PUNIÇÃO

Ferido com o castigo imposto a Suárez, Uruguai declara guerra à Fifa

Número de gols da Celeste despenca sem o maior artilheiro, que levou punição de nove jogos pela Copa do Mundo

postado em 28/06/2014 07:55

Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense

AFP PHOTO/Pablo BIELLI
 

Rio de Janeiro — O Uruguai pisará pela primeira vez no gramado do repaginado palco da conquista do bicampeonato mundial, em 1950, calçando um salto Luis 40 — número de gols de Suárez, maior artilheiro da história da seleção. Indignada com as suspensões de nove jogos e de quatro meses impostas ao atacante devido à mordida no ombro esquerdo do zagueiro italiano Chiellini, na última rodada do Grupo D, a Celeste promete vingar o ídolo nas oitavas de final, hoje, às 17h, no Maracanã, diante de dois adversários: a Colômbia e a Fifa.

Enojado com a decisão do Comitê Disciplinar, o técnico Óscar Tabárez quebrou o protocolo, ontem, na sala de conferências do Maracanã, e declarou guerra à entidade. Em vez de conceder entrevista, fez um pronunciamento de 16 minutos, com direito a renúncia ao cargo de membro do Grupo Estratégico da Fifa. O discurso terminou com uma mensagem ao xodó e ao povo uruguaio. “Nós conhecemos o Luis Suárez melhor do que qualquer pessoa. Ele vai reiniciar seu caminho e jamais estará sozinho. À torcida uruguaia, que também está comovida, digo que estamos feridos, mas com uma força incrível e muita rebeldia. Mais do que nunca, vamos que vamos”, disse, antes de ir embora da sala do Maracanã.

A partida de hoje é a centésima do Uruguai na Era Luis Suárez. O atacante estreou na seleção principal justamente contra a Colômbia, em 2007. Desde então, a Celeste disputou 99 jogos. Suárez estava em campo em 79. Com ele na comissão de frente, o time fez 144 gols — média de 1,82. Sem ele, o levantamento do Correio mostra que o número cai 26%. Tabárez não contou com o pupilo em 20 partidas, nas quais a equipe fez 27 gols (1,35).

Outra prova de que a ausência de Luis Suárez aumenta o risco de um Maracanazo às avessas diante da Colômbia é a fome de sucesso do recordista. Luis Suárez estreou com 20 anos e 14 dias. Hoje, aos 27 anos, tem 79 partidas e 40 gols, o suficiente para desbancar o veterano Diego Forlán do posto de maior artilheiro da história celeste.

Tão carente de um matador quanto Tabárez, o técnico da Colômbia, José Pékerman, tentou de todas as formas evitar comentários sobre o caso Suárez e lembrou que também não contará com seu principal jogador. “Nós também tivemos uma perda”, minimizou, referindo-se a Falcao García. O centroavante foi cortado às vésperas do início da Copa ao não se recuperar a tempo de uma cirurgia no joelho esquerdo. “Em primeiro lugar, sempre pensamos na equipe uruguaia como uma fortaleza, com bons jogadores, um técnico competente e um ciclo vitorioso nos últimos anos. Temos de manter a calma, seguir trabalhando e sabendo que, diante da gente, teremos um grande rival”, disse Pékerman.

A insistência das perguntas sobre o benefício de não enfrentar Suárez irritou o comandante da Colômbia a ponto de ele ignorar com classe os apertos da imprensa. “Sempre pensamos em preparar o time de acordo com suas necessidades. Continuamos respeitando muito o Uruguai, certamente será um rival duríssimo, e temos de estar preparados”, encerrou.


Análise da notícia
Efeito Maradona

O Uruguai está tão pilhado com o castigo da Fifa a Suárez quanto a Argentina, em 1994, quando Diego Maradona foi banido da Copa do Mundo ao testar positivo no exame antidoping. Na época, a expectativa era que os comandos de Alfio Basile se desdobrassem em nome da honra do camisa 10. Não deu. A Argentina acusou o golpe na partida seguinte e perdeu para a Bulgária, por 2 x 0. Esperava-se a recuperação nas oitavas de final, diante da Romênia, mas o grupo não se recuperou e deu adeus precocemente ao Mundial. Ontem, na sala de entrevistas do Maracanã, o treinador Óscar Tabárez evocou a velha garra charrúa, dos títulos olímpicos de 1924 e 1928 e do bi mundial em 1930 e 1950, mas o fato de deixar o time pilhado pode ter um efeito semelhante ao de Maradona há 20 anos. (MPL)


A falta que ele faz
» Com Luis Suárez
79 jogos
34 vitórias
27 empates
18 derrotas
144 gols marcados
40 de Luis Suárez

» Sem Luis Suárez
20 jogos
10 vitórias
4 empates
6 derrotas
27 gols marcados

Fãs atendidos, presidente no vácuo
Com a credencial cassada até mesmo para ficar no hotel com os colegas, Luis Suárez desembarcou no Uruguai por volta das 5h de ontem e seguiu direto para a casa da mãe, em Lagomar, cidade próxima a Montevidéu. Após passar a manhã recluso, o atacante foi à varanda para acenar a centenas de fãs que o aguardavam. O voo de Suárez no Aeroporto Internacional de Montevidéu chegou com seis horas de atraso e frustrou os torcedores que o aguardavam: um deles era o presidente uruguaio, José Mujica, que convidou o atleta para descansar na chácara presidencial.

Valcke manda Suárez se tratar...
O secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke, elogiou a decisão do Comitê Disciplinar da entidade no caso Suárez e mandou um recado ao jogador uruguaio. “Ele deveria encontrar uma forma de parar com isso, talvez um tratamento. A punição precisa ser exemplar. Sempre há alguém que acha a punição exagerada. Eu respeito, mas não foi um incidente. A agressão foi vista por centenas de milhares de pessoas. Eu não vou morder ninguém por causa de um mau trabalho”, ironizou o executivo, ontem, no Maracanã. O presidente da entidade, Joseph Blatter, não quis comentar a punição imposta ao atacante.

...Mas até Chiellini defende algoz
Vítima da mordida de Luis Suárez, o italiano Giorgio Chiellini publicou, ontem, em redes sociais, a opinião sobre a punição dada ao atacante do Uruguai. O zagueiro jurou não haver sentimento de raiva ou de vingança e disse acreditar que a suspensão de nove jogos, somada ao banimento por quatro meses, foi excessiva. “No momento, meu único pensamento é pelo Luis e por sua família, porque eles vão enfrentar um período complicado. Acredito que a fórmula proposta é excessiva”, escreveu. O italiano pediu que Suárez seja autorizado, ao menos, a assistir ao restante da competição com os colegas.


Ficha técnica


17h

Maracanã
Rio de Janeiro (RJ)

Transmissão
Band, Bandsports, ESPN Brasil, Fox Sports, Globo e SporTV

Copa do Mundo
Oitavas de final

COLÔMBIA (4-2-3-1)
Ospina; Zúñiga, Zapata, Yepes e Armero; Aguilar e Sánchez; Cuadrado, James Rodríguez e Ibarbo; Teo Gutiérrez
Técnico: José Pékerman

URUGUAI (4-4-2)
Muslera; Cáceres, Lugano, Godín e Álvaro Pereira; González, Arévalo, Lodeiro e Cristian Rodríguez; Forlán (Stuani) e Cavani
Técnico: Óscar Tabárez

Árbitro: Bjorn Kuipers (Holanda)
Auxiliares: Sander Roekel e Erwin Zeinstra (Holanda)