Rostov-On-Don — O segundo melhor ataque da história das Copas, com 222 gols — atrás apenas dos 224 da Alemanha —, vive uma crise sem precedentes. Os atacantes da Seleção Brasileira não marcam em partidas válidas pelo Mundial há impressionantes cinco jogos. O último integrante da comissão de frente a balançar a rede foi Fred, no Mané Garrincha, em Brasília, aos 3 minutos do segundo tempo da goleada por 4 x 1 sobre Camarões, pela terceira rodada da fase de grupos de 2014. Depois disso, apenas zagueiros e/ou meias balançaram a rede.
O país que amedrontava as defesas adversárias na Copa com atacantes lendários, como Careca, Romário, Bebeto e Ronaldo, amarga a maior carência de um “centroavante raiz” capaz de colocar a bola em baixo do braço e desatar nós como o da estreia de domingo, em Rostov. A partida contra a Suíça mostrou Neymar atuando off-line, Gabriel Jesus no modo avião — para não dizer no mundo da lua — e Roberto Firmino um pouquinho mais conectado com a realidade. Nenhum dos três foi capaz de levar o Brasil ao segundo gol contra a Suíça.
“A ansiedade bateu forte. Apressamos demais. Isso afetou a precisão da finalização. Quando a gente apressa demais, o último movimento fica impreciso. Nós fizemos 20 finalizações, mas um número muito grande para fora. Se estivéssemos um pouquinho mais concentrados mentalmente, poderíamos ter feito pelo menos o goleiro trabalhar mais”, lamentou Tite, triste, na entrevista coletiva após o empate por 1 x 1 com a Suíça.
Gabriel Jesus repete desempenho
Não é a primeira vez que Gabriel Jesus sente o peso da partida. Dono da camisa 9 nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o atacante não foi bem contra a África do Sul e demorou a entrar no ritmo da competição. Em 2014, Fred conviveu a Copa inteira com a comparação de que era um “cone” no ataque do Brasil. Gabriel Jesus precisa desencantar logo, de preferência contra a Costa Rica, para evitar situações como a vivida por Fred e a pressão de ser barrado por Firmino.
Repetitivo na entrevista coletiva, Tite falou mais de uma vez no capricho ao chutar a gol. “A finalização tem que ser mais precisa, mais contundente. Nós nos precipitamos demais”, cobrou. O drama de Tite não é um problema de hoje. Há quatro anos, Luiz Felipe Scolari disputou a fase de mata-mata inteira sem comemorar um gol de atacante. David Luiz marcou contra o Chile nas oitavas de final. Nas quartas, novamente David Luiz e Thiago Silva marcaram na vitória sobre a Colômbia. O meia Oscar fez o gol de honra no 7 x 1 contra a Alemanha. O time inteiro passou em branco contra a Holanda, na decisão do terceiro lugar. E Philippe Coutinho, outra vez um meia, marcou contra a Suíça.
De 2010 para cá, falta um Baixinho incômodo. Um Fenômeno que imponha respeito, cause pânico na defesa inimiga antes mesmo de a bola rolar. O respeito de um goleador. Algo parecido com a reverência de Roberto Baggio a Romário antes da entrada de Brasil e Itália em campo na final da Copa de 1994, exibida no filme Todos os Corações do Mundo.
Pênalti reclamado
Gabriel Jesus chegou a reclamar de um pênalti no fim do jogo que poderia ter encerradoo o jejum dos atacantes, mas o lance foi ignorado pelo árbitro. “Eu protegi, girei, a bola ficou limpa na frente do gol. Não tinha motivo para eu me jogar”, alegou na entrevista na zona mista. Como se não bastasse a falta de gols dos homens de frente, Neymar, o mais cotado para quebrar o tabu, passou mancando pelos jornalistas. “Foi uma pancada que eu tomei no jogo, mas não é nada preocupante. Dói depois que esfria”, explicou.
"A finalização tem que ser mais precisa, mais contundente, Nos precipitamos demais"
Tite, técnico da Seleção
Memória
O jejum de gols do ataque em Copas
» 28/6/2014 Brasil 1 x 1 Chile — Gol: David Luiz (zagueiro)
» 4/7/2014 Brasil 2 x 1 Colômbia — Gols: Thiago Silva (zagueiro) e David Luiz (zagueiro)
» 8/7/2014 Brasil 1 x 7 Alemanha — Gol: Oscar (meia)
» 12/7/2014 Brasil 0 x 3 Holanda — Gol: -
» 17/7/2018 Brasil 1 x 1 Suíça — Gol: Philippe Coutinho (meia)