POLÍTICA
Geraldão tem reforma a passos lentos e deve ser entregue um ano depois do prazo oficial
Após mudança no projeto, Prefeitura aguarda liberação de recursos do Governo
postado em 10/01/2015 19:07 / atualizado em 11/01/2015 16:25
No local, o cenário é de abandono. As quadras que estão à disposição das modalidades que continuam funcionando - no improviso - estão abarrotadas de equipamentos da ginástica artística, kickboxing, futsal, entre outros. Os usuários remanescentes dividem espaço com os objetos e muita poeira da reforma que começou e parou.
Para bancar as obras do ginásio de esportes, um acordo foi celebrado entre a Prefeitura do Recife e o Ministério do Esporte. Dos R$ 34.243.730,64 orçados, R$ 20 milhões seriam repassados pelo Ministério e os R$ 14.243.730,64 ficariam sob responsabilidade da Prefeitura. Após o início das obras, os responsáveis encontraram a necessidade de fazer mudanças no projeto inicial. Por conta disso, foi preciso parar a reforma, reformular o projeto, levá-lo para a Caixa Econômica Federal e aguardar a liberação para dar continuidade.
Este projeto reformulado só foi enviado para a Caixa no mês passado e ainda não há previsão para ser devolvido. Dessa forma, tudo continua como está: parado. No Portal da Transparência, o convênio realizado entre os dois órgãos está registrado com o número 786299, vigente até novembro de 2016. Até agora, nenhum valor que deveria vir do Governo Federal foi repassado.
Na cláusula quinta do anexo ao contrato consta que: “A liberação dos recursos financeiros obedecerá ao cronograma de desembolso de acordo com as metas e fases ou etapas de execução do objeto e será realizado sob bloqueio, após eficácia contratual, respeitando a disponibilidade financeira do Concedente e atendidas as exigências cadastradas vigentes”. Para que o Ministério do Esporte repasse o recurso para a realização das obras, é necessário que elas estejam acontecendo.
De acordo com o edital da licitação, o “novo Geraldão” deveria ter sido entregue 365 dias após a assinatura da ordem de serviço, que aconteceu em 12 de julho de 2013. Seguindo este prazo, as reformas deveriam ter terminado em 15 de julho de 2014. Mas o gigante continua adormecido.
A reposta da Prefeitura
Em novembro do ano passado, a reportagem do Superesportes tentou contato, por várias vezes, com o presidente do ginásio Paulo Cabral, para pedir esclarecimentos. Sem sucesso. Em seguida, foi a vez do Secretário de Esportes e Copa do Mundo da Prefeitura do Recife. George Braga. Em princípio, ele preferiu não dar declarações. Pouco depois, mudou de ideia.
Na época, George Braga explicou que o repasse não foi feito porque foi preciso fazer mudanças no projeto depois que a obra começou. Por isso, foi necessário pausar o serviço. Mas, segundo ele, a obra será entregue no prazo. Um prazo diferente do oficial, que é o da licitação da obra.
“O prazo sempre foi para 2015. Desde o início, em função do fluxo de recursos e dos obstáculos que encontramos no decorrer da obra, adiamos a entrega e oficializamos isto”, disse. Oficialmente, foi informado através de Extrato de Aditivo, publicado no Diário Oficial do Município, que o novo prazo de entrega do Ginásio Geraldo Magalhães é setembro de 2015. Com mais de um ano de atraso, em relação ao prazo oficial.
“Mantém o prazo. Já temos, em número totais, 42% da obra feita”, afirmou. “Tomamos a decisão de climatizar com ar-condicionado. A princípio, a climatização seria feita de outra forma e precisaríamos que o espaço fosse o mais aberto possível. Tomada esta decisão, a necessidade mudou para que fosse mais fechado. Para aumentar a quadra, precisamos tirar três degraus de arquibancada e ela estava assentada - havia uma viga de sustentação que não podia ser retirada”, explicou esta entre outras justificativas para o adiamento do fim das reformas.
Por conta das mudanças apontadas por George Braga, o projeto precisou ser alterado. No dia 13 de novembro, o secretario afirmou que o projeto reformulado seria enviado para a Caixa Econômica Federal. No começo de dezembro, ele informou que o mesmo ainda não havia sido enviado. Já na primeira semana de 2015, o secretário assegurou que o documento foi levado para a Caixa, em dezembro de 2014, mas não confirmou quando deve ser liberado.
Usuários desejam fim das obras
Quem utilizava as instalações do Geraldão, antes do início da reforma, espera ansiosamente pelo fim das obras. Alunos e atletas de natação, futsal, dança, handebol, ginástica artística e outras modalidades estão praticando os esportes em uma estrutura improvisada. Alguns nem isso, apenas esperam que o ginásio volte a funcionar para poder voltar a praticar o esporte. Três quadras cobertas do ginásio estão recebendo aulas de dança de salão, dança do ventre, futsal, yoga, karatê, kickboxing, handebol e ginástica artística, guardando equipamentos e juntando muita poeira.
A mãe de uma das alunas informou que, durante o período em que havia atividade de obras no local e que estava sendo feita a troca da cobertura, a sujeira complicou os treinos. “Era muita poeira. Desde que os treinos passaram a acontecer aqui, eu acho que ninguém nunca limpou essa quadra. Quando estavam trocando o teto, a poeira causava coceira nas meninas. Muita gente deixou de vir para as aulas”, contou.
Além da estrutura de improviso e da falta de limpeza, os professores também sofreram com atraso de salário. O secretário George Braga afirma que a Prefeitura do Recife está se esforçando para manter o funcionamento. “Isso não é muito verdadeiro, estamos em um processo de obra para manter o funcionamento e é um esforço grande que todo mundo precisa participar. Porque é carro e caminhão entrando e saindo o tempo todo, é uma questão que não tem solução. A gente limpa e vai tratando isso com o máximo possível. Estamos nos esforçando”, afirmou.
Uma solução para este problema seria deslocar as modalidades para outras quadras na cidade do Recife, mas o secretário alega que a Prefeitura não tem recursos suficientes para isto. Ele contou ainda que está fazendo contatos para tentar retornar as atividades da natação em outro local.
Sobre o Geraldão
O ginásio foi inaugurado em 1970 por Geraldo Melo, ex-prefeito do Recife. Palco dos Jogos Escolares de Pernambuco, já recebeu eventos como o jogo da Seleção Brasileira de Vôlei, nos anos 80, uma etapa da Liga Mundial de Vôlei e as apresentações do Holiday On Ice e dos Globetrotters, além de inúmeros shows de artistas nacionais e internacionais, incluindo Roberto Carlos, Faith No More, A-HA e o tecladista do Yes, Rick Wakeman.
O Geraldão faz parte de um acervo de equipamentos esportivos projetados pelo arquiteto Ícaro de Castro Melo, que inclui também os ginásios Nilson Nelson, em Brasília; Paulo Sarasate, em Fortaleza; e do Ibirapuera, em São Paulo. A solução acústica aplicada na época da construção já era moderna, possibilitando a realização dos grandes shows.