aquela lavada de 7 a 1, na semifinal da Copa no Brasil. Uma vergonha sem precedentes. Optaram pela volta de Dunga, mas ele foi eliminado da Copa América, nos Estados Unidos, em 2016, pelo Peru. Aí, não havia como segurá-lo. Tite foi convidado, aceitou, tirou o Brasil do sexto lugar das Eliminatórias e o pôs em primeiro, classificando-o com três rodadas de antecedência para a Copa da Rússia. Tornou-se quase unanimidade, mas o péssimo desempenho no Mundial deixou os torcedores intrigados e descrentes em seu trabalho. Porém, foi mantido e reinicia um novo ciclo.

É importante dizer que o Brasil precisa resgatar seu velho e bom futebol. Sabemos que não há grande jogadores no mercado. Mesmo a maioria atuando aqui na Europa, a gente percebe que são jogadores bem comuns. Atletas que não jogariam na Seleção de 2002 ou 2006, por exemplo. Daí pra frente, com o fim da era dos grandes craques – Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos, Adriano –, o Brasil tem vivido de jogadores bem comuns, à exceção de Neymar, que tem belo futebol, mas que não consegue desenvolver no time canarinho. E não me venham com essa bobagem de estatística, dizendo que ele tem tantos gols e que poderá ultrapassar a marca de Pelé, maior goleador da Seleção. Claro que sim. Na época de Pelé a Seleção jogava pouco e contra adversários de alto nível. Hoje, joga muitas vezes por ano e contra equipes de qualidade duvidosa, o que proporciona aos atacantes fazer uma boa quantidade de gols.

Essa Seleção continua fechada, sem entrevistas exclusivas, sem que tenhamos acesso aos jogadores e comissão técnica, exceto nas coletivas, cujos jogadores que vão falar são escolhidos por eles e não por nós. São os novos tempos da Seleção, onde não há craque, há muitos segredos e poucas revelações. Os treinos são secretos – a imprensa tem acesso aos primeiros 20 ou 30 minutos, normalmente vemos o aquecimento – e na hora dos jogos não conseguimos entender o motivo de os treinos serem fechados, já que o time canarinho mostra futebol pobre e sem inspiração. Tomara que até a Copa América possamos evoluir e crescer. Com esse futebol e essa mentalidade não ganharemos Copa do Mundo tão cedo. Tite e sua comissão técnica adotam postura europeia no quesito imprensa-time, mas mostram futebol bem diferente dos europeus, que hoje nos superam em tática, física e técnica. Outra coisa: os patrocinadores precisam aparecer, ter suas marcas veiculadas. Quanto mais fecham a Seleção, mais os partners ficam escondidos. O Brasil foi pentacampeão do mundo sem esconder um treino. Depois que criaram essa palhaçada, não ganhamos mais nada.

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