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Carreira, reação do América na Série B, preferências táticas e futuro: Felipe Conceição abre o jogo em entrevista exclusiva

Treinador conta como foi aceitar o desafio e recuperar a equipe, que saiu do Z-4 para brigar pelo G-4

postado em 18/10/2019 08:00 / atualizado em 17/10/2019 20:45

<i>(Foto: Paulo Filgueiras/EM D.A Press)</i>
Quando Felipe Conceição, de 40 anos, assumiu o comando técnico do América, o time tinha disputado nove partidas na Série B do Campeonato Brasileiro, e vencido apenas uma, empatado duas e perdido seis. Era apenas o 19º colocado, o penúltimo da tabela. O ataque era o pior da competição, com apenas seis gols marcados, e a defesa havia sido vazada 14 vezes. De lá pra cá, muita coisa mudou. O Coelho, que chegou a estar na lanterna e ficou 15 rodadas na zona de rebaixamento, já é o quinto colocado, e briga por vaga na Série A de 2020. Está a apenas dois pontos do quarto lugar e tem a melhor campanha do returno. Para chegar a esse nível, o treinador, que comandou o time em 20 partidas, tem o retrospecto de 11 vitórias, seis empates e apenas três derrotas. Com ele, o América marcou 26 gols e sofreu 13. Uma mudança radical, que deixa a torcida eufórica, entusiasmada, acreditando na subida para a Primeira Divisão. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, Felipe Conceição fala sobre sua caminhada até aqui, a oportunidade de dirigir o América, a recuperação do time, a relação com o grupo e o futuro como treinador.

O começo de tudo


“Minha carreira começou no Botafogo. Cheguei lá em 1996. Fiquei dois anos na base e subi para o profissional. Era atacante. Fiquei cinco anos no clube da Estrela Solitária. Depois fui para o Juventude, depois fui para o exterior. Joguei no Vitória de Guimarães, de Portugal, Ponte Vedra, da Espanha, e Lioning, de Xinyang, na China. Joguei ainda em algumas equipes do interior do Rio. Encerrei minha carreira na Cabofriense.”
 

O técnico


“Comecei a carreira de treinador no Botafogo, na base, onde fiquei três anos. Depois fui auxiliar do Jair Ventura. Foi um período muito bom do time carioca, quando conseguimos vaga na Libertadores. Acabei assumindo como treinador. Mas fiquei pouco tempo. Foram apenas 40 dias. Conseguimos cinco vitórias. Mas a eliminação na Copa Brasil acabou com que me demitissem. Ainda dirigi o time num jogo depois de ter sido demitido, contra o Flamengo. Mas aquele trabalho foi importante para a temporada, pois o Botafogo acabou campeão em 2018. Faço parte da história desse título.”
 

Sem mágoa


“Não considero que tenha sido injustiçado. Pelo contrário. Foi uma boa experiência. Ao me tornar técnico do time profissional, me senti recompensado pelo tempo que joguei lá, pelo tempo como treinador da base e depois como auxiliar de Jair Ventura. No período em que estive na base do clube, foi quando mudamos a concepção de base que lá existia. O Botafogo passou a ganhar títulos e teve jogadores convocados para as diversas seleções brasileiras. Não tenho mágoa.”
 

A chegada


“Cheguei ao América em 25 de junho de 2018. Foi através de um convite do Ricardo Drubscky. Ele me perguntou se aceitaria ser auxiliar novamente, uma vez que, depois do Botafogo, fui técnico do Macaé, na Série D. Respondi que sim. Depois dele, permaneci com o Adílson Batista, Givanildo Oliveira e Maurício Barbieri. Aprendi muito, me aprimorei com todos eles. O Adílson me ensinou muito, mas o aprendizado maior foi com o Givanildo. Ser auxiliar técnico é dar apoio ao treinador. Aprendi gestão de grupo.”

<i>(Foto: Paulo Filgueiras/EM D.A Press)</i>
 

O convite


“Quando o Barbieri saiu, o Paulo Bracks me telefonou sondando se aceitaria ficar como treinador. Mas foi apenas uma sondagem. Ele passou ao nosso presidente, Salum, o que conversamos. O Salum me ligou e perguntou se toparia, embora fosse uma hora muito ruim. A campanha era ruim. Disse que confiava em mim e no trabalho que poderia fazer. Não pensei duas vezes. Decidi aceitar o desafio e, até agora, tem dado certo. Tenho uma vantagem, que é o conhecimento do grupo. Tenho bom relacionamento com todos os jogadores.”
 

