Futebol Nacional

OPINIÃO

Coluna de Fred Figueiroa: 'O jogo eleitoral'

Colunista do Superesportes fala sobre jogadores opinarem sobre política

postado em 20/09/2018 09:23 / atualizado em 20/09/2018 09:41

Ricardo Moreira/Fotoarena/Estadão Conteúdo
No último domingo, o volante Felipe Melo dedicou o gol marcado no empate contra o Bahia ao candidato à presidência Jair Bolsonaro. Foi a primeira entrevista após o fim da partida, ainda dentro do gramado, vestindo o uniforme do Palmeiras. Era natural que a declaração gerasse uma enorme polêmica - indo além da questão de preferência política e eleitoral. Horas depois, o clube se posicionou de forma comedida, sem uma crítica direta ao seu jogador: A Sociedade Esportiva Palmeiras vem a público esclarecer que o posicionamento político do atleta Felipe Melo reflete, única e exclusivamente, uma manifestação particular, e não da instituição. O Palmeiras respeita qualquer posição política de seus atletas, empregados e colaboradores e ratifica a sua neutralidade nas questões políticas, partidárias, de crenças, religiões e quaisquer outras formas de manifestações pessoais.

Lugar e hora errados 

O trecho final do comunicado do Palmeiras está no tom correto. A liberdade de expressão deve ser sempre defendida. E Felipe Melo, como qualquer outro jogador, de esquerda ou direita, tem pleno direito de se posicionar politicamente. Porém existem momentos e ambientes adequados para isso. E, definitivamente, não é dentro de um estádio e com a camisa do seu clube. Ali é o seu lugar de trabalho e onde ele representa milhões de pessoas com visões absolutamente diferentes. E essas diferenças precisam ser respeitadas - o que não aconteceu. Felipe, inclusive - com a grande maioria dos jogadores dos maiores clubes do país - recebe um alto valor contratual pelo seu direito de imagem. Ou seja, naquele momento da entrevista, ele representa o Palmeiras. Por isso considero uma postura errada, antiprofissional e antiética. Se ele tivesse dedicado o gol ao seu candidato horas depois em um vídeo postado nas suas redes sociais, aí sim, não haveria qualquer problema. Como foi dito acima, um direito dele. Um direito nosso.

Para evitar uma onda 

A postura de Felipe Melo, entretanto, ligou um alerta no STJD. Mesmo sem haver no no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) um artigo que determine punição por manifestação política dos jogadores, a procuradoria do STJD estuda uma possível punição ao atleta, para evitar que se abra um precedente incontrolável. Uma das saídas jurídicas seria enquadrar Felipe no abrangente artigo 258 do CBJD - que prevê penalidade a condutas disciplinares ou antiéticas não esclarecidas no código: “Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código”, 

O caso Lucas Moura 

Existem outros dois casos recentes de apoio declarado à Bolsonaro que causaram polêmica no universo esportivo. O primeiro veio com o meia Lucas Moura, hoje no Tottenham. Ele fez uma defesa do seu candidato preferido em sua rede social e foi duramente criticado por parte dos seguidores, com a repercussão chegando à Inglaterra e gerando críticas até dos torcedores do seu clube ao tomarem conhecimento que se tratava de um candidato de linha ultraconservadora. O Tottenham inclusive entrou em cena para blindar Lucas e evitar um dano maior à sua imagem. Porém não há o que questioná-lo profissionalmente ou eticamente. Sua declaração não teve qualquer associação de imagem (além do inevitável, obviamente) com o Tottenham.

Já no vôlei... 

O terceiro caso - e na minha visão, o mais grave - aconteceu na Bulgária, onde a Seleção Brasileira disputa o Mundial de vôlei. Dois jogadores - Wallace e Maurício Souza - fizeram gestos com as mãos para formar o número 17 numa foto oficial feita pela assessoria de imprensa da CBV após uma vitória. A imagem foi postada nos perfis da Confederação e deletada depois de identificada a mensagem “oculta”. Existe aí uma série de erros éticos dos dois atletas. Primeiro, por se tratar de uma representação nacional. Estavam com a camisa, numa quadra, num torneio internacional. Ou seja, todas as críticas feitas à Felipe Melo se intensificam. Mas não para aí. Felipe foi no microfone e falou. Deu sua cara. Wallace e Maurício usaram gestos numa foto com seus companheiros que, certamente, nem perceberam que a imagem da vitória estava servindo de propaganda política. Considero um desrespeito ao próprio grupo em que eles estão inseridos, inclusive.