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Nascido e criado no Santa Cruz, Marcílio rememora glórias e fardos no clube coral

Ex-volante ajudou a levar o Tricolor à Primeira Divisão, em 1999, mas também fez parte da campanha que deixou a equipe na lanterna da Copa João Havelange, um ano depois

postado em 19/02/2013 08:00 / atualizado em 28/02/2013 09:03

Yuri de Lira /Diario de Pernambuco

Arquivo Pessoal
Quando a reportagem do Superesportes ligou para entrevistar Marcílio, as primeiras palavras proferidas pelo ex-volante remetiam-se a Deus. O diálogo inicial já poderia denunciar a que ele está se dedicando atualmente, depois de pendurar as chuteiras. Decidiu virar pastor em uma igreja evangélica no bairro onde mora, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Concilia as pregações, à noite, com a sua nova profissão. Um ofício, aliás, bem distinto do que fazia dentro de em campo. É gerente de uma empresa da área de segurança e tecnologia. Marcílio, porém, não esqueceu o futebol. Almeja até virar treinador. "Já cheguei a receber convites, mas sinto que ainda não estou preparado. Preciso estudar mais", diz. Não esqueceu o Santa Cruz, clube que torcia na infância e que, mais tarde, defendeu como jogador.

Nascido e criado no Santa Cruz
Natural de Camutanga, zona da mata de Pernambuco, Marcílio sempre foi apaixonado pelo Santa Cruz. Não demorou para quer fazer teste para jogar no time de coração. Em 1991, passou pela "peneira" e foi atuar no juvenil do Tricolor. Logo saiu das categorias de base. Quatro anos depois, já conquistou o seu primeiro campeonato pelo clube coral: o Pernambucano de 1995. Era reserva, mas lembra do feito com orgulho. "Até hoje todo mundo lembra desse título, daquele gol de Célio na final contra o Náutico. Fito Neves era o técnico e tínhamos uma equipe muito boa", recorda. Duas temporadas mais tarde, veio outra conquista: a Copa Verão da Cidade do Recife, em que Sport, Botafogo da Paraíba, Ceará e Fortaleza também participaram.

O acesso à Série A

Um dos momentos mais marcantes da história do Santa é a subida à Primeira Divisão, em 1999. No ano de aniversário de 85 do clube, após a contratação e a dispensa de alguns medalhões como Mancuso, Almandóz e Paulinho McLaren, basicamente os jogadores formados na casa tiveram a missão de evitar o rebaixamento para a Série C. Foram além. Aos trancos e barrancos, conseguiram se classificar entre os oito primeiros da Segundona na última rodada da primeira fase(em oitavo, diga-se de passagem), eliminaram o líder São Caetano no primeiro mata-mata e depois, ainda desacreditados, foram vice e ascederam em uma chave formada por Bahia, Vila Nova-GO e Goiás - o campeão da competição. "Foi um campeonato muito, muito difícil. Tínhamos um time até certo ponto limitado, mas com muita vontade de vencer", afirma Marcílio.

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O pesadelo da Copa João Havelange

Se no final de 99 deu tudo certo para os tricolores, o ano 2000 foi marcado por fracassos. O Santa Cruz perdeu o estadual para o Sport e foi o lanterna da Copa João Havelange, criada pelo Clube dos 13 para substituir o Brasileirão daquela temporada - já que a CBF estava impedida pela Justiça de organizar o campeonato nacional. Dessa maneira, não pôde haver rebaixamento. Sorte dos corais. "Foi uma época muito ruim para a gente. Os investimentos e as promessas não foram cumpridas pela diretoria, e o clube entrou em um período difícil, de crise, dentro e fora de campo", lamenta o ex-volante.

Alexandre Gondim/Arquivo DP/D.A.

A saída para o Náutico
Após o conturbado ano da Copa João Havelange, a diretoria do Santa Cruz resolveu não renovar o contrato de Marcílio, assim como a maioria dos atletas formados nas categorias de base. No entanto, o cabeça de área não ficou sem ter para onde ir. A pedidos do técnico Júlio Espinosa, recém-chegado aos Aflitos, foi para o Náutico. Figurou apenas no banco de reservas. Com a demissão do treinador e a chegada de Muricy Ramalho, que viria a ser campeão do Pernambucano de 2001, foi ainda mais escanteado. "Me emprestaram para o Ceará", fala.

Marcílio perde chance da vida

O volante saiu do Ceará e, em seguida, foi parar no Santo André, de São Paulo. Depois, o Botafogo da Paraíba o contratou. Lá, sofreu uma contratura muscular em uma partida contra o Campinense, pelo estadual. Veio na hora errada. Isso porque o jogador havia recebido uma proposta do Galatasaray, da Túrquia. Devido a contusão, a negociação andou para trás. "Perdi uma grande chance", sentencia. Na temporada seguinte, foi parar apenas no modesto Confiança, de Sergipe. Marcílio ainda voltou para Pernambuco, onde defendeu o Central e o Salgueiro, mas acabou a carreira no modesto Vitória da Conquista, do interior da Bahia, em 2009.

Os agradecimentos ao Tricolor
Marcílio diz que deve a boa parte de sua carreira de atleta ao Santa Cruz. Mesmo hoje, quatro anos depois de se aposentar, sente o carinho dos torcedores tricolores nas ruas. "Ainda colho os frutos daquele tempo. No meu trabalho, na igreja, a torcida me reconhece. Amo essa torcida. Sou e sempre serei tricolor doente. Foi onde realizei o sonho da minha infância", conta, emocionado.