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OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'O Rei e o xeque-mate: os bastidores da política do Sport'

Colunista do Superesportes comenta o 'fora de campo' do time rubro-negro

postado em 17/10/2018 10:08

Bruna Monteiro Esp.DP/D.A Press
A influência de Luciano Bivar dentro do Sport sempre foi decisiva para os processos eleitorais. Neste momento delicado para o clube, ele retorna à cena ainda mais fortalecido por ser um dos principais articuladores da campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República e por ter transformado o seu partido, o então nanico PSL, em uma das legendas mais poderosas do país. Além de fazer 52 deputados federais - incluindo o próprio Luciano - o partido foi o que recebeu maior votação na Câmara, com 11,6 milhões de votos contra 10,1 milhões do PT. Bivar, naturalmente, terá um papel central em um eventual governo de Bolsonaro e - inclusive - já revelou que seu nome é um dos que estão sendo trabalhados para a presidência da Câmara. Surfando na sua maior curva de ascensão política, Luciano Bivar aproveitou para convocar uma reunião com ex-presidentes rubro-negros e, a partir dela, avalisar a candidatura do seu irmão, Milton Bivar, à presidência do clube.

A hora do resgate 

A atual conjuntura política do Sport já desenhava o cenário ideal para o retorno de Milton à presidência. O colapso da gestão de Arnaldo Barros e o iminente rebaixamento à Série B praticamente inviabilizam uma candidatura da situação. Os nomes que em algum momento já circularam nos bastidores - como os de Martorelli, Augusto Carreras e Laércio Guerra -  estão diretamente ligados à Arnaldo. Impossível fazer a dissociação e, sem ela, os três tornam-se indefensáveis. Até porque o dano causado pelo atual presidente é incontornável politicamente. Ele rasgou bandeiras centrais da sua campanha que foram decisivas na vitória sobre Wanderson Lacerda e que poderiam novamente ecoar diante de um grupo político envelhecido e conservador. O rótulo de “perfil de gestão ultrapassada” colou na campanha de Wanderson em 2016. Mas, dois anos depois, é muito mais factível acreditar em uma linha de “gestão antiga” do que em uma nova promessa de modernidade que não saiu do papel. O Sport encolheu nas mãos de Arnaldo Barros. A palavra “resgate” hoje faz mais sentido que qualquer outra na pauta rubro-negra.

Quase um consenso 

É neste cenário já estabelecido que o apoio direto de Luciano Bivar soa decisivo, definitivo. A candidatura de Milton ganhou status de ser quase um consenso. Uma composição de ampla união. A outra linha de oposição, lançada por Eduardo Carvalho, não tem a mínima ramificação política para se viabilizar. E é difícil considerar o surgimento de uma outra via com base de apoio e disposição para enfrentar o blocão recém-formado. Este já seria naturalmente forte com o nome de Milton à frente da chapa e agora ganhou uma solidez intransponível. O caminho natural, inclusive, é que as lideranças de um espectro menor do cenário político rubro-negro e/ou de alta popularidade nas redes sociais migrem para o entorno dos Bivar. Esse movimento já começou inclusive.

O momento de Milton 

Atrasos salariais, incerteza financeira, imbróglios administrativos e judiciais (acabou o ano e as receitas da Caixa e de parte da venda de Diego Souza seguem retidas) e um rebaixamento quase irreversível pedem mais união que enfrentamento. E, como disse acima, a candidatura de Milton já surge com esta áurea da união. Arrisco dizer que o lançamento de um grupo adversário seria mal recebido já em seu anúncio. É preciso reconhecer o momento. E o momento, claramente, é de Milton. Gostem ou não. Se identifiquem ou não. Não garanto que Arnaldo Barros e seus poucos, mas ainda fiéis apoiadores, farão essa leitura fria do cenário. Talvez joguem as últimas fichas numa reação do time dentro da Série A. Mas, efetivamente, não há tempo para esperar que o “milagre” em campo seja redentor politicamente. Assim não descarto uma saída conciliadora, evitando a avalanche de desgaste que um processo eleitoral inevitavelmente trará. Será ainda mais duro para Arnaldo ver sua gestão novamente bombardeada em seus capítulos finais.
 
Celso Ishigami/DP/D.A Press
 

Olhar pra frente 

Com a construção de um cenário amplamente favorável caberá a Milton ter o discernimento para dar um passo além em sua gestão - oxigenando e transformando o clube. No futebol, é fundamental que o clube construa uma linha central de trabalho, que haja um conceito definido de formação de elenco e mesmo forma de atuação. Diria até que as gestões de Martorelli e Arnaldo chegaram a estruturar este processo - e essa foi uma tentativa louvável - mas não conseguiram dar continuidade. Há uma unidade clara no Sport de 2014 a 2017. E, mesmo que por outro caminho, com outro perfil e conceito, é fundamental construir uma nova unidade. O Atlético/PR continua sendo o exemplo mais acessível. Basta fazer as escolhas certas. Da utilização do sub 23 no Estadual à implantação de um gramado artificial (resolvendo inclusive um grave problema da Ilha). São passos necessários que exigem apenas um punhado de convicção e coragem. A primeira tentativa ficou pelo meio do caminho. Mas o Norte segue o mesmo. Resgatar é necessário. Olhar pra frente também.