No comando


“O início era o desafio maior. E não conseguimos vencer logo que assumi. Era um momento muito difícil. Somamos dois pontos em nove disputados. Mas sabia que iríamos melhorar, pois o desempenho crescia a cada jogo. Era questão de tempo. Sabia que contra a Ponte Preta seria a chance da vitória e da virada. Vencemos. Já via um rumo diferente. Depois da vitória sobre a Ponte, empatamos contra o Paraná, 0 a 0, mas foi um jogo em que não corremos risco de sofrer gol. Isso era o mais importante.”
 

Passo a passo


“O tempo todo sabia que tinha de fazer um trabalho de recuperação da equipe. Primeiro, era preciso fortalecer a defesa. Sofríamos muitos gols e isso tinha de parar. Contra o Atlético-GO perdemos um pênalti e levamos um gol, já na prorrogação. Uma injustiça, pois tínhamos jogado muito melhor. Pra mim, o resultado é consequência do desempenho e vi que em três jogos já havia evolução. A partir dali mudou tudo, em especial a confiança. O time passou a acreditar no nosso trabalho, não só o meu, mas no de todos.”

Opções


“Uma das mudanças foi a escalação do Diego Ferreira, um lateral-direito, no ataque. Era preciso haver equilíbrio do lado direito. Ele possibilita isso. Sua presença permite que o Leandro Silva se solte, se lançando para o apoio ao ataque, assim como possibilita que o Juninho se aproxime dos atacantes. Ele já fez assistências que resultaram em gols. Mas para ter o Diego na posição é preciso fazer adaptações com ele. Por exemplo, aprender a jogar de costas para a área, para o gol. Desde que ele entrou no time, já teve chances de gols. Ainda não fez, mas isso vai mudar. Ele é importante na ajuda ao time.”
 

Volantes


“A opção por três volantes era, no início, só sustentação da defesa. Primeiro não sofrer gols, depois, marcar. Esse era o pensamento. Mas, hoje, os próprios volantes estão saindo para o jogo. Basta ver o Juninho, sempre próximo do ataque, assim como o Willian Maranhão. Os volantes dão coesão ao time.”

Poder de reação


“O time ainda tem muito a evoluir. O mais importante nos últimos jogos é que tem mostrado poder de reação. Não fomos bem contra o Figueirense. Mas, no jogo seguinte, mostrou isso.  Tivemos mais posse de bola. Isso importa. Todos os jogadores, pra mim, têm grande importância. Os que não estão jogando têm de estar tão preparados quanto os que vão a campo. A hora de cada um vai chegar e têm de estar prontos. Por isso dou atenção a todos do grupo.”

<i>(Foto: Paulo Filgueiras/EM D.A Press)</i>
 

A joia


“O Matheusinho joga tanto por dentro como por fora. Penso, sim, em aproveitá-lo na sua posição de origem, como armador pelo meio. Mas é preciso entender que é um jogador jovem e que passou por grave contusão. Ele arma pelos cantos, e dessas jogadas já saíram gols. Como também joga pelo meio. Fez um gol na terça. Contra o Brasil, de Pelotas, sofreu o pênalti. Mas é preciso entender que ele está virando profissional agora. Ele precisa de regularidade. Precisa jogar, ganhar ritmo. E o que falo com ele, que é muito importante, é que não pode deixar o sucesso subir à cabeça.”

Jogadas ensaiadas


“Temos algumas jogadas que estão dando resultado, como as cobranças de falta pelo lado direito, em que o João Paulo levanta a bola para a área. Aliás, essa é uma grata surpresa, pela velocidade que deu resultado em pouco tempo. Nossos defensores não estão só defendendo, passamos vários jogos sem levar gol, mas também estão marcando. ”

Saída do Christian


“Eu pretendia usar o Christian. Cheguei a conversar com ele. Pedi que tivesse paciência. Mas ele pediu para sair. Não posso segurar um jogador e ficar com ele contra a vontade dele em estar aqui.”

Tática e tempo


“O sistema de jogo é o 4-3-3. Não que não possa mudar a maneira de jogar da equipe, mas não dá tempo. Tenho, muitas vezes pelo pouco tempo, de reduzir a duração dos treinos. Para se ter uma ideia, fizemos cinco jogos em duas semanas. É muito. Ainda tem as viagens. Não dá tempo. Mas temos algumas variantes em circunstâncias de jogo.  Este ano, ainda não dá para modificar muita coisa. Mas, com certeza, para a próxima temporada sim.”

Quase mineiro


“Sou de Nova Friburgo, ou seja, sou um fluminense, mas bem puxado para mineiro. Gosto de queijo e pão de queijo. Gosto do América. Não gostaria de sair daqui. Aqui é o meu time, o meu clube. Meu irmão é goleiro, Arthur. Jogou o Mineiro deste ano pela URT.
 

Futuro


“Ainda não fui sondado. Não recebi nenhum convite. Mas quero ficar aqui. Sinto-me em casa.”

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