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Central Thaísa tira o favoritismo do Brasil: menos pressão é melhor

Segunda a jogadora, a mais experiente do atual elenco de José Roberto Guimarães, união será o diferencial para fazer um bom trabalho no Mundial do Japão

postado em 11/08/2018 20:38 / atualizado em 11/08/2018 20:38

Alexandre Arruda/CBV
 
Única remanescente da Seleção Brasileira campeã dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, Thaísa volta a vestir a camisa da equipe principal após se recuperar de lesões graves na cartilagem e no menisco do joelho esquerdo. Em Brasília para o amistoso contra os Estados Unidos, neste domingo (12/8), às 10h, no ginásio Nilson Nelson, a central de 1,96m falou ao Correio Braziliense sobre o momento que vive na carreira, a perda do favoritismo do Brasil bicampeão olímpico em competições internacionais e sobre a volta a uma equipe brasileira.

O time comandado pelo técnico José Roberto Guimarães jogará quatro amistosos contra as norte-americanas, atuais campeãs da Liga das Nações, no Brasil. Eles servirão como preparação para o Campeonato Mundial do Japão, entre 29 de setembro e 20 de outubro. “Nossa equipe, hoje, não é a favorita”, aponta Thaísa, sobre o principal desafio do time verde-amarelo na temporada. "Há vários times favoritos, e isso é bom porque tira uma certa pressão da Seleção Brasileira", completa. Depois de Brasília, a Seleção feminina atua em Belém, Uberaba, Rio de Janeiro e Manaus. Confira a entrevista:

Enquanto algumas jogadoras anunciaram a aposentadoria da Seleção Brasileira, você está comemorando o retorno após a lesão no joelho. O que te inspira?
Não imaginava retornar à Seleção. Eu queria voltar a jogar em alto nível, mas não sabia como meu corpo reagiria. Foi muito difícil todo o meu período de recuperação. Fico muito feliz com essa oportunidade de estar na Seleção novamente. Chego dando o meu máximo e treinando forte todos os dias. Estou evoluindo e quero muito ajudar o Brasil neste Mundial.

Como foi o seu retorno à Seleção na Copa Pan-Americana e a relação com as demais jogadoras?
Foi um processo importante e parte do que precisava passar para recuperar e atingir meus objetivos mais para frente. A relação com as meninas sempre foi ótima. Na Seleção, seja qual for o torneio, penso em ajudar ao máximo o que eu puder, dentro ou fora da quadra. 

Você já conquistou duas medalhas em Mundiais e, agora, vai em busca do ouro inédito. Qual a expectativa para esta edição?
As meninas têm uma energia absurda, uma torce pela outra, uma quer ajudar a outra. Nossa equipe, hoje, não é a favorita. Há vários times favoritos, e isso é bom porque tira uma certa pressão da Seleção Brasileira. Para o time do Brasil ganhar, tem de ser uma equipe unida no geral mesmo. Todo mundo está com essa consciência e só assim, que pode dar certo.
 

"Nossa equipe, hoje, não é a favorita. Há vários times favoritos, e isso é bom porque tira uma certa pressão da Seleção Brasileira"

 
Qual a importância dos amistosos no Brasil para a preparação para o Mundial no Japão?
Importância absurda. O time dos Estados Unidos tem um grande volume de jogo, de defesa, de ataque, é muito rápido, velocidade de jogo muito grande, é um time consistente. Isso vai forçar o nosso time a jogar em altíssimo nível o tempo todo. Ritmo completamente diferente do nosso. Essa exigência só faz a gente crescer porque as equipes lá fora estão cada vez mais rápidas, melhores, mais altas e mais jovens. 

E o que muda em ser em diferentes cidades do país?
É muito bom por conta da nossa torcida, de atrair cada vez mais o público brasileiro para perto da gente. Isso é bacana, receber energia boa, energia positiva.

Como avalia o desafio de renovação que a equipe brasileira está passando?
Todas as seleções passam por período de renovação, de jovens chegando e se adaptando ao ritmo de jogo das mais experientes. É natural e na nossa Seleção está sendo agora. Tem de ter paciência, muito foco e querer ajudar as meninas. A experiência chega com o tempo, jogando e passando pelas situações, com as vitórias e as derrotas. Assim, se molda um atleta de alto nível. Tem de ter um pouco de paciência. Acredito que começou muito bem e a tendência é melhorar.

Você é a única atleta da atual Seleção que foi campeã nas Olimpíadas de Pequim-2008. Como vê o seu papel na equipe hoje? 
Estar em 2008 é experiência, mas isso não quer dizer nada. A experiência é passada muito mais com exemplo, postura, determinação e em como você lida com as pessoas, da forma que você se dedica. Tento passar o meu exemplo, minha determinação e, nesta fase agora, o meu sofrimento, minha forma de não desistir. Estou curtindo cada situação, cada momento, cada bola, cada sorriso, cada ajuda das meninas, que também estão me ajudando muito. Agora são elas que estão do meu lado e me ajudando bastante. 

Apesar de toda a experiência, Thaísa conta com a ajuda da atual geração para brilhar
 

Sobre sua carreira antes da lesão: como avalia o seu período na Turquia? 
Eu estava indo superbem e, apesar de não jogar todos os jogos porque havia muitas estrangeiras, o técnico queria muito me deixar dentro da quadra. Lugar maravilhoso, time incrível, meninas ótimas. Não tenho do que reclamar. Antes da lesão, estava bem feliz. 

Você disse que seu retorno ao vôlei foi um milagre. Qual a parte mais difícil de todo o período do tratamento?
Com certeza, a parte mais difícil foi ficar os três meses sem tocar o pé no chão, com o brace no joelho e a perna esticada todo o tempo. Só tirava o brace para tomar banho. Aquela posição horrível para dormir, não poder tocar o pé no chão, de muleta, não podia sair de casa. Era sofá/cama e cama/sofá. Como atleta, sempre treinando ou fazendo algo, essa parte foi a mais complicada.
 

Estar em 2008 é experiência, mas isso não quer dizer nada. A experiência é passada muito mais com exemplo, postura, determinação e em como você lida com as pessoas, da forma que você se dedica.

 
Você renovou com o Hinode Barueri para a próxima temporada. O que pesou para você continuar no Brasil?
Depois de jogar na Turquia, onde tive uma grave lesão, voltei ao Brasil para aproveitar a estrutura do time que me abraçou — o Hinode Barueri —, a proximidade de amigos e parentes e o meu país. Recebi apoio de muitos, em especial o empenho do técnico Zé Roberto Guimarães para ajudar na minha recuperação. Eu me sinto mais segura perto dos meus médicos e fisioterapeutas para retornar à melhor forma possível. Foi uma excelente experiência jogar fora, em um campeonato muito forte, e conviver com outras nacionalidades e culturas. Mas senti muita falta da minha casa e da minha família. Sempre dei prioridade por jogar no Brasil mesmo tendo, por muitas vezes, oportunidade de ir para fora ganhando muito bem.