Futebol Nacional

FUTEBOL PERNAMBUCANO

Coluna de Fred Figueiroa: As duas faces da história

Colunista do Diario de Pernambuco analisa o titulo histórico do Salgueiro sobre o prisma do feito inédito e das suas razões e consequências

postado em 08/08/2020 09:10

(Foto: Paulo Paiva/DP)
Na noite da última quarta-feira, um novo capítulo da história do futebol de Pernambuco foi escrito. Depois de 106 edições, enfim, um clube do interior conquistou o título estadual. Na sua terceira final em seis temporadas, o Salgueiro controlou - sem maiores dificuldades - um empate sem gols diante do Santa Cruz e, nos pênaltis, tornou-se campeão em pleno Arruda. Um Arruda vazio, é verdade, mas ainda assim carregado de simbolismo. Foi, sem dúvida, uma noite histórica e inesquecível. Até o último pênalti cobrado por Muller, apenas Pernambuco e Rio de Janeiro não tinham um campeão do interior. A brava conquista do Salgueiro vai além da representatividade da cidade ou do Sertão. Este título tem o DNA de toda uma camada do futebol do estado. Uma cadeia produtiva que envolve jogadores, técnicos, assistentes, médicos, preparadores físicos, massagistas, roupeiros e dezenas de outros profissionais que trabalham nos pequenos clubes - em condições muitas vezes precárias. Muitos dedicaram a vida por esta “causa” e tenho certeza que se sentiram representados pelo Salgueiro.   

Mas... 

Capítulo escrito, é fundamental partir para uma leitura mais fria do título. Este não é, nem de perto, o melhor time montado pelo Salgueiro na última década. Longe disso. As equipes de 2015 e 2017, vice-campeãs, tinha mais virtudes e - fundamentalmente - mais qualidade técnica. Havia, inclusive, um investimento maior no clube, que chegou a disputar a Série B do Campeonato Brasileiro. A conquista em 2020 acaba direcionando parte significativa do foco para uma crise sem precedentes no futebol de Pernambuco. Não há mais como varrer os incontáveis problemas para baixo do tapete. O buraco está ficando muito fundo.

A dura realidade

O outro lado da moeda é assustador. O fim do Estadual e Copa do Nordeste devolve o Santa Cruz para sua realidade amarga no cenário nacional - afundado na Série C. Nos últimos 12 anos, o Tricolor passou oito temporadas abaixo da segunda divisão. O que deveria ser uma exceção brutal e constrangedora hoje é tratado com normalidade. Até com resignação. Durante a maior parte do ano, o Santa disputa uma competição sem cotas de TV, sem premiação e de baixa visibilidade. 

Em colapso

O colapso do futebol de Pernambuco vai muito além. Principal clube do estado nas quatro últimas décadas, o Sport rasteja dentro de campo, caminhando para um Brasileiro sem perspectiva e beirando a implosão financeira. Sob constantes bloqueios e penhoras por dívidas de toda natureza, o clube dificilmente sairá da crise sem sacrificar parte do seu patrimônio físico. O que, aliás, já precisa ser estudado com frieza.  

Futuro abalado 

Mais ajustado financeiramente, o Náutico teve seu futuro próximo diretamente atingido. Perdeu a vaga na Copa do Nordeste de 2021 e, agora, só voltará a competição nos anos seguintes se for campeão estadual. Isto porque Pernambuco foi ultrapassado pelo Ceará no ranking da CBF pela primeira vez na história e, a partir de 2022, só terá duas vagas no regional. Uma para o clube de melhor ranking (que tende a ser do Sport por muitos anos ainda) e outra para o campeão. Até da Copa do Brasil, o Alvirrubro corre risco de não participar. Depende do seu desempenho na Série B e de uma composição enorme de resultados.