ECOS DO VEXAME

Empresários não acreditam em desvalorização dos jogadores brasileiros

Mas ressaltam pontos indispensáveis hoje, como 'disciplina tática de jogador de xadrez', habilidade e profissionalismo

postado em 10/07/2014 09:42 / atualizado em 10/07/2014 12:37

Lorrane Melo /Correio Braziliense

REUTERS/David Gray

O mercado da bola, que movimenta anualmente de R$ 455 bilhões a R$ 577 bilhões no mundo — sendo 2% desse valor no Brasil —, tem boa parte desse montante resultante da transferência de jogadores. Assim, resta a dúvida se o chocolate sofrido pela Seleção diante da Alemanha terá impacto na negociação de atletas.

Empresário de Neymar, Wagner Ribeiro responde com uma alfinetada no técnico do Brasil. “Essa derrota por 7 x 1 não muda nada. Nós exportamos jogadores, não exportamos técnicos. Os nossos jogadores continuam sendo os melhores do mundo”, afirma o empresário que usou as redes sociais para detonar o comandante da equipe amarela (veja reportagem na página ao lado).

O placar dilatado também não deve atrapalhar os negócios de Giuliano Bertolucci, agente com mais clientes entre os convocados por Felipão. Na lista, estão Paulinho, Oscar, Willian, Ramires, Jô, David Luiz. Por meio da assessoria de imprensa, o empresário explica que os jogadores são analisados pelo que exibem na Seleção e no próprio time. “É uma equação. O valor do atleta também depende da necessidade do clube que o quer contratar. É aí que se especifica o valor”, esclarece.

E basta olhar para Henrique, por exemplo, para comprovar a teoria. O zagueiro que virou homem de confiança de Felipão no Palmeiras e foi vendido por cerca de R$ 13 milhões para o Napoli, da Itália, acabou sendo a surpresa na lista da Copa. A convocação fez o valor do defensor subir, segundo o agente Marcos Malaquias. “Infelizmente, não ocorreu o que pensávamos. O Henrique atuou pouco e quando entrou foi firme e seguro. Futebol tem esses altos e baixos. Mas a maioria dos jogadores tem sucesso na Europa. Agora, é pensar no futuro…”

Os outros

Se o mercado para os atletas da Seleção Brasileira continuará consolidado a médio prazo — “ou ao menos até que as pessoas acordem e os tirem do berço esplêndido”, conforme diz um nervoso agente Eduardo Uram —, o mesmo não se pode dizer em relação aos jogadores que não envergam a amarelinha.

Uram comanda a empresa Brazil Soccer e “não faz a conta” de quantos atletas agencia, mas já cuidou da carreira dos laterais Daniel Alves e Maxwell. Ele afirma que da mesma maneira que a tecnologia, o futebol progrediu, e o Brasil esqueceu de evoluir em termos de tática e de jogador. O agente acredita que o desastre de 7 x 1 “não foi um fato isolado, mas uma consequência de toda a formação do futebol.”

Ele analisa a Copa do Mundo de uma maneira simples. Conclui, mesmo antes da final, que o Mundial serviu para mostrar um novo perfil de jogador: com força física brutal “de atleta na concepção da palavra” e “disciplina tática de jogador de xadrez”. Além disso, tem habilidade técnica e profissionalismo. Quesitos necessários e suficientes, jura o empresário.

“O jogador brasileiro que tiver isso e um comportamento digno jamais será desvalorizado independentemente da derrota. O que só quiser atuar com a bolinha no pé não vai ter espaço. Muitos têm isso, mas em geral não se pode falar”, lamenta, sugerindo que a tal mudança e reformulação do futebol nacional comece por um ponto específico: a formação dos atletas. “Os clubes, que são as células formadoras, precisam ter a compreensão de não aceitar mais as pessoas que não atendem a esses requisitos. Essa é a grande modificação”.